Wifey and Wifey
Aeropuerto El Dorado - Bogotá, Colômbia
Zoe Nuñes estava aterrissando depois de um voo longuíssimo, de quase 25 horas, vindo de Melbourne e sozinha. Não, não havia ido sozinha, havia ido com sua noiva ao seu lado, mas tanta coisa aconteceu em um espaço de tempo tão curto que nem sabia muito bem. Moveu o pescoço de um lado a outro, se alongou. Não podia reclamar de muito; Reira obviamente a enviou de primeira classe, então aproveitou aquele tempo para trabalhar em um projeto novo e em seu casamento. Mesmo no meio de todo o pandemônio que havia invadido a vida delas nas últimas semanas, se casariam. Era toda a prioridade.
Desembarcou: calça larga, moletom, jaqueta, óculos escuros. Havia optado por vir confortável e trazendo pouquíssimas coisas. Mochila nas costas, puxando uma mala de mão, e quando viu aquela coisinha minúscula correndo em sua direção...
Mala abandonada, se abaixou, braços abertos, e a pequena Tini se agarrou em seu pescoço.
— Meu amor, oi, meu bebê, oi.
— Você... demorou! — Ela disse, mas não brava, colocando as mãozinhas no rosto de Zoe, se certificando de que ela havia chegado mesmo.
— Eu sei, mas aconteceram muitas coisas. Vou explicar tudo para você.
Ela olhou ao redor rapidinho.
— Cadê a Reira?
— Então... — Levantou-se com sua menina no colo, pegando sua mala de novo, buscando quem estava com ela. Lá estava, Barbie — Ela vai demorar um pouquinho para voltar, Tini.
E ela claramente ficou triste.
— Mas ela volta?
— Ah, meu amor, claro que sim — Cheirou sua menina um pouquinho mais, a apertando em seu peito — É que estamos com alguns problemas de adultos, que ela precisa estar em outro lugar para resolver, mas claro que ela volta. Nós vamos nos casar, você lembra?
— Eu lembro! — Pronto, ela havia ficado feliz novamente.
— Tem o casamento, ela vai voltar logo e mandou muitos presentes para você! Você é filha dela, lembra?
— Eu lembro! A gente... igual! — Os olhinhos brilharam num sorriso.
— Vocês iguais, isso — Outro beijinho nela e chegou em Barbie, a abraçou — Barbie! Obrigada por ter trazido ela pra mim.
— Sei que você está morrendo de saudades dessa criaturinha aqui. E que deve estar exausta também. Vem, a Juli está esperando no carro.
Ela estava. Entraram no carro e Juli dirigiu para Zona Rosa, onde Zoe morava com Reira já fazia um ano. E onde Tini já tinha o próprio quarto, onde elas duas, de fato, se tornaram um casal, bem careta, algo que Zoe jamais imaginou que podia ser, menos ainda com Reira. Mas eram. Nos últimos meses, estava tão difícil terem um tempo para as duas que, quando tinham, se trancavam naquele apartamento com Tini e faziam os menos variados programas, do tipo, Reira fazendo sushi para elas, ou Zoe fazendo pipoca para um cinema na sala, com elas duas montando quebra-cabeças com Tini, ou a mini-ferrovia. Ela adorava brinquedos que se moviam, ferrovias, autoramas e amava o piano, que Reira a ensinava sempre que conseguia. E quando ela dormia, ficavam de namoro infinito no sofá da sala, ou na banheira, ou na cama delas. Apenas as duas, uma música tocando, conversas intermináveis na cama, sexo irresistível, gostoso. O que mais Zoe podia pedir?
Bem, Reira podia ter contado em algum momento daqueles que partilhavam juntas que tinha uma irmã.
Era um domingo, e Zoe dormiu muito porque estava mesmo exausta. Quando acordou, sua criança já estava dormindo, e Barbie e Juli estavam vendo algum filme na TV da sala. Bogotá brilhava através das paredes de vidro da penthouse.
— Ei, você... — Juli a chamou para perto delas, e Zoe veio, deitando-se no sofá com elas, recebendo carinho imediato — Quer um café?
Zoe quis.
Café colombiano, o melhor do mundo na sua opinião. Barbie fez três xícaras especiais, bem docinhas para elas, baixou as luzes da sala e deixou que apenas o cor de rosa da bancada da cozinha iluminasse a casa.
— Zoe, então...? — Ela estava contando o que havia acontecido em Melbourne.
— Reira tem uma irmã. Vinte e quatro dias mais velha que ela. E tudo é muito delicado, muito complicado. Quando ouvi o jeito que elas se conheceram, é... de partir o coração. A Nina é muito mais próxima da gente do que da Reira no que toca à infância. Viveu uma vida muito modesta até os onze anos, quando elas se conheceram. Mas essas duas meninas tão diferentes queriam amar uma à outra, e elas amam, só não sabem disso muito bem. Estavam sem se falar quando toda essa tragédia aconteceu, mas a Nina... perdeu a esposa, está tendo que se virar com uma recém-nascida, tem mais problemas envolvendo essas duas coisas. Ela está com medo, ela precisa da Reira por perto.
— Essa parte eu entendo, mas... ela não te contar algo assim, Zoe, é meio... — Juli estava meio relutante.
— Eu sei. Mas estou entendendo as coisas devagar. A minha primeira reação foi ficar muito irritada com isso, mas depois... Essas duas garotas amam o pai que abandonou ambas e sentem que não podem amá-lo e, nisso, se voltaram uma contra a outra de alguma maneira. E elas sentem que se amam, mas acham que não podem. A Reira que eu e você conhecemos, Juli, é muito diferente da Reira de antes, uma que a Barbie conheceu.
— A mulher que não se envolvia com ninguém, que não deixava ninguém se aproximar. Dava para ver que existia uma parte dela que era suave, delicada, mas que ela não permitia que viesse à tona. Ninguém sabia nada sobre ela, ela era... amuralhada, se protegia o tempo todo — Barbie explicou.
— Essa! Essa que eu já ouvi muita gente falando sobre. Eu sei que a Reira é fechada, ela sabe disso também. Estamos fazendo terapia justamente para melhorar isso e a família sempre esteve no centro das questões mais profundas que ela tem — Zoe ressaltou.
— Então, você está bem com isso?
Zoe pensou um pouco, tomando outro gole do seu café.
— Sabe quando a gente ficou desejando que a Cali nunca tivesse entrado naquele avião? É parecido. Eu queria que tivesse sido diferente? Sim, mas não foi. Eu conheço a Reira, a pessoa que ela é, sei muito bem quem é. Mas a história dela é algo que estamos descobrindo devagar, assim como a minha história, ela está descobrindo aos poucos também. Não se conta tudo de uma vez, é impossível.
— Você confia nela.
— Claro que confio. E vamos nos casar na data que a gente queria. Eu só vou precisar de mais ajuda nisso, ok?
As duas sorriram. Claro que Zoe podia contar com elas.
A ideia era que Reira ficasse em Melbourne durante o mês de janeiro inteiro; elas se casariam em fevereiro, em San Andrés. Mas estarem com duas executivas a menos foi mais complexo do que imaginavam.
Sim, estavam sem a COO da filial de Melbourne, que agora Zoe sabia que era dirigida por Nina James e sua esposa, Sora Kato. Sem a esposa e com Nina de licença maternidade, Reira havia assumido provisoriamente em Melbourne, enquanto Zoe assumiu em Bogotá. Era tanta coisa, mas tanta coisa, que na segunda semana como CEO da Los Ángeles Urban, Zoe acabou...
Dormindo no escritório, sem sequer notar. E só não passou a noite lá porque sua noiva era atenciosa e cuidadosa a ponto de checar as câmeras quando notou que Zoe não havia chegado em casa. Foi assim que Zoe acabou sendo gentilmente acordada por um segurança do prédio.
— Eu...? — Zoe acordou totalmente zonza e assustada.
— A senhorita Kato ficou muito preocupada e pediu que eu viesse checá-la, senhorita — Ele respondeu, gentilmente sorrindo.
— Você quer dizer, lá de Melbourne...?
— Se me permite dizer, senhorita, a senhorita Kato a valoriza muito. É algo que pode ser visto sem dificuldades. Ela me pediu para levá-la para casa em segurança, julga que está muito tarde para que a senhorita dirija sozinha. Vou esperar na recepção, tudo bem?
Sorriu. Tudo bem, claro que tudo bem. O segurança a levou para casa e, quando Zoe terminou seu banho...
— Ok, ela foi idiota por não ter contado sobre a irmã, mas olha essa mulher, Zoe — Era Juli, que acabara de receber um jantar completo do restaurante preferido de Zoe em Bogotá — Eles nem fazem entregas, sabia? E a Reira conseguiu o seu jantar preferido.
Zoe se derreteu sorrindo.
— E eu vou jantar com ela!
Pegou uma mesinha de refeição, levou para o seu quarto e exigiu que Reira fosse tomar café. Eram quase nove da manhã em Melbourne e ela estava chegando no prédio da Los Ángeles. Morreu de rir quando ouviu a exigência e foi tomar café da manhã novamente na cafeteria da empresa. Colocou seus fones de ouvido, ligou por vídeo, apoiou o celular em cima da mesa e só de olhar para sua Zoe...
Como a amava. Não era pouco.
— Guapa, por que ficou até tão tarde?
— Tinha alguns documentos para assinar, eu quis despachar tudo para ficar mais livre amanhã, sexy, e acho que acabei dormindo — Respondeu, já jantando, também com o celular apoiado na mesinha.
— Você acha?! Vi pela câmera de segurança, wifey, você estava dormindo mesmo — Disse, e Zoe acabou rindo demais.
— E você estava me procurando nas câmeras, meu amor?
— Claro que sim! Você não chegou no apartamento, fiquei preocupada. Eu não quero que você trabalhe tanto assim.
— Mas é temporário, hum? Daqui a pouco, a Nina volta para a empresa e teremos nosso casamento e nossos merecidos dias de lua de mel. Aliás, você acha que vamos conseguir mesmo?
— Nós vamos. Ando pensando em algumas saídas alternativas e acho que vou deixar Melbourne com a Preeda, guapa.
— Com a ex-namorada tailandesa...?
— Eu só namorei você a vida toda, está bem? Mas a Preeda é alguém em quem confio, Zoe, ela já fez esse trabalho antes.
— Porque o seu pai é louco por ela, eu sei.
Reira queria rir, mas não podia; ver Zoe enciumada era sempre um EVENTO.
— Ela é advogada, uma ótima administradora, trabalha em consultorias. Nina vai precisar de ajuda por uns meses e tem mais um detalhe... A Sora tinha só uma amiga próxima de verdade, e essa amiga é a Preeda. Sei que ela sabe detalhes dessa história que ainda não contou. Acho que isso pode ser bom para o luto da Nina, meu amor.
Zoe trocou um olhar com ela.
— Vou detestar ter que trabalhar com a sua ex, mas gosto muito de ver você tão empenhada em cuidar da Nina. Como ela está, sexy?
— Ela melhora com umas coisas, fica triste por outras. Cuidar das crianças é complexo, Bryce está trabalhando muito, eu também. A Nina está tendo que cuidar deles sozinha, mas acho que isso é bom, mantém a mente dela ocupada.
— E... elas duas?
Reira sorriu.
— Não faço ideia. Mas a Bryce é maravilhosa com ela, Nina tem cuidado dela também, elas... se complementam muito. Guapa, eu queria falar de uma coisa com você, mas não sei como, porque não quero que você fique chateada ou desista de casar comigo...
Zoe riu um pouco.
— Vamos nos casar, está bem?
— Não importa o que aconteça?
— Não importa o que aconteça. Me fala o que você precisa.
— É que temos ido à terapia presencialmente agora.
— Você e a Nina.
— Isso. Antes era à distância, mas agora vamos pessoalmente. E ela continua me dando as aulas de dança, tem sido... bom.
— Isso é ótimo, Reira, é muito importante mesmo.
— Tem sido bom para nós duas. E eu não queria... — Olhou nos olhos de Zoe — Quebrar isso.
Zoe raciocinou um pouco, pensando no que ela estava tentando dizer. Levou outra garfada à boca; seu jantar estava delicioso.
— Wifey, você quer adiar o casamento um pouco?
— Não! De jeito nenhum! Vou parar de dormir se a gente demorar ainda mais para se casar, Zoe. Mas a Nina não pode fazer uma viagem tão longa com a Miso tão pequena, e eu queria que ela estivesse no nosso casamento.
— Você... quer a Nina presente no nosso casamento? — Abriu um sorriso.
— Eu queria, mas não sei como isso seria possível e se seria. Sei que já gastamos em San Andrés, e que foi algo que nós duas decidimos juntas, porque é um lugar especial para nós, e...
Zoe tomou sua taça de vinho.
— Onde você quer se casar, meu amor?
E Reira... chorou.
Chorou, porque só era muito bom ser amada assim, só era bom ter alguém que confiava tanto, que julgava tão pouco, e não estava acostumada com isso. Sempre fora mimada, isso era verdade, mas seu pai a mimava para... compensar coisas. E sentia de verdade que Zoe a mimava apenas porque a amava muito, e isso era completamente diferente.
— Sexy, olha pra mim, está tudo bem, ok? — Zoe não parava de sorrir; sua noiva era uma graça.
— Ok, tudo bem — Respirou fundo, controlando o choro um pouquinho.
— Fala pra mim onde você quer que a gente se case, em Melbourne mesmo?
— Seria mais simples, não é? Pensei em ser uma herdeira bem fútil como a Sora foi no casamento dela e fretar um voo para trazer os nossos amigos para cá. O que você acha?
Zoe estava rindo demais.
— Acho que é uma boa ideia.
— Mesmo sendo uma atitude muito fútil e tudo mais?
— Podemos levar nossos amigos mais próximos, que não são muitos, e depois fazemos um casamento menor aqui. O que você acha? Fica feliz assim?
Ela ficou feliz assim. E pela manhã, quando Zoe contou da mudança de planos para Barbie e Juli, elas não acreditaram.
— Mas... Zoe... — Juli estava rindo de choque, porque sabia que elas já tinham gastado muito naquele casamento.
— Olha, dinheiro não é problema, MESMO. Eu não tinha total noção no começo, mas agora tenho, e assim, Reira só trabalha, trabalha muito, trabalha duro, o motivo é bonito, então só...
— Você vai transferir um casamento para o outro lado do mundo, literalmente — Barbie estava rindo nervosamente.
— Lembra quando a Cali fazia tudo o que queria e eu não entendia? Agora eu entendo. Quando a Sora se casou com a Nina, fretou um jatinho para levar os amigos da Nina para o casamento, quis casar nas Ilhas Salomão. Reira disse que foi um casamento incrível, com uma festa maravilhosa e quatro anos depois, ela não está mais aqui. Mas ela teve a festa que quis, entende? Ela se casou com a mulher que amava, do jeito que queria. A Cali teve a vida que sempre sonhou. Essas coisas importam. A gente nunca sabe mesmo de nada, então... Vamos nos casar em Melbourne. E ter lua de mel nas Ilhas Fiji. Do que posso reclamar?
De fato, era loucura reclamar de algo assim.
E desta forma, três semanas depois, Zoe estava voando de volta para Melbourne. Jatinho fretado, com os amigos mais próximos de ambas. Tini estava muito empolgada, muito feliz, morrendo de saudades de Reira e animada para conhecer seus primos.
— Então, agora você tem primos? — Zoe perguntou, com ela sentada em seu colo no meio do voo.
— Um primo e uma prima! A Reira disse que eu tenho, mas a prima é... pequenininha assim — Mostrou com as mãozinhas e Zoe a encheu de beijinhos.
— Ela é, você vai precisar cuidar dela, Tini.
— Eu vou ter cuidado! E meu primo...
— Seu primo fala inglês como você.
E ela AMOU essa parte, tanto que saiu correndo para onde Barbie e Juli estavam, para contar que o primo falava inglês. Ela seguia aprendendo espanhol, todo dia sabia um pouco mais, mas continuava mais confortável com o inglês. Zoe estava... meio nervosa. Tanto que Juli notou.
E veio para a poltrona vazia ao lado dela.
— Ok, por que você está nervosa?
Zoe abriu um sorriso.
— É que, com essa história de transferir o casamento, quem está cuidando de tudo é a Reira e eu meio que não faço ideia do que me espera em Melbourne.
— Saiu das nossas mãos, não é?
— Saiu. Mas não sei também se é só isso ou... — Os olhos se encheram de repente.
— Ei... O que foi, Zoe?
— É que eu amo a Reira demais. Eu nem sabia que dava para gostar de alguém assim, eu só... estou morrendo de saudades e cada vez que penso que vamos mesmo nos casar, o meu peito se enche de um monte de emoções diferentes e eu só... não sei — Sorriu, duas lágrimas caindo — Estou feliz demais, Juli.
— De uma transa no elevador direto para um altar de casamento, quem diria, né? — Barbie tinha se aproximado também, fazendo Zoe rir no meio do choro.
— Com uma babaca que eu odiava — Zoe limpou o rosto, tentando se recompor.
— Você nunca a odiou, Zoe. Nem por um segundo. Nunca.
Era toda verdade.
E em Melbourne, Reira estava andando de um lado para o outro no aeroporto sem conseguir parar.
— Reira...? — Nina a chamou, estava sentada, checando seus e-mails, mas Reira não parecia capaz de ficar quieta.
— Falta quanto tempo?
— Exatamente uma hora. Eu disse que a gente estava vindo cedo demais — Guardou o celular, olhando para sua irmã. Então, lembrou de algo que a fez sorrir — É verdade que ela gostava de você sem saber quem você era?
— É verdade! — Respondeu, sorrindo muito — Ela gostava da La Sabre, só conhecia a máscara e a música, mas gostava mesmo assim.
— Ela não ficou irritada quando você pediu para mudar o casamento?
— Não ficou, ela... entende tudo. Sempre. Mesmo quando fica irritada, ela entende. Mas não ficou irritada dessa vez. A Zoe... quer que a gente se entenda, Nina.
Nina a olhou por um momento mais prolongado.
— Lembra como estávamos bem no meu casamento?
— Lembro.
— E lembra que nos desentendemos sério seis meses depois?
— Lembro também.
— Não quero que isso aconteça nunca mais, Reira.
Então, Reira sentou-se bem ao lado dela, observando-a por um momento.
— Nina, a Reira que eu era antes da Zoe, nunca mais vai existir.
Geralmente, essa frase seria meio tóxica, mas se tratando de Reira Kato...
Era apenas maravilhoso que a Reira sombria que existia antes de Zoe nunca mais pudesse retornar.
E isso ficou ainda mais claro para Nina quando viu sua irmã correndo para beijar sua noiva e pegar sua filha no colo.
Ah, sim, com toda clareza do mundo, aquela Reira de antes não existia mais, não podia sequer ser imaginada antes, a que chorava de saudade e felicidade, a que amava em transparência cristalina. Ah, não, aquela nunca existiu; era algo novo, que surpreendia Nina todos os dias. Foi até elas depois daquela cena, cumprimentar Zoe, ser apresentada à pequena Tini, que realmente parecia com Reira, de alguma forma. E estava tão feliz de estar com Reira de novo! Dava para ver naqueles olhinhos angulados o quanto estava, tocando o rosto dela com as mãozinhas, a beijando a todo momento. E imediatamente perguntou dos primos, porque agora ela tinha primos. Reira disse que tinha, e Nina... se derreteu sorrindo.
— Você tem! Estão em casa, se chamam Kai e Miso, são... meus filhos — E os olhos se encheram quando disse isso. Sorriu, porque havia ficado emocional de repente.
— Mas o que está acontecendo? Vim chorando esse voo inteiro — Zoe contou, fazendo Nina rir. Os olhos de Reira estavam cheios também.
— Casamentos causam esse tipo de emoção, eu acho — Nina explicou sorrindo, tentando se recompor — É que são dois meses sem a Sora aqui, Bryce está em estúdio realizando o maior desejo dela, tenho duas crianças lindas comigo, vocês vão se casar, e eu... sobrevivi até aqui.
— Acho que, na verdade... — Reira respirou fundo, segurando firmemente Tini e Zoe — Nós morremos em algum momento, Nina. Mas estamos aqui, em outra vida.
— Nós... estamos.
E vidas pós-tempestades sempre parecem melhores.
Em dois dias, finalmente, as wifes estavam subindo ao altar.
Aliás, subindo mesmo, pois quando o casamento mudou de mãos, Reira fez questão de trabalhar em uma ideia que fosse surpreender sua noiva, que fosse deixá-la feliz, e pensou que, de fato, um casamento na praia parecia com elas, mas um casamento num rooftop.
Tinham se conhecido em um rooftop, tinham se tocado pela primeira vez vendo Bogotá muito do alto, e sendo assim, Reira escolheu o Luminare South Melbourne para elas, um dos rooftops mais lindos que conhecia. Amplo, elegante, quase no meio das nuvens e com uma vista inacreditável para a cidade de Melbourne. Se prepararam juntas. Era impossível algo dar azar para elas duas; isso não existia. Ter o dia de noiva, totalmente agarradinhas uma na outra, foi gostoso demais para elas. Passaram o dia inteiro relaxando, namorando, enquanto sabiam que suas melhores amigas ainda estavam correndo como loucas com os últimos detalhes da festa e com probleminhas inesperados. Nina foi a primeira que interrompeu o dia das noivas:
— Acho que o casamento vazou para a imprensa, algum problema com isso?
— Você acha... Mas por que seria interessante? — Reira perguntou, confusa.
— É que você é famosa, Reira, esqueceu?
— Ah... tudo bem, todo mundo pode saber!
E Zoe estava morrendo de rir.
— Você nunca vai ser discreta, não é?
Ela respondeu beijando sua guapa, MUITO.
Foram momentaneamente separadas para se vestirem. Nina ficou com Zoe, ajudando-a a fechar o vestido. Era um Vivienne Westwood, em dois tons de branco, justo e curtinho. Reira havia conhecido Zoe num mini dress, e ela quis manter esse estilo para o casamento. Os cabelos estavam presos num coque baixo, a maquiagem impecável, os saltos mais do que altos. Zoe estava ficando linda, simplesmente linda.
— Sabe que, antes de você, ela nem queria subir num palco com o próprio rosto? — Nina disse de repente, enquanto terminava de ajustar o vestido nas costas de Zoe, que sorriu ao ouvir.
— O que você quer dizer?
— A Reira é confiante, sempre foi, no trabalho, ou quando ela estava interessada em alguém. Ela sabe que é bonita, competente, interessante, não é isso. Mas ela nunca foi muito confiante em ser vista. Ela queria estar num palco, mas não queria ser vista, e eu sugeri a máscara para ela começar a se soltar. E daí surgiu você, e ela só... quer ser vista, desde que isso seja com você — Então, encarou Zoe pelo espelho — Zoe, obrigada por... não ter ficado irritada em se casar aqui. E nem ter aumentado o drama que eu trouxe para a vida de vocês, não era a minha intenção.
— Ah, Nina... — Zoe se virou e a abraçou com muito carinho, sendo abraçada da mesma forma por ela — Eu quero o coração da Reira saudável e completo. Não sabia muito bem o que faltava antes, mas agora sei que faltava você com ela. Estou feliz de me casar aqui, feliz de ter você conosco, junto com as pessoas mais importantes pra gente. É onde você pertence, ok?
Ela chorou um pouquinho, afirmando em silêncio, mas sabendo que era verdade.
E assim, duas bonequinhas entraram de mãos dadas para se casarem.
Reira estava toda de preto, de Gucci, num minivestido que fez o coração de Zoe acelerar ainda mais do que já estava quando a viu. Optaram por entrar juntas, agarradas, naquela passarela que levava até o altar, que parecia estar flutuando de tão alto que era o prédio!
— Pronta, guapa? — Reira perguntou, olhando nos olhos de Zoe e segurando forte a mão dela na sua. Os cabelos longos, super escuros, estavam soltos, mas com a parte da frente presa para trás, extremamente elegante, cheios de diamantes que brilhavam tanto quanto ela. Reira era uma joia, era o seu amor.
— Para finalmente nos casarmos, sendo que já estamos casadas desde o dia um?
Ela riu, os olhos brilhando intensamente.
— Exatamente isso!
— Mais do que pronta, sexy — Respondeu, beijando delicadamente a mão dela.
E juntinhas, de mãos mais do que agarradas, com olhos brilhando e sorrisos que não se fechavam, Zoe e Reira caminharam para o altar, com o instrumental de "Guapa" tocando. Essa era apenas uma das músicas que Reira já tinha feito para sua musa, provando que o amor, quando é verdadeiro, pode vencer qualquer tempestade, desde que não esteja ferido. Elas nunca se feriram; e assim, apenas sabiam que seguiriam. A cerimônia foi linda, leve, cheia de sorrisos e de fotógrafos. Reira havia autorizado, queria que todo mundo visse, que todo mundo soubesse que estava se casando com Zoe Nuñes, a sua guapa, a mulher mais linda do mundo.
— Temos aqui, para este casamento, neste lindo final de tarde em Melbourne, um casal que não queria ser um casal — A cerimonialista iniciou, causando risos pela cerimônia — Elas não queriam, é sério. Isso tudo começou com uma conversa mais ou menos assim: “eu quero a sua atenção, mas não o seu coração”. E de repente, estavam casadas em TRÊS DIAS. Sabem por quê? Conversando com a Reira para obter informações para a cerimônia, ela disse algo que me deixou muito pensativa. Ela disse que, com a Zoe, ela entendeu que casamento não é um status ou um contrato; é a vida de todo dia. Me disse também que era muito inexperiente nisso de estar em um relacionamento, mas que, com a Zoe, foi aprendendo para onde tinha que olhar, o que precisava prestar atenção, como podia ser uma boa parceira. E tinha que ser assim porque a Zoe não dava nada a ela — Mais risadas, os olhos de Zoe se enchendo, os de Reira também — E voltando à história do “quero a sua atenção, mas não o seu coração”... Acho que essa é a chave, não? O amor não é feito apenas de bons sentimentos e coração cheio, acho, inclusive, que é feito majoritariamente de “ATENÇÃO”, de olhar minucioso, de... perceber coisas tão pequenas que não fazem sentido dizer. Então, esse casal não queria ser casal porque fazia uma ideia TOTALMENTE EQUIVOCADA DO AMOR. Mas agora... — Olhou para aqueles sorrisos mais do que abertos — Acho que elas não só entenderam, como podem dar aula sobre.
Enquanto a cerimônia prosseguia, Nina se viu um pouco enrolada. Precisou sair até o banheiro mais próximo, pois Miso não entendia muito de cerimônias de casamento e decidiu que precisava mudar de fralda naquele momento. Mas conseguiu. Pronto, a vestiu novamente, enquanto seu menino estava a coisa mais linda da vida, todo de terno, os cabelos muito bem penteados e feliz da vida, pois tinha uma prima agora com quem estava brincando do lado de fora, enquanto Nina terminava.
— Pronto, bebê, muito melhor agora, hum? — A pegou no colo novamente e a porta se abriu. O coração de Nina apenas vibrava no peito.
Por que tão bonita? Bryce estava deslumbrante. De vestidinho vermelho, as tatuagens expostas, o cabelo preso num coque baixo, linda, elegante, e Nina só... seu coração batia tão forte que parecia que ia escapar do peito.
— Eu não disse que esse branco não era uma boa escolha? — Ela disse, entrando e pegando Miso no colo, que riu assim que a viu, como se soubesse muito bem que era Bryce, que a amava absurdamente. Bryce a cheirou, fazendo-a rir. Ela estava a coisa mais linda da vida, como podia?
— Sim, que devia deixar para as noivas, mas acontece que...
Ela a olhou.
— Não foi por causa das noivas que eu disse isso. Foi por minha causa. Como vou prestar atenção em qualquer outra coisa com você tão linda nesse vestido, Nina James?
— Bryce... — Derreteu, sorrindo.
— Você está linda — Bryce deixou um beijinho em seu ombro — E eu estou bem atrasada, mas você fez tudo, Miso está linda, nosso filho está lindo e... — Ficaram presas nos olhos uma da outra. E não podiam ficar — Vem. Ou vamos perder o casamento.
Pegaram as crianças e voltaram para o casamento e, quando se sentaram, as mãos apenas se deram, de maneira natural. Tal qual aquele casamento que acontecia.
— E desta forma, as declaro wifey and wifey!
Olhos brilhando, sorrisos que não se fechavam, e o primeiro beijo das recém-casadas aconteceu sob muitos aplausos, na luz mais bonita do fim de tarde e entre milhares de flashes de fotógrafos.
Quase sempre, a vida é mais bonita após grandes tempestades. Eram o pós-tempestade uma da outra e estavam mais do que prontas para descobrir cada pequena novidade que a vida juntas ainda tinha para lhes oferecer.
Reira e Zoe não sabiam nada sobre ser um casal, mas isso não fazia nenhuma diferença. Agora eram wifey and wifey e esse era apenas o ponto inicial.
Notas da Autora: Tessa Reis
Olá, todo mundo!
Primeiro, Feliz Dia do Amor com as bonequinhas de Estilazo, finalmente, se casando! Quem está acompanhando “Hickey” já sabe como a Reira estava temente que tal casamento por algum motivo, não viesse a acontecer, mas todo mundo que leu “Estilazo” tem certeza que muita coisa pode acontecer com Zoe e Reira, menos que elas não concretizem esse casamento, que aconteceu desde o dia 1, como disse a Zoe.
Espero que tenham curtido a leitura do casamento das wifes nesse Dia das Namoradas e, que sigam acompanhando “Hickey”, a história de Nina e Bryce que, gentilmente, elas dividem com as nossas garotas de “Estilazo”.
Grande beijo e lembrem-se que, o mês das namoradas está apenas começando na Riesa Editora!
Com amor, Tessa. ❤️
Voltamos dia 16/06/2024 com Hickey! 😌
Ah, tem pré-venda na Amazon para quem ainda não leu Estilazo:
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