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Foto do escritorRiesa Editora

ACRÓSTICO 1


Capa Acróstico
Acróstico


A Musicista


Tudo o que você deseja está do outro lado da fronteira do medo.


Presley tinha lido isso em algum lugar, pichado em algum muro pelo qual tinha passado. Não que tivessem muitos muros pichados em Auckland, mas tinha passado por um, outro dia enquanto dirigia, e sua visão periférica tinha lido tal frase. Só tinha um problema: agora estava fazendo o mesmo caminho que fazia sempre, em direção ao centro da cidade. De alguma forma, tinha um muro pichado, mas não era esta frase que estava nele. Será que tinha lido dentro da sua mente?


O sinal abriu e ela pegou a imponente Harbour Bridge, a ponte que ligava North Shore City à cidade de Auckland. A ponte que passa por cima do complexo portuário de Waitematā, um dos principais da Nova Zelândia, e que nunca está tediosa. Os barcos indo e vindo o tempo todo, a ponte super alta, o mar brilhando lindamente e o skyline da cidade de Auckland acenando.


Presley sempre tinha sido uma apaixonada por beleza e design. Isso incluía todo e qualquer tipo de encanto: linhas, construções, funcionalidades. Amava a Nova Zelândia por conta das diversas formas de beleza que aquele país tinha a oferecer. Amava o mar sempre azul-cristalino, as praias e a arquitetura moderna. Também amava os vulcões e a natureza que podiam ser encontrados por onde quer que se olhasse.


Tudo o que você deseja está do outro lado da fronteira do medo, teria sido alguma voz interior? Presley costumava escrever. Escrita livre, criativa, não intencional. Costumava pegar papel e caneta em mãos e simplesmente começava a escrever, morning pages sem direção que, de repente, apenas diziam alguma coisa. Coisas que, às vezes, estavam escondidas na parte de trás de seu cérebro e que apenas a sua mente livre conseguia trazer à luz da claridade. Mas agora, não tinha mais tempo para isso. Tempo para morning pages, tempo para ler a parte oculta de seu cérebro. Mal tinha tempo para respirar, imagina para coisas tão neurais, quanto para ler a si mesma. Checou o relógio novamente, os óculos escuros, o cabelo longo, castanhos muito claros — quase loiros — e o que ela estava vestindo? Por Deus, quando tinha se tornado essa pessoa que sequer presta atenção no que está vestindo antes de sair?


— Sério? Agora você sai de casa de qualquer jeito, Presley? — Ela se checou rapidamente, estava de jeans, tênis, camiseta, e torceu por Deus para ter ao menos uma jaqueta em algum lugar daquele carro.

Saiu da ponte. Ok, como a ponte tinha passado tão rápido? Sua mente, sua mente estava uma bagunça só. Sua vida estava uma bagunça só. Tinha saído atrasada e, de repente, um pensamento mais preocupante do que não saber o que estava vestindo invadiu sua mente de uma vez só: será que tinha desligado o fogão antes de sair? Só faltava colocar fogo em sua casa! Bem, ao menos seria algum tipo de evento, um movimento diferente, o que fosse. Fez uma ligação.

— Leo, você pode checar se eu desliguei o fogão antes de sair?

— Presley, eu estou no trabalho, esqueceu?

— Sim, mas eu já passei da ponte. Você está mais perto de casa do que eu!

— Eu estou trabalhando, não consigo sair daqui agora, Pres. Liga para outra pessoa, liga para Aliana, se você acha que deixou mesmo.

— Eu não sei por que ainda ligo para você por qualquer coisa que seja — Presley apenas desligou e pegou o próximo retorno.


Acelerou para casa, correndo o máximo que conseguia em segurança, e desceu xingando assim que chegou, porque lá estava: fumaça escapando pelas janelas da sua cozinha.


— Mesmo?!


Mesmo. Correu para dentro, chegou na cozinha, a panela já estava derretendo, não dava para acreditar. O que estava acontecendo com a sua cabeça? E não deu tempo de fazer muita coisa, apenas abriu as janelas, tirou a panela para o quintal e correu para o carro porque, de repente, tinha se dado conta de que...


— Aika! — Respirou fundo, tinha deixado sua filha sozinha dentro do carro.


Presley voltou correndo para sua SUV, um Volvo X30 em cinza vaporado, afinal, a beleza sempre realmente importava para ela. Soltou o ar pela boca porque sua filhinha, incrivelmente, ainda estava dentro do carro. Ela não tinha tentado escapar da cadeirinha, porque, sim, Aika tentava e geralmente escapava, mas naquele momento, parecia distraída com algo dentro da própria cabeça e apenas dirigiu um olharzinho para Presley, parecendo surpresa pela correria esbaforida de sua mãe.


— É que... Tudo em ordem, filhinha — Presley sorriu para ela e só... viu aquele sorriso lindo se abrindo de volta. O sorriso lindo, de dentinhos pequenos, os olhos puxados, empolgados com algo. Esse algo que estava dentro da cabeça dela, porque Aika era sua filha e tinha herdado parte das particularidades de Presley. Junto com o sorriso e com uma breve explicação do que estava a fazendo feliz, veio a risada mais contagiante do mundo.


E apenas aquela risada... Já fazia com que Presley se sentisse melhor.


Estava cansada, correndo, irritada com o que tinha acabado de acontecer, afundada com todos os problemas que tinha em casa, mas Aika existia e o mundo era melhor apenas por causa disso. A franjinha irregular emoldurando o rosto, os olhinhos de jabuticaba puxados e bem-marcados; as expressões faciais eram todas de Presley, não tinha nada do pai. Era como se a tivesse feito sozinha, com uma grande preocupação com design, beleza e fofura sedutora, porque sinceramente, era irresistível demais aquela sua menina. Os cabelos presos num rabo de cavalo, a franjinha caindo sobre os olhos, os tênis nos pezinhos minúsculos, a minicalça jeans, camiseta listrada – adorável, adorável, adorável.


Presley era louca de deixá-la sozinha em qualquer lugar. Além de ser fugitiva, sua filha seria facilmente roubada, só por quão adorável era. Porque assim, quando descobrissem o comportamento, provavelmente ela seria devolvida, apenas um detalhe.


— Você sabe que eu sempre vou estar aqui por você, não sabe? — Ela sorriu mais bonito ainda, como se compreendesse — Eu sempre vou estar aqui por você — Disse, mais para si mesma do que para ela, fazendo um carinho naquele rosto lindo. Havia dias difíceis; aquele parecia particularmente desafiador. No entanto, ao mesmo tempo, não havia nada que amar Aika não curasse — Meu amor, mamãe vai correr, está bem? Agora estamos mais atrasadas do que nunca.


Ela apenas riu, do alto dos seus três anos. Correr parecia uma ótima ideia, provavelmente.


Presley voltou a dirigir, agora apenas focada em seu caminho, em ir mais rápido. Colocou os óculos escuros sobre seus olhos puxados mais uma vez e apenas acelerou pelo trajeto todo. Correu pelo seu bairro, um ótimo bairro familiar cheio de casas com jardim e quintal. Mantinha a atenção na estrada, mas também mantinha um olho em sua filha. Pegaram a ponte mais uma vez e os olhos dela sempre eram atraídos pelo mar, pela cor, pela praia, pelos barcos ancorados no porto. Aika era fascinada por aquela ponte, ficava animada só de saber que iam passar por ela, os dedinhos se enrolando uns pelos outros em empolgação, os olhos crescendo diante do azul do mar. Sim, sua vida era bem diferente do que Presley tinha sonhado para si mesma, mas tudo valia a pena por Aika.


Tudo o que você deseja está do outro lado da fronteira do medo.


Desceram da ponte, e a Sky Tower, o ponto arquitetônico mais alto da Nova Zelândia, acenou para elas. Com suas linhas únicas, esguias, a abóbada circundando a torre, o pináculo subindo e subindo, apontando para o céu. Nunca se cansava daquela visão, nunca, nunca.


Foram em direção à Sky Tower, em direção ao centro comercial da cidade. Não, Auckland não era a capital do país, mas era a maior cidade e o centro financeiro daquela nação. As ruas amplas eram perfeitas para dirigir, os prédios altos e bem-organizados. Era algo tranquilo. Era um centro que não costumava engarrafar; sempre existia aquela sensação de ser facilmente trafegável, coisa que não exatamente existia em sua cidade de nascimento. Agradecia todos os dias por seus pais terem escolhido Auckland para morar quando ainda era criança.


Uma rua após outra, ela podia fazer aquele caminho de olhos fechados e finalmente, seu destino chegou.


Entrou no estacionamento e precisava admitir que tinha preconceito com pessoas que não sabiam estacionar muito bem. Sério? Sério! Tinha um Jimny 4Work verde-escuro com uma prancha de surfe presa no alto, estacionado dentro das linhas da única vaga disponível. Dane-se, teria que ser lá mesmo. Presley fez uma meia-volta e entrou de ré na vaga, muito apertado, muito justo, indo centímetro a centímetro até seu Volvo caber. Pronto, coube. Tinha travado a porta do motorista do lado? Tinha! Ele que aguardasse e aprendesse a estacionar da próxima vez. Presley tirou sua menina da cadeirinha e a retirou pela sua porta, a única que dava para sair. Achou uma jaqueta de couro preta, vestiu e tomou uma longa respiração.


Estava no Hospital Infantil Sancta Marjorie. E não haveria dia em que entraria naquele lugar e não sentiria seu coração retorcer um pouco por dentro.


Aika tinha nascido naquele hospital, no dia mais feliz de toda a sua vida. Mas fora naquele mesmo hospital que Presley tinha recebido as duas notícias mais devastadoras da sua vida também. Tinha sido naquele mesmo hospital que ela se sentiu tão frágil, tão medrosa. Fora naquele mesmo hospital que buscou uma mão, um ombro para se apoiar, mas não tendo nenhum, acabou chorando sozinha em um canto até que uma estranha tinha notado e lhe dado algo para se acalmar. Foi naquele hospital que ela se sentiu terrivelmente sozinha e, ao mesmo tempo, compreendeu que jamais estaria sozinha de novo. Não, não importava o quão difícil fosse, Aika sempre estaria consigo. Sempre seriam elas duas e, assim sendo, não havia o que não pudessem superar juntas.


Foi arrancada de seus pensamentos, sua filha estava apontando e apontando.


— Ah, isso? É uma prancha de surfe — Aika estava apontando para a prancha no alto do Jimny — É para usar no mar — Ela riu, sabia que era para usar no mar, jogou as mãozinhas para o alto, querendo tocar, e Presley a colocou no seu ombro, permitindo que ela alcançasse. Aika gostava de sentir tudo, adorava texturas — Suficiente? Deu para tocar? Agora temos que ir, mocinha, estamos mais do que atrasadas!


Correram para dentro, sua filha aos risos, porque estavam literalmente correndo de fato. Mas, ao entrarem no hospital, ela pediu para descer, passando a arrastar Presley pela mão. Sabia muito bem para onde ela queria ir, era para a brinquedoteca escadas acima, sempre tão cheia de crianças. Sua filha era uma borboletinha social, sempre tentava fazer novos amigos, ainda que isso fosse particularmente desafiador para ela. No entanto, estavam realmente atrasadas naquele dia. Presley explicou isso a ela, prometendo que iriam depois. Mas Aika não pareceu nada feliz com isso, reclamou e reclamou, se recusou a andar, e Presley teve que se abaixar e falar sério com ela. Pronto, ela pareceu entender. Seguiram correndo para a pediatria e, assim que Presley entrou na sala, o nome de sua filha foi chamado.


— Aika Park-Harris.

— Aqui, estamos aqui — Presley chegou, correndo, ofegante e abrindo o seu melhor sorriso possível — Me desculpe.

— Desta vez nem está atrasada, Presley — A atendente lhe ofereceu um sorriso de volta — Como você está, Aika? Hein?! — Ela sorriu para Aika também, que se escondeu no pescoço de Presley, sorrindo demais — Tão linda, como pode? Vamos lá, podem passar pela triagem, por favor.


Presley trocou outro sorriso com a atendente e passou na triagem, testes básicos que Aika já estava mais do que acostumada. Então, passou com ela para o consultório da médica. Doutora Neho, Nana Neho, maori, dos povos originários da Nova Zelândia, tão poucos na história atual. Pele indígena, olhos indígenas, cabelos encaracolados, tons de amêndoa abraçada pelo sol por ela inteira. Essa pessoa tinha sido aquela que tinha tirado Presley do chão em seu pior momento e por isso, a considerava mais do que a pediatra de Aika, Nana era sua amiga.


Entrou e trocaram um abraço antes de qualquer coisa. Iniciaram a consulta. Era uma consulta de rotina; Nana avaliou os exames mais recentes de Aika, checou os dados da triagem, enquanto a pequena andava de um lado a outro do consultório, observando todas as coisas.


— Ela parece ótima, Presley. O peso está em ordem, o crescimento em ordem, os exames estão ótimos.

— Eu sei, acho que nunca vi minha filha tão saudável assim. O que me preocupa é outra coisa, ela... ela não para quieta, está vendo? — Nana riu.

— Ela tem três anos, Presley. Sua menina precisa gastar energia! Me diz, ela só anda indo para a escola, não é? Ela precisa de alguma atividade extra.

— Você me disse isso da outra vez, mas eu ainda não consegui encontrar alguma coisa que... bem, eu não quero usar nenhum termo inadequado aqui.

— Presley, você não é como a maioria das mães, você geralmente faz o contrário, empurra a Aika para atividades, deixa claro que a condição dela não é um impedimento. Mas eu acho que sei o que anda atrapalhando agora, é um evento novo. Você voltou a trabalhar, não voltou?

— Tem pouco mais de um mês e já acho que vou enlouquecer. Eu não sei como vou fazer funcionar, Nana. Um mês e pouquinho e eu já estou pedindo licença para poder trazer a Aika aqui. Eu sinceramente...


Nana tocou a mão dela sobre a mesa por um instante.


— Não surte, não vamos surtar, ok? Escuta, lembra que eu te disse que tem uma terapeuta aqui que eu queria te apresentar? Ela dá aulas em um projeto que...


Presley tinha erguido a mão, pedindo calma.


— O quê?

— A Aika saiu daqui.

— Mas como que...?


Ela tinha saído.


De alguma maneira, tinha aberto a porta e escapado do consultório, e foi uma bela de uma correria. Presley correu para um lado, Nana para o outro, um esquadrão de mães e enfermeiras, todas atrás da pequena coreana que tinha desaparecido.


— É neozelandesa!

— É mais fácil dizer que tem uma coreana perdida, não concorda?


E Presley se deu conta.


— Ela foi para a brinquedoteca.

— Mas é em outro bloco!

— Ela foi, eu conheço a minha filha, ela é capaz, Aika é plenamente capaz!


Presley correu para o outro bloco, que tinha um jardim no meio, uma ruazinha que precisava ser atravessada mesmo dentro do hospital e só sabia, ela tinha atravessado, conhecia sua filha o suficiente para saber que tinha. Entrou no bloco, subiu dois lances de escada porque o elevador estava demorando e, lá estava! Sua Aika na enorme brinquedoteca, já lotada de crianças e, nos braços de alguém.


Presley estava correndo igual uma louca, mas se deteve quando a viu. Aika e a estranha. Se deteve, respirando fundo, se recompondo um pouco ao se aproximar. Ela estava rindo, movendo as mãozinhas nos braços de alguém, que usava um vestidinho curto, preto, sem alças, saltos nos pés, os longos cabelos escuros presos num rabo de cavalo baixo, elegante, e uma case enorme de violão nas costas com uma bolsa esportiva na mão livre. Uma vez que com a outra, ela segurava Aika em seu colo.


Hum! Ela não fazia sentido. O vestido airoso, o violão e a bolsa esportiva.


— Oi, com licença... — Presley a tocou para que ela virasse de frente e, seu coração deu uma fisgadinha esquisita no peito. Oww, ela era bonita, bonita pra caramba! Um absurdo de bonita! Ângulos bem ressaltados, linhas visuais bem-marcadas, pálpebras duplas, lábios em formato de coração... Por que estava olhando para boca dela? Presley acordou, costumava dormir estando acordada, navegando pelos próprios pensamentos. E, coreana — Carma — Disse, só escapou da sua boca, e a moça riu. Apenas abriu o sorriso mais alinhado e deslumbrante possível, e que design.


Que design ela era por inteira.


— O quê?

— O quê?

— Você me chamou de carma! — Ela seguia sorrindo.

— Eu... eu não chamei, não. Você ouviu errado.

— Claro que... — Ela sorriu de novo — Ok.

— Você está com a minha filha.

— Ah, ela é sua! Ela agarrou na minha faixa enquanto eu estava entrando.

— Na sua faixa? — Olhou para a bolsa esportiva, tinha uma roxa escapando dali.

— Ela agarrou, deve ter achado bonita, daí eu notei que era um exemplar de criança que estava sem a mãe e segurei, porque a mãe iria chegar em algum momento, eu tinha certeza. Qual o nome dela?

— É... Aika.

— Que nome mais lindo você tem! — Disse, falando com Aika que apenas riu e riu para ela — Ok, eu estou atrasada mesmo, você pode segurar a criança de volta e... — Passou a pequena para Presley e, o case do seu violão também, pendurou no ombro dela — Você segura o meu violão, eu só preciso me trocar e já começamos aqui, ela veio para a sessão, não?

— Sessão? Ela, nós...

— Cinco minutinhos, juro que valerá a pena, ela parece agitada, prometo que irá se acalmar.


E sem dar tempo para mais contestações, ela desapareceu pela porta. Ok, aquilo tinha sido intenso, tão intenso que Presley ficou meio atordoada por alguns segundos até Nana a alcançar.


— Não, ela estava realmente aqui!

— Estava e nos braços de uma estranha. Aika! — Presley se abaixou, colocando-a no chão para poder falar com ela — Como você pôde fazer isso comigo? Você não pode escapar assim!

— Ela estava com a Hanni?

— Hanni?

— A dona dessa case que você está segurando. É para ela que eu queria te apresentar.

— Ah, a terapeuta?

A musicista. Ela me mata se souber que eu a chamei de terapeuta. Eu vou atender minha próxima paciente, e você volta pra gente terminar a consulta, está bem?


Nana voltou para o seu bloco e outra pessoa se aproximou de Presley. De tênis, calça larga preta, camiseta branca oversize por cima, os cabelos soltos, óculos de grau redondinhos. Outra pessoa, absolutamente outra pessoa. Mas com o mesmo sorriso, com a mesma beleza. Ela era bonita, não importava a versão.


— Aqui, muito obrigada — Pegou o violão de volta — Meu nome é Manu, eu esqueci de me apresentar.

— Manu?

— Isso, e você é...?

— Presley — Tocou a mão dela, que estava estendida — Nana me disse que você se chamava Hanni.

— Hanni é meu nome coreano e Manu é meu nome ocidental. Você pode escolher como me chamar. Pronta, Aika? — Ela falou com a criança, que imediatamente se agarrou à sua mão, com o maior sorriso do mundo aberto.

— Ela... gostou de você.

— Ela se agarrou em mim. Gostar é uma emoção mais fraca do que essa! Eu cuido dela, está bem?

— Hanni, é que...

— Não se preocupa — E apertou a mão de Presley, de uma maneira... diferente.


Não sabia dizer o que tinha de diferente naquele aperto de dedos, mas deixou que aquela estranha levasse sua filha de qualquer maneira.


Presley foi se sentar com as outras mães e observar aquela mulher com um ímã para crianças trabalhar. As crianças correram para ela imediatamente, ouvindo e conversando com ela. Eram umas vinte crianças, e Hanni estava conseguindo dar atenção para todas. Sentou-se com elas, tendo Aika sempre ao seu lado, então, começou a tocar o seu violão e a cantar em um idioma totalmente inesperado.


Gosto muito de te ver, leãozinho! Caminhando sob o sol... Gosto muito de você, leãozinho! — Ela começou a cantar, e Aika, que estava ao lado dela, de repente mudou de lugar. Se levantou, deu alguns passinhos rápidos e se sentou de frente para Hanni, recostando-se na parede, os olhos vidrados nela — Para desentristecer, leãozinho! O meu coração tão só... Basta eu encontrar você no caminho... — E quando cantou esses versos, a pequena apenas se arrastou um pouquinho para frente. Hanni abriu um sorriso ao notar e seguiu tocando, dedilhando as notas pelas cordas, batucando com o dedão no instrumento, acompanhando a melodia — Um filhote de leão, raio da manhã... Arrastando o meu olhar como um ímã... — Outro sorriso largo da musicista, porque Aika tinha se arrastado mais um pouquinho para perto dela, quase discretamente. Ela avançava e se sentava de novo, sem tirar os olhos de cima de Hanni — O meu coração é o sol, pai de toda a cor... Quando ele lhe doura a pele ao léu... — E Hanni riu muito, porque lá vinha ela novamente, os olhinhos compenetrados, se arrastando um tanto mais para perto. Agora podia tocá-la se esticasse o braço — Gosto de te ver ao sol, leãozinho, de te ver entrar no mar! Tua pele, tua luz, tua juba... — Um pouquinho mais perto, agora Hanni se inclinou para frente, aproximando seus olhos dos olhos dela, enquanto cantava, fazendo-a sorrir demais. Seus olhos brilhavam, mas o que estava acontecendo? Presley estava vendo, mas não estava entendendo. Ela abriu um sorriso e se aproximou um pouco mais também, para observar melhor — Gosto de ficar ao sol, leãozinho! De molhar minha juba! De estar perto de você e entrar numa! — Hanni levantou o violão e Aika entendeu de imediato. Ela correu para o colo dela, que pousou o violão novamente na frente do corpinho de Aika, continuando a tocar. Ela seguia o dedilhar pelas cordas, batucando com o dedão, enquanto os olhos da pequena seguiam encantados. As mãozinhas de Aika estavam no instrumento, curiosa e confortável, com toda a atenção do mundo no violão — Gosto muito de te ver, leãozinho! Caminhando sob o sol! Gosto muito de você, leãozinho!


E aquela atmosfera criada era impressionante. Presley conseguia identificar pacientes internos e externos, pequenos lutando contra doenças graves, mas que não perdiam a capacidade de sorrir, brincar e se divertir. A musicista seguiu tocando, uma música atrás da outra, com Aika em seu colo ou agarrada em sua mão quando se levantaram. Hanni interagia com as outras crianças quando uma música mais agitada foi tocada, quando um jogo musical foi proposto.


O coração de Presley se derreteu por completo ao perceber sua filha participando de tudo, de cada atividade, encantada com tudo o que via, tudo o que era proposto, encantada com... Hanni. Ok, ela estava encantada pela musicista mesmo, aqueles olhinhos brilhando não podiam ser negados. Sua filha era uma bebê da Tasmânia? Um filhote de casuar? Era sim! Mas Aika era também o amor da vida de sua mãe, era a detentora dos seus melhores sentimentos e assistir sua filha se divertindo naquela uma hora, fez Presley esquecer de todos os problemas.


Da panela que quase explodiu, da casa cheia de fumaça, da última briga com Leo na noite passada. E Hanni era bonita mesmo. E era ótima com aquelas crianças.


Pronto, aquela hora tinha chegado ao final e após distribuir sua atenção pelas vinte crianças, agora Hanni estava direcionando sua atenção para as vinte mães das crianças e, aparentemente, ela também era boa com as mães. Todas pareciam encantadas por ela, assim como as crianças. Presley foi até lá resgatar sua filha e, Hanni a segurou pelo cotovelo suavemente. Que toque delicado. Ela era claramente coreana, mas tinha um tom de pele mais dourado, com um aspecto exótico para sua etnia, parecendo ter sido beijada pelo sol. Hanni parecia ter saído diretamente de alguma ilha polinésia, e sua presença continuava a não fazer sentido. Ela tinha cantado em português?


— Ei, acho que ela curtiu a sessão, não curtiu? — Ela perguntou sorrindo.

— Eu acho que sim, ela pareceu tão feliz! Eu nem faço ideia de como ou por quê. Ainda não entendo por que esse tipo de coisa chama tanto a atenção dela, mas ela se divertiu demais.


E Hanni a olhou quase ofendida.


— Ah! Não, não foi por sua causa, ela adorou você! Mas é que a Aika é surda.

— Uh! Tipo...?

— Totalmente, ela não escuta nada. Mas de alguma maneira, você e o seu violão conseguiram a atenção dela.

— Eu... Eu não fazia ideia. Ela não falou, mas achei que só fosse timidez. Ela pareceu entender tudo o que eu disse.

— Ela provavelmente entendeu, consegue ler lábios, sabe língua de sinais e compreende as pessoas até pela movimentação física, ela faz esse tipo de leitura muito bem. E Aika é tudo, menos tímida. Aqui, minha amiga acabou de perguntar sobre ela — Mostrou a última mensagem que tinha recebido e Hanni gargalhou.

— A Taz-Mania...? Tipo, aquele demônio da Tasmânia do desenho?

— A minha criança. Ela mesma. Ela escapou do bloco dois e veio parar aqui com você. Eu juro, um segundo de desatenção e ela escapou de mim.

— Ela...? Aika! — Hanni a pegou no colo — Não pode escapar da sua mãe assim — Ela apenas gargalhou, colocando as mãozinhas no rosto de Hanni — Ela foi para minha frente enquanto eu estava tocando, e agora eu estou entendendo o porquê. O som se propaga para frente; tem muitas maneiras de se ouvir uma música.

— Você acha que... ela estava... ouvindo?

— Eu diria sentindo, o que é muito legal também — Ela colocou Aika no chão por um instante e pegou o violão de volta, chegou muito perto de Presley e tirou algumas notas — Sentiu?

— Isso... Ok, dá para sentir mesmo.

— Nela, as sensações devem ser muito mais apuradas do que em mim e em você. E se eu colocar o violão aqui... — De repente, ela apenas passou para as costas de Presley e cruzou o violão na sua frente, tirou mais algumas notas — Você consegue sentir?


Presley respirou fundo. Conseguia sentir o perfume dela, o calor da pele, a aproximação. Engoliu em seco, seu coração tinha ficado nervoso.


— Consigo.


Então, ela tirou o violão e colocou de lado novamente.


— Temos muitos sentidos que podem substituir outros sentidos de alguma maneira. Quando você olha para algo de comer, por exemplo, seu cérebro sabe que gosto tem mesmo antes do paladar ser ativado. Os morcegos são cegos, mas têm radares sensoriais que permitem que eles “enxerguem” sem necessariamente ver. Tem um estudo dos anos 80, onde se vendava pessoas e dirigiam aleatoriamente com elas pela cidade, então deixavam com que elas voltassem para casa ainda vendadas. Nós temos radares sensoriais também, mas que vão perdendo potência por desuso. Ela pode ouvir, mas de maneira diferente das nossas.


Adorável.


— Você está certa, nós nos adaptamos, os olhos se adaptam ao escuro, o paladar se ajusta na visão, o corpo retém memória muscular, eu nunca tinha parado para pensar nas coisas dessa forma. Ela anda muito agitada, preciso colocá-la para fazer alguma coisa, mas juro que não faço ideia do que possa ser. Ela estuda à tarde, eu trabalho à tarde, e pela manhã, é aquela pressa, coisas de casa para resolver, refeições, enfim, é uma correria.

— E à noite?

— À noite?

— Sim. Vocês se ocupam à noite, tipo, umas sete da noite?

— Ah, à noite... não, não fazemos muita coisa. Mas que tipo de atividade teria para crianças à noite?

— Eu dou aulas de jiu-jitsu brasileiro numa academia aqui no centro mesmo, fica a umas três ruas para baixo. É uma turma mista, com adultos e crianças.

— Mas são crianças da idade dela?

— Temos algumas crianças da idade dela. E outras mais velhas. Você sabe o que jiu-jitsu é...?


Presley abriu um sorriso. Adorável. Os olhos quase se fechando no movimento, o sorriso bonito se abrindo. Ela tinha um sorriso lindo também.


— Não faço ideia, mas imagino que seja algo com faixas.

— É algo com faixas — Hanni respondeu sorrindo — É uma arte marcial de pouco impacto, que exige muito mental e se exige mental, exige calma, ampla atenção. Bem, você está livre pelas próximas horas?


Presley pensou em sua lista de ocupações daquela noite: limpar a cozinha, fazer o jantar, sentar-se na frente da TV até que Leo chegasse do trabalho, para provavelmente discutirem de novo ou, pior, para não discutirem nada, para ficarem no maior silêncio possível. Se Hanni soubesse o quanto Presley era desocupada de coisas interessantes, mas enfim, ELA NÃO PRECISAVA SABER.


— Eu acho que consigo um tempo livre sim, ao menos umas duas horinhas.

— Ah, é suficiente! Por que você não vem comigo? Podemos fazer uma aula experimental, se ela curtir, eu iria adorar ser instrutora do Furacão Katrina. Você é um furacão? — Pegou Aika no colo outra vez, a jogando para o alto, a fazendo rir — Você é! — Então, mantendo a linha dos olhos dela bem diante da sua boca: — Meu nome é Hanni.


E ela sinalizou algo com as mãozinhas.


— H A N N I — Presley sinalizou, letra a letra, e seguiu sinalizando — Hanni está nos convidando para outra aula, filha, mas de J I U - J I T S U — Sinalizou letra a letra novamente, porque não fazia ideia de que sinal usar para jiu-jitsu, e Aika cresceu os olhos, os dedinhos sinalizando também, mas nem precisou de tradução.

— Ela quer ir, está vendo? — Hanni comentou.

— Como você sabe?

— Linguagem dos olhos brilhando de ansiedade boa! O que ela está dizendo agora...? — Os dedinhos se movendo no ar eram a coisa mais linda.

— Que o nome dela é Aika e ela tem três anos, e que — Presley sorriu, sinalizou para Aika, ela riu.

— O quê?

— Ela disse que você é muito bonita.


Sorriso enorme de Hanni.


— Como eu digo que ela é muito bonita também? Tão bonita que parece minha filha!

— Ah, mas você é convencida!

— Ela que disse! — Hanni estava se divertindo, nada parecia muito sério para ela — Vai, como eu digo que ela é muito bonita?

Você — Foi sinalizando palavra a palavra — Muito — Outro sinal — Bonita.


Hanni a colocou no chão, se abaixou na altura dela e sinalizou, como Presley tinha feito, e ela abriu aquele sorriso lindo, fechando os olhinhos puxados no sorriso.


— Presley, ela é muito linda! — A pegou no colo de novo, levantando-se com ela, a apertando demais enquanto Aika gargalhava — Ok, você vai?

— Vou, eu só preciso retornar para finalizar a consulta de onde ela fugiu.

— É o tempo que termino aqui, com as mães.


Presley deu uma olhadinha, ainda tinha umas sete mães esperando por ela.


— Elas devem me odiar por estar te atrasando.

— Me dê o seu número.

— Oi?

— O seu celular, caso a gente se desencontre.


Há quanto tempo ninguém pedia o seu número...? Ah! Há seis anos, desde quando conheceu Leo. Mas não era para isso que ela estava pedindo seu número. Uma mulher bonita como aquela, jamais se interessaria por Presley, a dona de casa. Enfim, dormiu acordada de novo.


— Ah, sim — Pegou o celular que ela apontava na sua direção, colocou seu número e devolveu para Hanni — Nos encontramos onde?

— No estacionamento, em uma hora. Está bom para você?

— Está ótimo. É você ligando? — Presley sentiu seu celular vibrando.

— Sou eu. Não colocou nenhum emoji...?

— O quê?

— No seu contato. Eu coloco por você.


E Presley riu.


— Que emoji eu vou ganhar?

— Segredo, mas qualquer noite te conto.

— Noite?

— Depois da meia-noite. Ok! Vou lá, te espero em uma hora.


Outro sorriso de Presley. Não lembrava quanto tempo fazia que não dava tantos sorrisos genuínos e seguidos um do outro.


— Uma hora, ok.


E assim, levando a pequena Aika pela mão, Presley caminhou para a porta, com passos firmes, usando um jeans justo, em um corpo tão cheio de curvas que, sinceramente, Hanni só... Mordeu o lábio inferior por um instante.


Que delícia de mãe.


— Ela é casada — Alguém disse no seu ouvido. Olhou para trás; era Mila, a terapeuta ocupacional que acompanhava.

— Ela deve ser, o que tem?

— Eu ouvi o que você disse, Manu!

Uh... Eu disse em voz alta?


Mila riu.


— Disse! Murmurando, mas disse.

— Hum, ela segue uma delícia, mesmo sendo casada.

— Você estava flertando!

— Não estava, não. Eu só gostei da criança — respondeu, colocando um emoji ao lado do nome dela. Ficou assim: Presley 🥵.

— Sei, entendo.

— É sério!

— Claro que deve ser. Eu vi como a criança grudou em você de imediato. Sabe o que eu acho que a Aika gostou?

— O quê?

— Você a tratou como uma criança qualquer, coisa que ela é, mas as pessoas não conseguem ver assim, por ela ter uma deficiência.

— Você conhece as duas?

— Aika está neste hospital desde quando nasceu, literalmente. Ainda não tinha casado de você estar aqui num momento que ela estivesse, mas é uma daquelas crianças que a gente não esquece. Ela é esperta, hiperativa, inteligente demais; é poliglota, entende inglês, língua de sinais e coreano; é boa com números, com lógica, e Presley é aquele tipo de mãe que quer o mundo para filha e a filha para o mundo. Ela é jovem, sei que anda esquecida de que é jovem; ela foi mãe muito jovem, aos vinte e três. Você sabe, essas mães trazem as crianças para a terapia, mas a gente acaba fazendo terapia com as mães também. Inclusive, aquelas ali querem a sua atenção.


— Pode deixar, vou cuidar das mães agora — Abriu um sorriso e foi lá.

 

Presley finalizou a consulta que só tinham começado com Nana. Realmente, tudo estava em ordem com sua La Niña (La Niña, o fenômeno atmosférico que causa o caos no mundo). Aika estava saudável e agora estava feliz. Empolgada, contou para Nana, sinalizando muito rapidamente que iria ter uma aula em outro lugar com Hanni. Ela sinalizou, mesmo sem saber o que jiu-jitsu significava. Ela achou o nome engraçado.


— Era isso que eu tinha em mente quando queria te apresentar a Hanni, esse projeto que ela tem. Ela é musicista aqui, trabalha como voluntária e dá aulas de jiu-jitsu também como voluntária. Hanni é muitas coisas. Eu acho que essa experiência pode ser ótima para acalmar a terrorista aqui e, para distrair você.


Aquilo pegou Presley de surpresa.


— Me distrair?

— Presley, eu sei que você esquece, mas você é muito jovem e vive enterrada em afazeres domésticos. Você sequer tem amigos!

— Você é minha amiga!

— Pediatra da sua filha.

— Eu tenho a Aliana...

— Ela é sua cunhada! — Nana sorriu — Você precisa de uma amiga nascida na esfera de amizade, Presley. E a Hanni é linda, é divertida, é uma garota festeira, é jovem como você. Você vai adorar passar algum tempo com ela, confia em mim.


Presley pensou um pouquinho, terminando de vestir sua filha.


— Ela é bem bonita mesmo.

— Eu tenho um segredo para te contar... — Nana se aproximou dela — Você também é — Disse, e Presley sorriu.


Agradecia ao elogio, mas estava falando de ser bonita como Hanni, enfim.


Ela era bonita. MESMO.


Assim, a consulta terminou, e Presley parou na cantina do hospital. Pediu algo para alimentar sua criança e matar o tempo até dar a hora que Hanni havia pedido. Pensou em mandar uma mensagem para Leo, mas sabia que ele não leria, e dado os horários do seu marido ultimamente, era capaz de chegar antes dele de qualquer forma.


"Podemos tomar sorvete depois?", sua filha lhe perguntou.


— Podemos, se você se comportar direitinho, podemos — Sinalizou de volta, e ela deu um daqueles sorrisos lindos, arrebatadores demais. Então, o celular de Presley deu sinal; era Hanni, por mensagem, dizendo que já estava descendo — Vamos, filha, está na hora.


Pegou sua menina e foi para o estacionamento, então começou a rir assim que se aproximou do seu carro.


— O que foi, Hanni?

— Algum chato me fechou! Agora eu não tenho como sair.

— A chata te fechou porque você não sabe estacionar, sua invasora de linhas! — Presley destravou o seu carro.

— Então foi você! — Ela cruzou os braços, abrindo um sorriso desacreditado.

— Só tinha esta vaga e você fez questão de invadir as minhas linhas.

— É que cheguei atrasada, não vi que tinha estacionado... — Olhou melhor, avaliando a situação de seu carro — Tão feio assim. Como você conseguiu entrar nessa vaga?

— Sabendo estacionar, obviamente! Espera, eu vou tirar o carro para você sair, segura a criança para mim — Colocou Aika no colo dela e foi tirar o seu carro, saindo em dois movimentos.

— Está se exibindo!

— Preciso? — Perguntou, subindo os óculos escuros e abrindo um sorriso para ela.

— Segue se exibindo, eu gosto disso — Hanni abriu a porta traseira do carro e colocou Aika na cadeirinha, muito rapidamente, sem grandes dificuldades. Hum, serial mãe? Foi apenas um pensamento de Presley — Encontro você em breve — Ela falou com Aika, em coreano, a deixando ler os seus lábios com clareza, e Aika ficou muito feliz!

— Ei, você fala coreano.

— Eu falo e deve ser melhor para ela compreender também, já que o alfabeto coreano é baseado no formato dos lábios.

— Eu... — Presley parou um instante — Eu nunca tinha pensado nisso. Eu fui relutante a ela aprender coreano, já que é neozelandesa. Mas pensando agora, a construção gramatical se assemelha à construção gramatical em língua de sinais, é bem mais simples.

— Sem conectivos, eu imagino.

— Isso, são construções simples.

— Está segura? — Falou com Aika.


“Segura!”, ela sinalizou, e Hanni entendeu, trocaram um sorriso.


— Pronto, vamos indo então. Eu vou tirar o carro e vocês vão me seguindo, é aqui pertinho mesmo.


E fazendo outro carinho em Aika, ela fechou a porta do carro e foi para o seu, o Jimny com a prancha no teto.


Hum! Surfista. Era assim que o sol deveria beijar aquela pele.


Tudo o que você deseja está do outro lado da fronteira do medo.


Sua mente reverberou.


 

Notas da Autora: Tessa Reis


Oie! Como estão?


Eu terminei "Vulnerable" agradecendo a todas que abraçaram essa história com tanto carinho, mesmo ela sendo muito diferente do que eu costumo escrever. E quero começar "Acróstico" dizendo que acho que esta história é uma mistura do que está dentro da nossa caixa, com objetos encontrados do lado de fora. Hahaha. "Acróstico" tem o melhor do que eu já escrevi das relações familiares, misturado com algo que eu não lembro se já trouxe antes, que é uma cultura completamente nova, em um país onde ainda não cheguei. Veremos um pouco de "Havana" e "Angra" por aqui, e um pouquinho do drama de "Bali" e "Sal" também. Mas, ao mesmo tempo, estaremos trabalhando numa temperatura altíssima para trazer um estilo que eu nunca ousei escrever antes: um slow burn queimando na pele o tempo inteiro.


Espero que este primeiro capítulo tenha sido o convite perfeito para que vocês voltem por mais! O que acharam? Me conta aqui nos comentários!


Grande beijo! Nossa viagem para a Nova Zelândia acaba de decolar!

Voltamos 23/09.


Tessa Reis








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