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Água Rasa 9

Foto do escritor: Riesa EditoraRiesa Editora

Capa Água Rasa
Água Rasa

Sexto Sentido

 

Ella passou a acordar todos os dias às cinco e meia.


Era verdade que, antes das oito da noite, já estava dormindo, mas sentia que, acordando mais cedo e tendo seu tempo de meditação, os dias rendiam mais. A rotina era basicamente a mesma: as terapias não mudavam; um exame ou outro, que a levavam para fazer, era diferente, mas, de modo geral, os dias pareciam apenas repetições. Ella nunca esteve livre assim. A vida inteira, ou estava estudando, ou trabalhando, ou os dois. Os feriados faziam sentido, os finais de semana também, mas, dentro daquele hospital, um dia era apenas igual ao outro, e isso era bem desconfortável. Começou a escrever sobre os seus dias quando percebeu estar perdendo a noção de tempo. Escrevia a data, o dia da semana, o que havia feito e como estava se sentindo.


As duas primeiras semanas foram as mais dolorosas, com toda certeza. Seus músculos tremiam após as sessões de fisioterapia, seu corpo inteiro doía. Era como se tivesse feito um treino absurdo de pilates, jogado três horas de tennis ou feito cinco rolas de jiu-jitsu seguidas. Mas, no final, estava apenas fazendo movimentos básicos, e era dor de chorar. E não queria chorar. Queria continuar sua sessão, mas entendeu que, para aquilo dar certo, teria que se compreender quando não pudesse fazer mais fisicamente. Então, ia até o seu limite e respeitava.


E o mesmo acontecia quando estava com a fonoaudióloga. Por algum motivo, achou que aquele problema seria mais rápido de ser resolvido, mas não foi bem assim que aconteceu.


— Ella, você está com muco nas cordas vocais, isso é natural. Você passou por intubações longas e não usou a sua voz por cinco anos, fora a desidratação, que já estamos cuidando. Mas tudo isso é temporário, vai passar em breve.


Temporário, temporal. Lembrou da tatuagem de Carter.


Respirou muito fundo. Já fazia mais de uma semana, achou que ao menos alguma coisa estaria diferente. Mas seguia apenas falando uma palavra de cada vez. Se tentava mais, sua voz sumia. E tinha mais uma questão:


"A minha voz vai voltar ao normal?" Porque, quando conseguia falar, aquela voz não parecia com a sua.


— Vai, sim. Escuta, qual é a sua palavra preferida? Pode focar numa palavra e repetir enquanto não sentir desconforto. Uma palavra curta, que seja simples de dizer.


Pensou só um pouco.


— Car-ter.


A fonoaudióloga sorriu.


— Não me surpreende em nada. OK, essa vai ser a sua palavra. Pode repetir enquanto estiver confortável.

— Carter.

— Isso. Estará usando as mesmas cordas vocais, não deve cansar tão rápido.

— Carter.


Passou a repetir "Carter" em qualquer situação. Qualquer momento em que sentisse que sua garganta parecia bem, repetia. E foi ficando mais fácil, causando menos desconforto. Mas essa era apenas uma coisa que sentia que estava melhorando, porque o resto parecia sem evolução nenhuma.


— Isso não é verdade — Sky contrapôs naquele dia. Devia ser o final da segunda semana de reabilitação — Caso não tenha notado, você está reclamando de .


Hum, era verdade. Estava mesmo de pé. Fazia apenas um dia? Fazia apenas um dia, mas estava de pé.


— Andador — Reclamou. Estava de , mas se segurando num andador.

— Sim, você vai precisar aprender a andar de novo, mas isso quando as suas pernas estiverem mais fortes. Mas olha só, você está parada aí faz quase... um minuto. E ainda nem rosnou pra mim.


Ella meio que rosnava quando estava prestes a desistir de algum movimento ou apenas muito irritada com Sky.


— iPad — Disse. Agora conseguia dizer mais palavras num espaço mais curto de tempo.

— Pra você reclamar com uma frase enorme? Não. Vamos ver quanto tempo mais esses bracinhos suportam.


Até que suportou bem. Pensando bem, suportava mais a cada dia. Mas, para coisas muito básicas, seguia tendo dificuldades, tal como segurar o iPad por muito tempo. Também ainda não conseguia escovar os dentes sozinha. Se pentear? Era um sonho distante. Sky dizia que seus braços estavam mais fortes, mas sempre que tentava fazer um pouco mais de esforço, acabava falhando. E, sim, sentia que podia dizer cada vez mais palavras soltas, mas aquela não era a sua voz. Se quisesse formar frases, tinha que recorrer ao robô do iPad. Também estava sendo levada para tomar banho de sol nos jardins, mas ver a vida passando lá fora a incomodava, lhe dava uma sensação de perda.


E de jeito nenhum, era apenas isso que estava perturbando.


Lá pelo meio da terceira semana de reabilitação, Ella Schafer acordou sem nenhuma paciência. Não era apenas pela sua evolução lenta. Era também porque sentia que tinha alguma coisa acontecendo que ninguém estava lhe contando. Ou só estava sendo Ella Schafer. Desconfiada, grudenta, apegada à namorada. Que, agora, era sua esposa.


Não estava acostumada a não ter a atenção de Carter. Nunca haviam ficado separadas assim. Mesmo no curto período em que moraram em países diferentes, estavam ligadas uma à outra praticamente o dia inteiro. Mas agora isso era diferente. Claro, estava num hospital, sem acesso a muita coisa. Sim, Carter seguia vindo visitá-la regularmente, mas ela não parecia... bem. Parecia desconfortável com alguma coisa, preocupada. Estava com uma aparência abatida, parecia distraída, e o sexto sentido de Ella simplesmente gritava no seu ouvido que algo estava fora do lugar, o que a deixava sufocada.


— Carter só está trabalhando muito, filha — Nia estava lhe explicando naquela manhã — Você sabe como aquela empresa tem problemas. É o período de planejamento estratégico. Eu mal via você quando isso chegava.

— Carter — Repetiu.

— Ela vem mais tarde.


Carter seguia vindo diariamente, porém andava chegando cada vez mais tarde. Até que, naquela noite, pela primeira vez, ela simplesmente não apareceu.


E, como sempre acontecia com tudo o que envolvia Carter, isso afetou Ella diretamente, intensamente, de maneira desastrosa.


Sim, sabia que esse era um traço tóxico do relacionamento delas, mas sempre havia sido assim, desde o começo. Elas brigavam pouquíssimo, mas, quando acontecia, isso afetava ambas de maneira catastrófica, a ponto de deixarem de ser funcionais em tarefas básicas até se resolverem. Aham, sabiam que isso não era saudável, mas era assim que eram. E só tinham essa red flag como casal. Sempre riam disso porque ambas consideravam um bom índice.


Mas, quando Carter não apareceu e sua vida seguia muito penosa dentro daquele hospital, ficou tão furiosa que, por uns cinco dias, parou de falar qualquer palavra que fosse, inclusive o nome dela. E foi ficando cada vez mais irada porque, durante aqueles dias de protesto, sua esposa parecia tão imersa em outra coisa que, aparentemente, nem notou que Ella estava diferente.


E isso foi fomentando, dentro daquela pequena mulher, o pior que existia na sua personalidade difícil.


Foi quando a tensa quarta semana de reabilitação aconteceu. E não houve meditação que fizesse Ella Schafer se acalmar e cumprir sua agenda do dia.


OK, havia ficado em coma por todos aqueles anos, sua situação era complexa, mas também não era nenhuma coitada. Estava com suas faculdades mentais em perfeito estado, e ninguém lhe dava informações direito dentro daquele lugar. E não entendia por que ainda precisava ficar sem internet e sem seu celular. Queria o seu celular e não queria terapia nenhuma. Estava cansada, queria um dia de folga e, lá pelo final da tarde, alguém ligou para Carter, tal como se liga para uma mãe a fim de informar o mau comportamento de uma criança no colégio.


E Catherine Arnault apareceu pouco antes do final da tarde. Com o seu tremor essencial atacado em níveis claros, vestindo uma minissaia branca, top longo também branco, com detalhes florais esverdeados e um terninho preto por cima. Algo que não combinava muito bem, era como se ela tivesse pegado o terninho sem pensar em muita coisa. O rosto visivelmente abatido, os olhos profundos... de choro ou cansaço? Não importava, ela não lhe contaria de qualquer forma.


— Ella?


Respondeu em seu iPad:


"Você não precisava ter vindo."


Carter respirou fundo. Havia recebido aquela ligação de SOS do hospital sobre Ella não estar colaborando com as terapias, mas sua esposa não andava nada colaborativa consigo também. Estava áspera, dura; e, claro, Carter sabia o motivo, mas não tinha como se abrir totalmente com ela ainda. Sua psicóloga estava trabalhando junto com a psicóloga de Ella na análise do melhor momento para contar sobre a gravidez. Carter não estava bem. Suas crises de ansiedade estavam apenas aumentando, enquanto, mentalmente, Ella parecia... estável. Ao menos, até aquela mudança brusca de humor dos últimos dias.


Carter tentou argumentar que isso estava diretamente ligado ao que não estava contando para ela, mas foi convencida a esperar mais um pouco, mais uma vez. E isso, especificamente, estava acabando com os seus dias.


Não estava dormindo, não estava conseguindo focar nas coisas e estava precisando desesperadamente de um pouco de carinho da sua esposa, porque tudo estava muito difícil mesmo. Mas, novamente, Carter não era prioridade naquele momento. A prioridade continuava sendo a recuperação de Ella. Então, respirou fundo e se aproximou dela.


— Como não precisava? Eu venho te ver todos os dias — Sentou-se na cama com ela, beijando-a rapidinho.


"Por que você não me beija mais?"


— Eu não...? A gente se beija diariamente, amor. Acabei de te beijar. Como assim?


"Você me dá selinhos, nada de beijos. Me fala logo, estou muito estranha? Você perdeu o interesse em mim?"


— Ella, você quer se olhar? A gente acabou nem falando mais sobre isso, você queria focar apenas na sua recuperação.


Era verdade. Mas também era verdade que Ella estava evitando se olhar, porque não tinha certeza de como realmente estava. Será que havia envelhecido muito? Que sua pele estava diferente? Será que havia ficado com cicatrizes?


Bem, feia-feia também não era possível que estivesse, porque fazia um mês que estava fazendo fisioterapia com aquela fisioterapeuta bonitinha que, com toda certeza, lhe pegaria.


"Não estão funcionando as coisas que estou fazendo."


— É claro que tudo está funcionando, linda. Você já está fisicamente diferente, está muito mais forte, bem mais corada, com uma aparência saudável. Mas essas coisas levam tempo, a gente sabia que levaria. Desculpa ter vindo tão tarde ontem, estamos com problemas na empresa.


Ella olhou para sua esposa.


— Que problemas?


Perguntou naturalmente, sem pensar muito. E sua voz saiu sem grandes dificuldades ou...?

Sim, tinha mesmo saído sem grandes dificuldades. E o som limpo e fluído da sua voz pegou a atenção de Carter imediatamente.


— Uma frase inteira? — Porque aquilo era bem inédito! Sim, Ella já estava falando mais palavras, cada vez em espaços de tempo mais curtos, mas nunca havia dito duas de uma vez. Inclusive, desde a noite em que Carter não conseguiu vir, por ter tido a sua primeira discussão da vida com Raina, Ella estava fazendo greve de silêncio e não estava dizendo coisa nenhuma.

— Duas palavras — Só haviam sido duas palavras, nada de mais.

— Ella, agora foram quatro palavras! Você está falando.


Parou outro instante.


— Carter...

— Cinco palavras! — O rosto dela tinha simplesmente se iluminado como se fosse uma grande coisa! Será que... era?

— Você... — Engoliu, sua garganta estava meio seca — Idiota!


Carter desatou a rir, porque aquela era mesmo a sua esposa! E ainda era a idiota dela, ainda bem. Até quando seria? Não fazia ideia, mas ainda era! E a idiota comemorou tanto aquelas cinco palavras que Ella acabou rindo também.


— Carter, para!

— Não força a sua voz. Vamos devagar, hum?

— CHEGA DE IR DEVAGAR.

— Quatro palavras de uma vez! — Carter a beijou de novo, porque não estava acreditando naquilo! — O que aconteceu? Você fez fono hoje? Estava falando assim?

— Não fiz. Mas — tocou sua garganta — diferente.

— Algo ficou diferente? Você acha?


Confirmou, achava que sim. Havia começado a sentir sua garganta diferente quando começou sua greve de silêncio. Era para ser coisa de um dia, mas... sua garganta aparentemente estava melhorando, então decidiu manter um pouco mais.


Carter saiu do quarto e foi buscar a terapeuta-líder, contou que havia conversado com Ella em ritmo normal. Pediram que a fono viesse ao quarto, contaram tudo, e ela sugeriu uma laringoscopia.


— Podemos fazer agora? São dez minutinhos no máximo. Talvez o muco tenha sumido.


Carter olhou para Ella, para ver se ela queria fazer ou não. Disseram que ela estava muito teimosa naquela tarde e que não havia feito nada.


— Carter?

— Oi, meu amor! — Estava na cama, grudadinha nela e a enchendo de carinhos, porque aquela era a voz da sua esposa. Bem rouca, muito mal-humorada, mas era a voz dela.

— Fazer o exame.

— Ah, então vamos fazer!


Foram fazer tal exame. Anestesia tópica, apenas para reduzir o desconforto de se ter uma microcâmera descendo pelo seu nariz, e o médico decretou que era isso mesmo: o muco havia desaparecido e a laringe parecia bem mais forte.


— OK, o que ela gosta muito de comer que seja líquido? — A terapeuta-líder perguntou para Carter.

— Ela... — Carter sorriu muito! Estava sorrindo sem parar, seu dia horroroso havia melhorado completamente — Ela gosta de lámen. Posso comprar e trazer para o jantar? Ela vai descansar agora, não é?

— Vai. Pode ser que durma um pouquinho. Ela se recusou a fazer todas as terapias hoje, estava bem chateada, mas isso agora... foi ótimo, não é? — Perguntou, sorrindo.


Aquilo havia sido inacreditável de tão bom. Havia mudado o humor de Carter totalmente. Era facilmente a melhor coisa que lhe havia acontecido desde que Ella acordou. Naquele dia em específico, já tinha chorado muito e por motivos diferentes: estava sendo bastante pressionada pelo conselho e, naquela manhã, teve que enfrentar uma reunião muito difícil sozinha, porque Sahara estava viajando a negócios e Raina se mudando.


Na verdade, ela tinha se mudado no dia anterior, mas tudo havia sido tão intenso que ainda ficaram coisas por fazer. Carter não saberia explicar muito bem como tudo se intensificou. A ideia de se separarem estava clara menos de 24 horas depois de Ella ter acordado, mas, de alguma maneira, naqueles últimos dias, não estavam conseguindo se entender. Sabia estarem sob muita pressão na empresa, que ainda seguia em recuperação judicial, e, apesar dos resultados positivos do último ano, agora a cúpula exigia que o crescimento fosse retomado de maneira mais agressiva. E isso significava apenas uma coisa: alta de medicamentos exclusivos. Isso mexia com os ideais da empresa. Isso trazia Ella Schafer de volta para toda e qualquer mesa de reuniões. E uma tensão apenas existia.


Era comum que Carter não soubesse exatamente no que Raina estava pensando. Ela se resguardava, trancava qualquer um para fora dos seus pensamentos e para fora dos seus sentimentos também. Mas achava que a gravidez realmente estava mexendo com ela, mais do que estava mexendo com a própria Carter. Então, de pequenos desentendimentos durante aquele mês, quando percebeu, estavam tendo todas as brigas que nunca tiveram antes nos últimos dias. E aquele dia havia sido... difícil. Acordou sozinha, enjoada e vomitando até a sua alma. Os enjoos andavam cruéis e estar sozinha não ajudava muito. Só esperava que Raina não a odiasse. Então, chorou por isso. E chorou nos intervalos das reuniões. Também chorou porque Ella estava indiferente e, principalmente, chorou de medo de estar perdendo sua esposa em tempo real.


Mas agora, aquela teimosa com quem tinha se casado havia falado cinco palavras e o dia de Carter se transformou completamente.


Pegou suas chaves e foi até o restaurante de lámen preferido delas. Pediu aquele mesmo lámen do aniversário de casamento e, tal como naquela noite, esperou sozinha pelo seu pedido numa mesa. Tanta coisa havia mudado daquele momento para este. Ella estava acordada, Carter não estava mais com Raina e estava grávida. Uma das suas últimas brigas com Raina, que havia acontecido no dia anterior, terminou com ela dizendo que o ato de Carter fingir que não estava grávida não faria a gravidez desaparecer. E isso a feriu muito, porque era verdade. Ainda estava fingindo mentalmente que não estava grávida, porque realmente não fazia ideia de como Ella iria reagir. Bem, sua psicóloga estava insistindo para focar apenas na melhor parte do seu dia, um dia de cada vez. E era o que andava fazendo.


Ouviu a voz de sua esposa de novo. O que podia ser mais especial do que isso? Era a voz dela, não aquela voz arranhada, machucada de antes. Era a voz densa e gostosa da sua Ella, a voz que amava ouvir baixinho no seu ouvido, que permeava a cama delas, quando faziam amor. O seu som preferido no mundo.


Acabou lagrimando, de felicidade. E vieram entregar a sua sacola.


— Ah, muito obrigada!


Estava anoitecendo, mas ainda deu tempo de passar numa loja de jardim. Carter amava plantas, mas Ella amava árvores frutíferas. Escolheu um pé de morango, já com frutinhas, bem bonito, e levou para o hospital junto com o lámen. E, quando chegou, sua esposa estava de banho tomado e vestida, sem a camisolinha do hospital.


Estava toda de preto: blusão de mangas longas, calça de moletom confortável, cabelos parcialmente presos para trás, linda, os olhos clarinhos brilhando. Carter nem sabia.


E a dona daqueles olhos de oceano abriu um sorriso lindo assim que lhe viu entrar.


— Você... linda! — Ella disse. E era muito, mas muito bom mesmo ouvir aquela voz de novo. Carter colocou as coisas sobre o móvel ao lado da cama e a beijou mais uma vez, ao mesmo tempo, em que sentia aquele cheirinho gostoso que era inconfundível da sua mulher.

— Você que está linda. Por que ficou bonita assim?

— Disseram que você ia voltar. Com uma surpresa — Ela estava falando bem devagar, mas sem grandes desconfortos — E quero... tirar uma selfie.


Carter sorriu de novo. Aquilo era praticamente um monólogo, nem sabia quantas palavras ela havia dito agora de uma vez.


— Pois eu trouxe uma surpresa. Duas. Vou deixar esse vasinho aqui perto de você. Achou bonito?

— É lindo!

— A moça da loja disse que, em mais umas duas semanas, você já pode comer os morangos. Já estarão maduros.

— Vou poder... comer?

— Provavelmente, sim. Escuta, trouxe jantar para nós duas.

— O meu jantar é... mais uns minutos.

— Não, o seu jantar está comigo hoje — Puxou a mesinha dela e mostrou a sacola. Ella reconheceu o restaurante imediatamente e ficou muito, mas muito empolgada!

— Sério?!

— Sério! Mas só o caldo. Pedi para não colocarem pimenta também, nada que pudesse ser agressivo para sua garganta — Estava explicando, tirando as coisas da sacola e, quando se deu conta, Ella estava chorando — Ei...

— Não acredito que estou falando. E vou comer uma coisa que amo — Era a voz dela. A voz dela muito rouca, como quem está se recuperando de uma gripe forte, mas ainda assim, incontestavelmente, era a voz da sua Ella, do seu amor.

— Vai. Você melhorou, está melhorando o tempo todo. Sabe o que fiquei pensando hoje? — Limpou o rosto dela com carinho e seguiu arrumando o lámen na mesinha. Havia trazido uma água saborizada com gás também — Sabe se eles têm tatame aqui?

— Tatame...? — Ella pensou um pouco — Não sei. Acho que nunca vi.

— Vou falar com a Sky. Você sempre se moveu muito melhor de solo no jiu-jitsu, puxava todo mundo pra baixo. Pode fazer exercícios de solo. Você reclamou disso também, não foi?

Era possível que tivesse reclamado. Talvez estivesse reclamando de algumas coisas há uns dias.

— Não posso pedir que você venha me ajudar.

— Por que não pode?

— Você... muito ocupada.

— Sim, mas posso vir. Podemos fazer isso toda noite, pago algumas horas extras para a Sky acompanhar a gente — Abriu o bowl e, apenas o cheiro fez Ella fechar os olhos.

 Muito bom — Ela sorriu.

— Muito, não é? — Sorriu também. Era tão linda sua esposa, nem sabia — Na madrugada em que você acordou, eu vim aqui mais cedo. Era nosso aniversário de casamento, trouxe esse lámen para comer aqui.


Ella abriu outro sorriso.


— Ouvi você.


E aquilo pegou Carter muito de surpresa.


— Você me ouviu...?

— Acho que sim. Me pediu para acordar. Mas era como se... presa num pesadelo. Não consegui acordar. Você falou da... laranjeira, não foi?


Carter lagrimou, sorrindo, porque tinha certeza de que, em um momento ou outro, Ella lhe ouvia.


— Sim. E minha mãe me dizia para não fazer isso, para não ficar te pedindo para acordar, mas eu não conseguia.

— Não chora mais — Ella conseguiu tocar o rosto dela, e Carter apoiou sua mão imediatamente, de maneira cuidadosa.

— Não sei o motivo, mas ando chorona. Eu não era assim.

— Eu... em coma. Cinco anos.


Carter riu, beijando a mão dela com muito carinho. Era possível que ela tivesse razão.

— Vamos comer?


Ella sorriu, muito animada! Então, Carter foi lavar as mãos, pegou talheres esterilizados e um pouco do caldo do lámen com uma colher. Estava lindo: o molho vermelho, o macarrão, os brotos, os vegetais. Parou com a colher no ar, seu tremor ficou evidente.


— Está tremendo muito.

— É... o estresse da empresa.

— Nunca mais foi para a praia? — Porque dias de praia reduziam o estresse de Carter de maneira quase terapêutica.


Carter sorriu. Um sorriso novo, que Ella já conhecia agora. Era o sorriso antes de ela contar algo que doía.


— Nunca mais entrei no mar, Ella.

— Você... Mesmo?!

— Sim. Mas não é assunto para agora. Vamos, aqui, sua colherada. Precisa tomar devagar, está bem?

— OK! — Ella estava empolgada, uma graça. Abriu um sorriso lindo, Carter sorriu de volta e, bem devagar, levou aquela colherada de caldo para a boca dela.


E foi incrível. Ela fechou os olhos, absorvendo todo aquele sabor, engolindo devagar, como quem aproveita cem por cento de todo o gosto que uma simples colherada era capaz de entregar.


— Bom? — Carter perguntou, e Ella abriu outro sorriso lindo, os olhos brilhando muito.

— Muito bom! Agora come você e me diz se os brotos estão bons.


Carter pegou os hashis e provou um dos brotos. Estavam ótimos como sempre, com aquele tempero que ambas adoravam tanto bem presente. A primeira vez que Ella lhe levou para jantar em Montreal havia sido naquele restaurante. Lembrava de ter pensado, enquanto a noite passava e elas não paravam de conversar e se divertir, que iria mesmo se casar com aquela canadense, porque só queria que aquele tipo de noite se repetisse para o resto da sua vida.


Foram comendo juntas bem devagar. Brotos e vegetais para Carter, o caldinho para Ella.


— Eu... quero meu celular — Ela pediu — Tem fotos lá, fotos... lua de mel.

— Hum, acho que não tem problema. Quer ver uma foto que eu adoro?

— Quero!


Carter pegou o seu celular e abriu uma foto delas, numa trattoria italiana, com uma massa lindíssima no centro da mesa, dentro de um queijo parmesão gigantesco, e elas felizes, sentadas lado a lado, agarradinhas, as alianças brilhando. Estavam numa mesa externa, de óculos escuros. Ambas amavam macarrão, todos os pratos possíveis de macarrão.


— Essa foi...?

— Em Roma, nosso primeiro dia. Estávamos almoçando às cinco da tarde, foi o horário em que conseguimos sair da cama. A gente combinou que comeria uma massa diferente todo dia.

— E a gente comeu?

— Comemos. Uma massa diferente por dia, um gelato diferente por dia. Aqui, mais uma colherada, vamos.


Ela abriu a boca e ficou imediatamente feliz com o gosto do lámen mais uma vez.


— Posso ver outras?

— Claro que pode.


Ella ficou vendo as fotos enquanto tomava mais colheradas do caldo e, em algum momento, a tela bloqueou e tinha uma foto sua ali. O que a fez sorrir.


— Minha foto... voltou.

— Você gostou dessa aqui? Tiramos na lua de mel também.


Ella estava linda: de vestidinho preto, curto, os cabelos presos num coque baixo, os óculos escuros, meio de perfil, o mar a emoldurando.


— Gostei muito! Onde...?

— É Capri, nosso segundo dia. Não mudei a minha do wallpaper ainda. Será a nossa selfie de hoje. Aqui, a última — Levou a última colherada para a boca dela. Ella saboreou cada gota.

— Carter, acha que... um macarrãozinho me mata?


Carter riu igual a uma idiota.


— Mas para de ser idiota! É uma pergunta séria.

— Acho que, se você conseguir comer um macarrãozinho, a gente pode dar um beijo de língua que será seguro.

— Espera, é por isso que...?

— Não estamos beijando pesado? Você ainda pode sufocar, eu tenho medo.


Daí foi Ella quem riu igual a uma idiota.


— Você para, que isso é um medo sério! — Carter se defendeu, rindo, e Ella se acalmou, recuperando o fôlego.

— Me dá um pouco da água.

— Espera, tem limão, mas bem de leve — Abriu, colocou um canudo, levou à boca dela — Beba devagar.


Ela bebeu, bem devagarinho, mas bebeu muito. Carter deixou para ver como ela ia reagir.


— Tudo bem?

— Tudo bem, é... pronto. Me dá um macarrãozinho.


Carter pegou um único macarrão com os hashis.


— Espera... — Ella pediu — E se eu sufocar?

— Aperto o botão de pânico.

— Ah, OK! Pronta.


Carter colocou o macarrão na boca dela e deixou que ela sugasse, pedindo que fizesse tudo bem devagar.


— Você tem que mastigar, acha que consegue?


Pois mastigar um só macarrãozinho se mostrou uma árdua tarefa. Sua mandíbula cansou, teve que parar umas três vezes, mas conseguiu e engoliu. Elas ficaram se olhando, como que esperando pelo sufocamento que não veio. Daí, sorriram, e Carter a encheu de beijos de novo!


— Você comeu um macarrãozinho e não sufocou — Encheu aquele rostinho de beijinhos.

— Me sinto um bebê de meses.

— Você nasceu de novo, é um bebê mesmo.

— Me dá... mais água?

— Mais água, aqui — Colocou na boca dela. Ella sugou bem bonitinha e abriu um sorriso depois.

— Agora, meu beijo.


Carter a olhou nos olhos longamente e seu coração acelerou. Então, tirou a mesinha que estava entre elas, voltou para a cama, se aproximou um pouco mais, tocou o rosto de sua esposinha delicadamente. Seu coração aumentou as batidas, ela apertou os lábios, a respiração acelerando sem ter muito controle.


— Estou nervosa como no nosso primeiro beijo — Confessou.

— Aquele que você invadiu meu quarto? — Ella abriu um sorriso.

— O meu quarto! — Respondeu, sorrindo também.

— Mas onde eu estava! — Beijou o canto da boca de Carter longamente, sentindo o corpo dela tão perto do seu — Agora... não sei se consigo beijar.

— No nosso primeiro beijo, você disse para eu tentar.

— Eu disse — Elas estavam muito perto uma da outra, a ponto de Ella estar se vendo nos olhos de Carter — Tenta.


E, bem devagar, Carter mordiscou o lábio inferior dela, porque queria um gemidinho e sua esposa AMAVA aquelas mordidinhas. Como esperado, ela gemeu e, como esperado, a mão dela veio para sua garganta e, em segundos, estavam aprofundando aquele beijo.


Elas buscaram a língua uma da outra, e o tesão apertou de imediato, uma eletricidade correndo por dentro, a pele vibrando, os sentidos densamente reagindo, porque seguiam sendo o melhor beijo da vida uma da outra. Carter era louca por aquela boca gostosa, e Ella estava ficando maluca de tesão sem poder beijar sua esposa da maneira que queria, sem poder tocá-la do jeito que seu corpo estava pedindo. E sim, Carter sabia que não deviam estar se beijando assim antes de terem aquela conversa, mas uma coisa que sabia era que seu cérebro simplesmente parava de raciocinar quando a língua de sua mulher estava dentro da sua boca.


Ou em qualquer outra parte do seu corpo.


— Ai, Ella...

— Esposa, você encheu mesmo esse quarto de câmeras, não é? — Ella disse, bem devagar, depois que as bocas se afastaram, fazendo Carter rir demais.

— Sim, era para a sua segurança. E tem a câmera do hospital — Explicou, beijando o pescoço dela bem suavemente, porque... só era muito bom mesmo estar pertinho da mulher da sua vida assim outra vez. A cheirou, correu a boca pelo pescoço dela só mais um pouquinho, e aquela mão, que mal segurava uma escova de dentes, de repente...

— Ella Schafer!

— Amei... essa minissaia — Aquela minissaia branca estava uma COISA, anf!

— Você queria me matar quando eu entrei!

— Sim, ainda bem... que veio de minissaia — A mão estava passeando por aquelas coxas — Ajudou a raiva a passar.

— Ella, a gente precisa conversar sobre uma coisa.

— Tem... muita coisa pra conversar. Mas ninguém nunca quer falar. E você — fez uma pausa, mordendo a boca dela — não vai falar agora.


Não iria. Ella Schafer estava interessada na sua boca bem calada.


Carter desligou todas as câmeras pelo celular. Tecnicamente, eram suas, mas estavam ligadas à rede do hospital, e nunca se sabia. E, com as câmeras desligadas, elas ficaram de namoro, no escuro do quarto, meio que descobrindo como podiam dar uns amassos sem que Ella se machucasse. Os beijos não podiam ser muito longos, os toques precisavam de cuidado, mas elas só queriam muito uma à outra, precisavam de um momento assim, de pele na pele, reconexão. Carter tinha realmente ficado mais distante quando tudo ficou intenso com Raina. Deviam ser os hormônios, mas estava chorando descontroladamente ultimamente e não queria que Ella a visse assim. Mas, ao mesmo tempo, estava para enlouquecer de saudades da esposa, morrendo de vontade de ser namorada dela de novo, de sentir a pele dela, de beijar aquela boca. Elas realmente estavam precisando desse tempo, daquela intimidade.


E, ainda sobre os hormônios...


— Ella... — Carter mordeu a boca, de olhos fechados.

— Respira, OK?


Respirou, sentindo-se quente inteira e levemente estimulada por aquela descarada que, tecnicamente, não conseguia segurar uma colher. A agarrou pela blusa, escondendo o rosto na curva do pescoço dela, enquanto Ella apenas...


Conseguiu. Sua esposa estava toda agarrada em seu corpo, estava gemendo baixinho e estava toda disparada contra o seu toque. Manteve o toque, mesmo por cima da calcinha dela, enquanto a percebeu derretendo contra seu corpo. Um orgasmo breve, preguiçoso, quase coisa de adolescente, mas que ambas estavam precisando muito.


— Ella Schafer! — Carter disse, em tom de bronca, depois que o coração das duas acalmou um pouquinho — Está fazendo corpo mole na fisioterapia.


Ella desatou a rir.


— Talvez eu não esteja recebendo os estímulos certos.

— E nem vai receber esse estímulo aqui da Sky, eu denuncio aquela fisio — Beijou a boca dela, a estimulando só um pouco mais. Ella tinha delicadamente gozado naquele amasso também e só era bom pra caramba, anf!


Se beijaram de novo, mantendo um corpo altamente em contato contra o outro. Aquela noite estava com gostinho de casa, de calma, conforto.


— Esposa — Ella disse de repente, olhando Carter nos olhos.

— My ocean eyes. Você ainda sabe o quanto eu te amo?


Aqueles olhos lindos brilhando na sua direção confirmavam que sim. Ficaram juntinhas um pouco mais, bem agarradinhas e sem dizer nada, apenas sentindo uma à outra, apenas... percebendo aquele momento e o quanto ele era precioso. E então, Ella lembrou que tinha algo a resolver.


— Carter, é... a selfie.

— Quer a selfie agora?


Ela confirmou, queria agora.


Então, Carter se levantou, sua blusa estava noventa por cento aberta e sua minissaia tinha magicamente saído do lugar, o que fez a safada com quem se casou rir. Mas se recompôs, tirou as embalagens e os talheres, levou pra fora e, quando voltou, acendeu a luz. Sua esposa já estava sentadinha de novo e meio descabelada, o que fez Carter sorrir.


— Espera, deixa eu prender seu cabelo como estava antes — Fez isso e então se sentou ao lado dela — Quer a sua selfie...?

— Com você.

— Comigo, está bem. Mas primeiro, você pode se olhar, OK?


Ela afirmou. Mas havia ficado claramente mais nervosa. Pegou o celular, abriu a câmera, mas para o alto. E então, quando se sentiu pronta, trouxe a câmera para o seu rosto.


Foi estranho se ver. Ella respirou mais pesadamente, olhou para baixo e se encarou de novo, agora com mais afinco. Não havia mudado muito, na verdade. Seu rosto estava mais magro, havia perdido um pouco de suas bochechas e seus olhos estavam mais profundos. Não andava dormindo bem nos últimos dias, sua mente a perturbava intensamente e estava com algumas olheiras. E tinha a cicatriz, pouco abaixo do seu olho, naquela pele mais fina, aquilo deveria ter doído muito. Precisava fazer as sobrancelhas, acabou dizendo isso em voz alta, o que fez Carter rir demais.


— Mas isso dói, acho que não podemos fazer agora, linda.

— E se for... com lâmina?

— Com lâmina, OK, vou providenciar. Gostou do seu corte de cabelo?

— Gostei. Está... bem longo?

— Bem longo, longo até aqui — Mostrou tocando nas costas dela — A gente teve que cortar, para a sua cirurgia.

— Cortou quanto...?


Carter a guardou nos braços, se pondo atrás dela, delicadamente.


— Tudo. Tivemos que raspar, porque o trauma era enorme, a cirurgia era delicada.

— E você... me viu assim.

— Com esse rosto, você não precisa se preocupar com nada. Mas tivemos que raspar, demorou para crescer, desde então, não deixava cortarem muito, sei que você gosta mais comprido. Alguma coisa incomodou você?

— Acho que... não muito. Só é... estranho. Acha que mudei muito?

— Acho que você não mudou nada. Mas sei que mudei e você delicadamente não me disse nada.

— Você perdeu músculos junto comigo. Está certo, eu nem tinha tantos assim, mas...


Carter a beijou mais uma vez, sorrindo.


— Eu parei de fazer tudo. Devo ter engordado também.

— Não notei nada. E já... olhei muito.


Carter a encheu de beijos naquele rostinho lindo mais uma vez!


— Vamos tirar a nossa selfie para colocar no wallpaper?


Ella abriu aquele sorriso lindo e tiraram umas dez selfies na falta de apenas uma, sorrisos abertos, olhos brilhando e se tinha algo que nunca havia mudado, era o quanto ficavam bem lindas juntas, o quanto combinavam visualmente. Aquilo parecia um sonho para Carter. Estar casualmente tirando selfies com sua esposa mais uma vez. Era mesmo como se estivesse sonhando. Selfie tirada, Carter perguntou se ela não queria enviar no grupo dos amigos delas. Era um grupo enorme, porque Carter realmente tinha muitos amigos no Brasil e Ella tinha amigos no Canadá. Quando tudo aconteceu, Carter criou um grupão com todo mundo, para poder informar as coisas de maneira mais rápida.


— Envia e manda um áudio — Carter sugeriu.

— Mesmo?

— Sim, daí a gente faz o mesmo no grupo da nossa família, eles vão adorar!


Fizeram isso, foto e áudio no grupão dos amigos, foto e áudio no grupo da família e as reações ao som da voz de Ella foram lindas. Ela era muito amada, tinha muita gente torcendo por ela, torcendo por elas. Havia sido assim desde o começo, e Carter mal acreditava que as coisas estavam caminhando tão bem assim. A deixou no grupo, respondendo às mensagens, com o seu celular em mãos e foi falar com o plantonista na porta do quarto, informar que Ella comeu, inclusive, um macarrãozinho que não fez mal. Ele surtou um pouquinho, mas ficou mais calmo quando viu que ela seguia perfeitamente bem. E então, foi difícil ir embora. Estavam grudadas, não queriam separar.


E só era muito bom poder ficar, sem grandes explicações.


Dormiram muito agarradas, tanto que aquela cama pequena pareceu enorme. Carter estava muito apegada e Ella também estava, foi uma noite muito boa, que ambas estavam precisando. Mas o despertar foi um pouco caótico. Com toda certeza, a empresa estava mesmo em planejamento estratégico. O celular de Carter começou a tocar ainda muito cedo, enquanto Ella meditava. Havia acordado antes dela, sua esposa estava muito capotada, foi difícil, inclusive, sair dos braços dela. Haviam dormido bem agarradinhas mesmo, mas daí conseguiu se sentar e precisava admitir que isso estava mais fácil também. Hum... devia estar mesmo bem mal-humorada nos últimos dias. Então, tentou meditar, mas o celular de Carter realmente não parava de tocar.


Ela acordou em algum momento, parou o celular, olhou as mensagens. Respondeu muita coisa, deu um beijinho de bom dia e disse que precisava tomar um banho rápido, tinha que ir para a empresa.


— Alguém vem trazer um documento aqui, que precisa ser despachado bem rápido. Um fornecedor que não aceita assinaturas digitais. Hum... hoje posso te dar banho ou ainda não?


Ella riu e aceitou a ajuda. O banho foi rápido, comportado, e antes de entrar no banho, Carter a ajudou a se vestir para a fisioterapia: legging preta, camiseta branca, cabelos presos. Ficou muito feliz quando viu o seu café da manhã!


E houve uma pequena festa com as enfermeiras porque Ella estava falando.


Seu novo café da manhã era: suco de melão, gelatina de abacaxi e banana amassada, que comeu com ajuda e sob supervisão.


E então, sua enfermeira disse que tinha alguém esperando por Carter.


— Homem, mulher...? — Perguntou enquanto comia.

— É a Raina — A enfermeira respondeu.

— Raina... — Onde já tinha ouvido aquele nome? E por que sua enfermeira o disse com tanta naturalidade?


Bem, Carter saiu do banheiro, já trocada em roupas suas e de Ella também. Vestiu a mesma minissaia, mas um suéter dela, os cabelos molhados, a aura de quem havia dormido bem. A enfermeira havia acabado de sair.


— Tive... novo café da manhã.

— Mesmo? — Carter deixou um beijinho nela.

— Suco, gelatina, banana! Seu documento... chegou.

— Ah, vou assinar rapidinho e já volto.


E a moça estava apenas do lado de fora do quarto. A enfermeira entrou novamente e abriu as persianas, e Ella pôde vê-la.


Hum, não era mesmo a primeira vez que a via. Já tinha a visto pelo hospital em outros momentos.


Bonita.


Bem bonita.


E muito bem-vestida.


Tentou lembrar dela, porque achava que a conhecia, e quando Carter voltou para dentro do quarto, lembrou.


— Eu a contratei, não é?


Carter sorriu meio nervosa, não sabia que era Raina que vinha. Seu coração ainda estava todo disparado.


— Sim, é... pouco antes do nosso casamento. Preciso ir, volto mais tarde, está bem? Vou falar com a Sky sobre o tatame.

— Celular.

— O seu celular, OK, eu trago.


Deixou mais um beijinho nela, daí pegou suas coisas e foi embora.


E Ella pensou só um pouquinho.


Tinha um monte de coisas bagunçadas pelo seu corpo e pela sua mente, mas seu sexto sentido...


Seguia irretocável.


 

Notas da Autora sobre Água Rasa: Tessa Reis


Olá, todo mundo! Como estamos?


Finalmente, começamos a ver claras melhoras na vida de Ella Schafer! E agora que a nossa protagonista voltou a falar, aparentemente, ela realmente terá muito o que dizer nos próximos capítulos.


Estamos nos aproximando do final da primeira fase desta história, que terá três partes e atingirá seu ápice, claro, com toda a verdade sobre a vida atual de Ella sendo totalmente revelada.


O próximo capítulo, "Maremoto", acho que é autoexplicativo sobre o que deve vir por aí. hahaha. Ondas gigantes estão no horizonte de Água Rasa!


Voltamos dia 22/2!


Grande beijo!

Tessa.


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4 Comments


tes

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eu tô amando a Ella, ela precisando de muito pouco pra entender o que tá acontecendo entre a esposa e a raiana... sou mt team Ella

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Izabella
Feb 18

tô amando muito essa história, sempre fico ansiosa pro próximo capítulo! A personalidade das personagens te prende.

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Tessa Reis
Tessa Reis
Feb 25
Replying to

essas bichinhas são boas, não é? Está sendo delicioso desenvolver elas, quando a história vem encaixada assim, escrever é apenas um prazer 💘

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