Filipa
“Todas as flores morrem, e o amor é apenas uma fake news que todo mundo acredita sem nem pensar duas vezes. E, secretamente, eu acredito também. Ainda que diga em alto e bom som que todos os meus amores terminaram em sentimentos mortos ou dores de cabeça.
Porém, se alguém dá a você um anel especial, suas flores preferidas e o café mais doce do mundo, você acreditaria na possibilidade do amor novamente, não? Recebi tudo isso na Cidade Luz, a mais romântica, com um bilhete fofo que dizia: ‘Não existe nada neste mundo que não tenha saído do coração de alguém. Sua admiradora.’ E agora, isso é tudo em que consigo pensar. Mesmo que o amor seja uma ideia morta ou uma fake news...”
Voo para Paris, algumas horas antes.
Today is gonna be the day that they're gonna throw it back to you... By now, you should've somehow realized what you gotta do... I don't believe that anybody, feels the way I do about you now...
Filipa se moveu devagar, mexendo o pescoço de um lado para o outro, acordando lentamente, respirando bem fundo. Tirou os fones dos ouvidos – estava escutando uma de suas músicas preferidas, Wonderwall do Oasis – e quando tentou se mover um pouco mais, sentiu um peso no ombro esquerdo. E no peito. E no colo. Sério? Sério! Olympia estava dormindo todinha em cima de si, com as pernas por cima do seu colo, a cabeça no seu ombro, o braço cruzado por cima do seu peito. Como...? Como ela conseguia dormir assim? Mas ela dormia e estava esmagando Filipa contra a janela.
Antes de chegar a Paris, Paris humilhava.
Mas claro, apenas para as meras mortais com passagens compradas na classe econômica. Filipa tinha certeza de que o espaço que faltava naquela classe estava confortavelmente distribuído pelas outras superiores.
— Mia? Acorda, vamos — Tentou despertá-la gentilmente, mas ela seguia dormindo feito uma pedra e o ombro de Filipa já estava dormente — Mia? Olympia!
Ela acordou absolutamente de sobressalto.
— O quê? O que foi?!
— Está me deixando dormente!
— Eu estava...? — Percebeu que estava — ME DESCULPA, nem me dei conta!
— Não tem problema — Filipa moveu o pescoço novamente, suas pernas longas não haviam sido feitas para um lugar tão apertado por tantas horas — Só estava dormente — Moveu o braço e o ombro um pouquinho — Acho que preciso me levantar. Já se passaram quantas horas?
Olympia checou a tela de voo.
— Oito horas, falta pouco. Vamos, anda um pouquinho, vai até o banheiro, vão servir o café da manhã em breve — Se encolheu no banco, abrindo um espaço enorme, e Filipa sorriu — O quê?
— Tão pequena! Uma mochilinha de tão pequena!
Ela riu.
— Para, idiota!
— Se levanta um pouco também, Mia, por causa da sua coluna.
— Está bem.
Assim, Filipa foi para o banheiro com uma pequena nécessaire, e Olympia se colocou de pé, andando um pouco de um lado a outro, girando o tronco para alongar, jogando os braços para cima numa pequena corridinha, criando um aquecimento só dela, uma graça. A amava. E sempre amaria, disso tinha certeza.
Sim, estavam indo juntas para Paris pela primeira vez! Uma viagem idealizada, muito sonhada. Desde quando Filipa lembrava de ter começado a sonhar, ela sonhava com Paris. Desde o ensino médio, quando sua melhor amiga lhe contava sobre a Cidade Luz, sempre quis ir. Quando abandonou a faculdade de Arquitetura por um curso de Barista, colocou na cabeça que iria para Paris, que provaria a gastronomia de rua da cidade, que beberia diretamente dessa fonte de inspiração.
Então, há um ano mais ou menos, havia conseguido finalizar seu plano de negócios e notou que suas economias abarcavam seus dois sonhos. As coisas foram acontecendo, e quando tudo começou a dar muito certo para Filipa Castro e sua ideia maluca de ganhar dinheiro com ótimos cafés e petit fours sofisticados, decidiu comemorar comprando passagens para Paris e deu para Mia de presente de Dia das Namoradas. Olympia estava galgando carreira no próprio negócio também, gostava de informar que era CEO de sua própria empresa de produção visual. Produzia clipes, comerciais para internet e, no último mês, havia assinado sua primeira produção para TV aberta. Ela era boa nisso, talentosa, artística, criativa, estava em um ótimo momento profissional e amou a ideia!
Bem, quando Filipa decidiu comprar as passagens, tinha em mente passar o próximo Dia das Namoradas em Paris com a garota que amava; só não contava que o namoro delas acabaria seis meses antes.
Estavam separadas agora, e o motivo tinha sido que, tão absorta no próprio trabalho, Mia falhara em comparecer na inauguração do empreendimento de Filipa. Ok, não era um supernegócio, não estava em um prédio importante do Itaim Bibi como Olympia, mas estava em um parque do Itaim Bibi, com sua cafeteria sobre rodas.
Era uma bicicleta mesmo, acoplada a um carrinho de madeira, onde conseguia preparar cafés, leites especiais, chocolates quentes e vender petit fours de todos os tipos: doces bonitos, bolos especiais. Todos os dias, pedalava sua bike-café por meia hora até o parque onde trabalhava e, depois, pedalava de volta para guardá-la no estacionamento do prédio onde Olympia tinha seu escritório. A bicicleta era toda preta e amadeirada, com detalhes em amarelo, e havia sido feita com todas as economias que conseguira juntar na vida. Bem, metade das economias foram nas passagens para Paris; a outra metade, na sua bike-café.
Chamava-se “1Q e café”, uma referência ao livro “1Q84”, de Haruki Murakami, um dos seus preferidos e também uma maneira poética de ver seus petit fours e seus acompanhamentos para um café. Servia sempre um “q” de algo delicioso e diferente e algum café gostoso, enfim. Havia lido este livro quando era adolescente, ao lado de sua melhor amiga, e incorporá-lo ao seu negócio apenas pareceu natural.
“Não existe nada neste mundo que não tenha saído do coração de alguém.”
Era a sua citação preferida. Então, inaugurou o seu sonho e sua namorada não estava presente. Tal como também não esteve presente no seu aniversário, no último Natal, ou quando pegou Covid e precisou de um pouco mais de ajuda. Ela tinha um motivo nobre para todas essas ausências; estava focada na sua empresa, que, de repente, entrou num hype inacreditável de crescimento. Filipa estava feliz por ela, estava orgulhosa, estava ao seu lado em cada momento importante. Ficaram juntas por três anos e Olympia sempre havia sido distraída, esquecida, não era de lembrar datas importantes ou de captar detalhes. Filipa também não tinha a melhor das memórias e também trabalhava muito; ambas estavam em busca dos seus próprios sonhos. Mas quando todos os seus amigos compareceram na sua inauguração e sua namorada não...
Chorou uma noite inteira. E entendeu que talvez aquilo não fosse exatamente amor mais, ao menos, não um amor romântico, coisa que, na verdade, já não era com Olympia há um bom tempo, mas de alguma maneira, continuou lutando por aquela relação. Ela era uma boa amiga. Mas quando faltou à inauguração do seu sonho, sentiu que ela havia falhado até como amiga. Olympia levou quase 24 horas para notar que havia esquecido. E Filipa sabia que não era por mal, sabia que ela se sentiu muito culpada com tudo, mas apenas... não dava mais. Quem olhasse para Filipa jamais apostaria que ela era uma romântica, mas, no fundo, era. E ansiava por algumas coisas que sempre soube que não viriam de sua namorada, por simplesmente não ser o perfil dela.
Então, terminaram, e foi difícil. Por um mês inteiro, foi muito difícil, mas depois, aos poucos, voltaram a se falar. Quando a viagem se aproximou, Olympia perguntou se ainda podiam ir juntas. Ela cuidaria de tudo, seria uma viagem de amigas, que mal podia fazer?
Filipa respirou fundo e se olhou no espelho do banheiro. Tinha olhos de boneca, grandes e castanhos, cabelos super longos e escuros, com a franja desfiada quase cobrindo seus olhos, e piercings em uma das orelhas. Respirou fundo novamente e abriu um sorriso: estava chegando a Paris! Era verdade e seria bom. Não seria exatamente a Paris romântica que havia planejado inicialmente, porém, estava com alguém que amava e iria reencontrar sua melhor amiga, que morava em Londres e prometeu que viria por uns dias. Paris seria linda, Olympia estaria ao seu lado e Sorín estaria consigo por uns dias. O que podia ser melhor? Não via sua amiga há três anos, desde que ela esteve no Brasil antes de ir em definitivo para Londres, e não via a hora! Quando comprou as passagens, também pensou nela, em Sorín. Pensou que poderiam se reencontrar, era tudo tão perto e agora iria acontecer. Seu coração estava nervoso com isso de uma forma que não conseguia explicar.
Bem, Olympia explicava.
— Você vai carregar este livro para sempre? — Ela perguntou, quando Filipa voltou para o seu assento.
— Você não tem um livro preferido, não?
— Na verdade, acho que não. Mas você pode pegar um eBook, né? Que não ocupa espaço.
— Eu gosto de livro físico.
— Não, você gosta desse livro velho. Só porque foi aquela insuportável da sua melhor amiga que te deu.
— Ahhhhh, você não tem uma melhor amiga por acaso?
— Na verdade, acho que não — Ela respondeu, com a maior naturalidade.
— Mia... — Filipa quis rir.
— É verdade! Todo mundo me vê apenas como concorrente. Olha, vão servir o café! — Apontou, empolgada. Mia tinha um sorriso lindo, Filipa adorava aquele sorriso, adorava aqueles olhos expressivos e escuros, amava que ela fosse minúscula, mas toda curvilínea, e que parecesse altamente ameaçadora, apesar de ser toda adorável assim. Olympia Thanassis era uma mulher de negócios que, aos 27 anos, vivia sua melhor fase profissional. E, ao mesmo tempo, parecia um bebê. Aquela combinação sempre pegava Filipa demais — O que acha que vão servir? Eu devo ser a única pessoa no mundo que gosta de comida de avião.
— Deve ser mesmo — Filipa respondeu sorrindo — Mia, a questão toda é que você não socializa. Se você começar a socializar um pouco mais, vai parar de só encontrar concorrentes. Seus relacionamentos são todos baseados em relações de trabalho — O café chegou até elas, uma bandejinha com pão, manteiga, frutas, geleia, biscoitos e café. Nada mal.
— Você é minha amiga e não é uma relação de trabalho — Ela se defendeu, bufando um pouquinho.
— Eu não conto exatamente. Me conta, há quanto tempo você não dormia tanto?
— Acho que... — Ela mordeu o pãozinho e atacou o café, como se não comesse há dias, e Filipa nem duvidava disso. Do jeito que a vida de Olympia era agitada, podia ser isso mesmo — Uns três dias, foi bem corrido antes da viagem.
— Mas você acha que vai conseguir um tempo pra você? Teremos dez dias em Paris, queria que você pudesse curtir também.
— Lila, eu vim para ficar com você — Ela disse, olhando-a nos olhos — Enquanto a gente estiver lá, quero toda a minha atenção em você. Eu te devo isso, devo isso a nós duas.
— Olympia...
— Eu sei, estamos aqui como amigas, mas amigas também precisam de atenção, não? Foi por isso que você terminou comigo.
Filipa apenas a olhou.
— Eu só quero que você cuide melhor de você mesma, Mia. Você é importante pra mim.
Olympia agarrou o braço dela com apego, recostando o rosto em seu ombro.
— E você é importante pra mim. Fiz tudo pra gente ter esse tempo.
Filipa beijou os cabelos dela, com carinho.
— E nós iremos ter. Vai ser bom, muito bom.
Porém, começou a virar uma dor de cabeça ainda no táxi.
Sim, o caminho até o hotel foi simplesmente... mágico. Filipa não conseguia descrever de outra forma, seus olhos se encheram de brilho assim que saíram do aeroporto e era como se já houvesse estado ali. Reconhecia cada lugar, era como se estivesse dentro do seu Pinterest e não parecia real, simplesmente, ainda não parecia real. Mas aí, dor de cabeça ainda dentro do carro.
— Sabe o que é muito engraçado? Você fala da minha falta de atenção, mas agora, eu estou aqui do seu lado e você não solta este celular — Reclamou Olympia.
— Sorín só quer saber se chegamos bem — Filipa disse, anexando fotos e fotos que havia tirado ainda no carro.
— Ela sempre recebe toda a sua atenção.
— É porque ela me dá atenção de volta.
Silêncio.
— O que ela faz mesmo?
— É restauradora de arte no Victoria & Albert Museum.
— Chato — Mia respondeu com desdém.
— Não seja irritante, vamos.
— Ela é chata, não é minha culpa. Você já contou que era apaixonada por ela quando eram adolescentes?
— Você quer parar? Não sei de onde você tira algumas coisas.
— Desse jeito idiota que você fica toda vez que fala com ela!
— Olympia, nós não estamos mais juntas, e nem quando estávamos você fazia esse tipo de cena.
Ela só olhou de lado.
— Isso foi rude da sua parte.
— Você começou a ser rude primeiro. Mia, você sabe que essa história...
— Machuca o seu coração de amor adolescente não correspondido. Ela é hétero, apenas um lembrete.
Apenas a olhou, sem responder mais.
Chegaram no hotel, um belíssimo hotel, diga-se de passagem. Quatro estrelas, clássico, altamente parisiense, com construção moderna, mas toques clássicos. Todo preto, cinza e cheio de vegetações, com muitas flores e muito verde, o que fez Filipa sorrir de imediato.
— Mesmo? — Filipa perguntou sorrindo para sua amiga.
— Achei que fosse causar essa reação — Disse Olympia, beijando delicadamente a mão dela.
Mas aí, a dor de cabeça voltou.
Por algum motivo desconhecido, Olympia havia aparentemente perdido o seu passaporte. Não estava em lugar nenhum, o que dificultava o check-in das duas, já que as reservas estavam no nome dela.
— Ok, tudo bem, a gente deve ter perdido entre o aeroporto e o táxi, ou ficou no táxi, enfim, mas você é europeia, não é?
— O meu passaporte grego!
— Isso, você sempre traz na mala. Onde ele está?
Estava na bagagem. Abriu a mala, na recepção do hotel mesmo, e conseguiu resgatar seu passaporte grego lá de dentro. Serviria também. Então...
— É sério isso?
— Está dando recusado, senhorita. Melhor, está... dando bloqueado — Informou a recepcionista.
— Bloqueado?
— Aparentemente, este cartão está bloqueado, senhorita Thanassis.
Elas trocaram um olhar.
— Só um minuto, vou tentar falar com o meu banco.
Olympia pediu um segundo para tentar falar com seu gerente e entender o que estava acontecendo, enquanto Filipa tentava pensar numa saída própria. Havia um jardim de inverno, onde provavelmente era servido o café da manhã, muito bonito, cheio de verde, com flores, plantas e afins. Decidiu sentar-se lá enquanto pensava numa possível solução. Mas qual solução poderia dar? Aquele hotel deveria custar o dobro do que havia trazido para aquela viagem inteira. Seu pequeno negócio estava indo bem, mas nem de longe tão bem quanto a produtora de Olympia, enfim. Então, sentou-se. Ainda estava bem cansada da viagem, usava um suéter branco, calça jeans e um casaco pesado por cima; era final de inverno em Paris. Checou a temperatura: onze graus, nem estava tão ruim. Os cabelos soltos, esvoaçando ao vento suave. Bonita, estilosa como sempre, e então chegou outra mensagem em seu celular:
"Já está descansando? Gostou do hotel?"
Sorriu. Ela era sempre tão atenciosa. Mesmo com o fuso horário, mesmo com a correria na qual vivia, sua amiga sempre achava uma forma de estar presente, o que era um enorme privilégio, uma vez que não existia ser humano mais distraído do que Sorín Bernard. Achava que nem era exatamente isso; ela era focada, na verdade. Passou o ensino médio inteiro focada em estudar Belas Artes, em querer fazer carreira na Europa, em voltar a morar em Paris, onde havia passado sua infância com a avó materna antes de ir para o Brasil. E era verdade, Olympia tinha razão, era bem possível que Filipa tivesse mesmo passado sua adolescência inteira com uma única coisa na cabeça: aquela garota linda, de lábios em formato de coração, que ria de tudo feito uma idiota e não conseguia notar nada, mesmo que estivesse bem diante daquele narizinho lindo que ela tinha.
Sorín só tinha olhos para os estudos, e Filipa, por muito tempo, só havia tido olhos para ela. Mas isso havia ficado no passado, era outro momento agora. Não ficava mais pensando nela, ao menos... não tanto. Era menos, sim, era menos. E enquanto Filipa estava totalmente entretida respondendo para ela, de repente, alguém se sentou na sua frente naquela mesinha redonda de café:
— Posso tomar um café com você? — A moça perguntou, em perfeito francês.
E o coração de Filipa deu uma leve acelerada no peito. Ela era... uau! Alta, bonita e muito estilosa. Usava uma calça de alfaiataria clara, cintura alta, cropped preto de manga longa e uma camisa branca de botões por cima, aberta, apesar do frio, o que não parecia incomodá-la. Cinto elegante, cabelos claros presos em um coque baixo, mocassim nos pés, olhos tenazes. E loiros. Jurando por Deus, a melhor definição da cor daqueles olhos era essa.
— Você diz...? — Respondeu em inglês.
— Um café — Ela continuou, também em inglês, com um sorriso charmoso no rosto — Tem ótimos cafés aqui e pensei em dividir um com você, enquanto aguardo para fazer check-in.
— Ah, nós estamos atrasando a fila, me desculpe, tivemos um problema.
— Eu notei. Sua namorada está resolvendo?
— Nós não... não somos um casal — Respondeu Filipa, meio hipnotizada.
Ela sorriu.
— Por favor, posso pedir um café para nós duas?
Filipa moveu a cabeça, achando que tinha dito sim. Ela pediu café para ambas, que foram servidos alguns minutos depois: um lindíssimo affogato com biscoito. E estava delicioso.
— Você já conhece o hotel? — Filipa perguntou. Agora sua mente já tinha destravado. Conversaram enquanto esperavam os cafés, mas ela não sabia exatamente o que a outra havia dito ou o que havia respondido. Ela era bonita. Mesmo.
— Sim, costumo ficar aqui quando venho a trabalho em Paris — A moça respondeu, sorrindo charmosamente.
— Hum, você é de onde?
— Sou espanhola, Liv Rinaldi. Nem me apresentei, não é? Desculpe — Abriu outro sorriso, esticando a mão em direção a Filipa.
— Filipa Castro, brasileira.
— E tem o sorriso mais lindo que já vi na minha vida — Ela deslizou a frase, olhando Filipa diretamente nos olhos e fazendo os batimentos dela aumentarem apenas com seu tom de voz.
Que mulher era aquela?!
— Eu amo esse livro! — Disse Liv, notando o exemplar de 1Q84 escapando da bolsa de Filipa — O autor é um dos meus preferidos.
— Esse aqui? Acho que já li umas dez vezes, é meu comfort-book com toda certeza.
O café durou dez minutinhos, até Olympia surgir no jardim de inverno. Ela deu uma olhadinha na cena, e seus olhos ficaram ligeiramente afiados. Caminhou até a mesa.
— Oi! — Esticou a mão para Liv — Olympia Thanassis, tudo bem?
— Prazer, Liv Rinaldi — Ela se levantou educadamente — Você conseguiu resolver o problema? Posso ajudar de alguma forma?
— Ah, foi uma suspeita de fraude. Meu banco acabou suspendendo meu cartão momentaneamente, mas já consegui resolver. Filipa, você precisa fazer check-in.
— Sim, sim! Eu vou... vou fazer check-in. Obrigada pelo café, Liv.
— Espero que não seja o último — Disse Liv, com outro daqueles sorrisos sedutores.
E assim, Filipa acabou batendo o joelho na mesa quando se levantou. Uma graça! Havia ficado meio nervosa, por Liv ou por aquele olhar afiado de Olympia, quem poderia saber? Voltaram para dentro juntas, e Filipa esperou que Mia fizesse algum comentário, mas ela se manteve em silêncio. Parecia estar lutando com a ideia de que, naquele momento, eram apenas amigas. A própria Filipa estava lutando um pouquinho com essa ideia. Não era um término recente, mas teve Mia por tanto tempo na sua vida que... ainda não sabia muito bem como se sentia. Bem, fez seu check-in e, finalmente, subiram para o quarto delas. Um quarto delicioso, com uma varandinha com vista, banheira no banheiro e cama de casal.
— Olympia...
Ela lhe abraçou por trás, enfiando o rosto nas suas costas.
— Odeio dormir sozinha. E você também odeia.
Filipa deu uma olhadinha para trás.
— Você vai se comportar?
— Muito! Juro que vou! — Ela prometeu, fazendo Filipa rir demais.
Não podia negar, era bom estar com ela. Mesmo que se desentendessem e discordassem em muitas coisas, era bom estar com Mia. Foi ótimo se vestirem juntas outra vez depois do banho. Era algo que adoravam fazer em casal; esses momentos sempre rendiam as melhores conversas, enquanto decidiam o que vestir ou se maquiavam diante do mesmo espelho.
Então, saíram para jantar. Foram caminhando por aquelas ruas históricas e pitorescas, escolhendo um restaurante apenas pelo olhar. Tudo pertinho do hotel, não queriam ir muito longe, apreciando todas aquelas luzes mágicas e aquela atmosfera única.
— Esse aqui, então? — Olympia perguntou, pegando no seu braço.
— Esse aqui, você gosta?
— Gosto muito — Respondeu, toda agarrada nela — É bem bonito, não é?
Era bem bonito. Ficaram naquele restaurante e tiveram um jantar maravilhoso, ótima comida, ótimo papo, estavam cansadas, mas nem parecia. Estavam felizes, empolgadas, algo no coração de Filipa estava esquentando. Era felicidade, achava. Ou apenas um sentimento de que algo muito bom estava por vir.
Dormiram juntas, agarradas, mas foi apenas isso, e foi bom, foi gostoso. Porém, quando Filipa saiu da cama pela manhã, Olympia se recusou a levantar.
— Mas Mia...
— Só mais uns minutinhos, estou com muito sono, Lila. Faz ANOS que eu não durmo — Ela respondeu, toda agarrada nas cobertas — Posso te encontrar mais tarde?
Filipa voltou, beijou os cabelos dela com carinho.
— Pode. Claro que pode. Me avisa quando acordar, está bem?
Ela abriu aquele sorriso lindo.
— Eu amo você.
— Eu também amo.
Foi para o banho e teve um momento... maravilhoso na banheira. Havia tido um ano de muito trabalho, também estava muito cansada, mas ter aquele momento ali, no seu banho, na cidade dos seus sonhos...
Seu celular deu sinal e ela abriu um sorriso porque era Sorín.
“Eu só quero lembrar que você tinha um sonho na adolescência e que hoje, você está acordando no seu sonho. Estou muito orgulhosa de você e não vejo a hora de te encontrar."
Sempre tão doce. Mais doce que um affogato. Respirou fundo, saiu um suspiro.
Terminou seu banho, se cuidou, aplicou seus cremes, protetor solar, maquiagem e perfume. Checou a temperatura, estava mais agradável ainda que no dia anterior. Calça preta, suéter longo, cores claras, botas de cano longo, lenço no pescoço, cabelos soltos. Escolheu um casaco, pegou sua bolsa, deixou outro beijinho em Olympia, que havia voltado a dormir pesado. E desceu.
Primeiro, para o café da manhã, primoroso, cheio de coisas gostosas. Nem soube muito bem por onde começar, queria provar tudo, todos os sabores, tudo o que Paris tinha a oferecer. Pegou uma das mesas redondas e, de canto de olho, viu Liv passando pela recepção. Óculos escuros, toda de preto, falou algo com a recepcionista e seguiu para um carro que parecia aguardá-la.
Ela parecia ocupada. Como podia uma mulher ocupada ser tão sexy? Isso explicava por que sobreviveu com Olympia por tanto tempo. ENFIM.
Voltou a tomar seu café, deu uma olhada no seu roteiro do dia. Havia pensado nele junto com Sorín. Ela havia feito uma lista de seus lugares preferidos por Paris, só tinha especificamente pedido para Filipa esperar que ela chegasse para irem a Montmartre juntas. Era o seu lugar preferido. E, enquanto fazia isso, um dos garçons se aproximou da sua mesa.
— Senhorita Castro?
— Sim?
— Para a senhorita — Ele baixou uma mini bandeja e deixou na mesa dela.
Filipa olhou para a bandeja e viu que era um affogato especial, alguns chocolates lindos, uma rosa-vermelha e uma caixinha preta, delicada, com "La Méduse" escrito bem em cima.
La Méduse? Abriu a caixinha e viu que era um belíssimo anel em ouro bege, provavelmente de muitos quilates, com acabamento matelassê. Lindo! E devia custar uma pequena fortuna. Ao menos, para ela. E sob a rosa, lá estava, um pequeno envelope com seu nome, guardando um breve cartão:
“Não existe nada neste mundo que não tenha saído do coração de alguém. Aproveite sua estadia, se apaixone por Paris. Estar apaixonada é sempre o melhor estado de espírito, não desista dele!
Sua admiradora.”
E seu sorriso apenas se abriu.
Filipa olhou ao seu redor. Não, nenhum rosto conhecido. Leu aquele curto bilhete novamente, digitado, nada de escrita à mão. Seu sorriso não mais se fechou, permanecendo largo, brilhante, empolgado. Cheirou a rosa, pensou mais um pouquinho. Era sério? Tinha mesmo recebido algo assim? Porque aquele combo de beleza, delicadeza e apego tinha sido disparado como uma flecha e acertado bem em cima do seu coração.
Tinha uma admiradora, era isso mesmo? Ao menos, era o que aqueles delicados presentes lhe diziam. Provou do café, mordeu um dos chocolates, cheirou a rosa mais uma vez e, bem delicadamente, colocou o anel no dedo. Perfeito! Era do seu exato tamanho. Olhou ao redor novamente, como que buscando alguma resposta, mas não havia nenhuma. Na verdade, havia apenas aquela pergunta:
Quem seria a sua admiradora?
A oito dias do Dia dos Namorados, na cidade mais romântica do mundo, quem seria a sua admiradora?
Notas da Autora: Tessa Reis
Olá, todo mundo! Como estamos? Por aqui, temos mais um conteúdo de First Look para os nossos assinantes e, com o novo minibook chegando para compor nossa singela coleção de livros exclusivos aqui do site!
Affogato foi construído diferente dos outros minibooks, todos mais focados em duas personagens centrais apenas, até mesmo pelo resumido dos capítulos. Pois então, agora temos quatro protagonistas, dez capítulos e ao menos, umas oito construções de relações passando pelos seus olhos durante a leitura. Piscou e você perdeu algo importante na missão de descobrir quem é a admiradora secreta de Filipa!
Grande beijo! Affogato será lançado no dia 16/8! 😌
Ansiosa! Um início de book para nos deixar com coração na mão!😊
Esse primeiro capitulo ja começou assim maravilhoso imagina qdo eu ler a historia toda, agora me pergunto quem sera a admiradora secreta da Filipa eu ja ate fiz uma aposta com minha amiga para descobrir quem e essa admiradora... que comece a aposta🤣.Tessa amei esse primeiro capitulo 😍
Muito bom…ja amei 😍 voto na garota de olhos loiros
Gente, adorei esse primeiro capítulo, ainda mais com esse easter egg tão especial... E fico me perguntando quem será a admiradora secreta da Lipa - assim como a Cristina tem o voto dela, eu tenho o meu e esse voto convidou a Lipa pra um café no dia anterior 🤭🤭
Gente e esse easter egg de La Méduse? Adoro como todas as histórias sempre se encontram umas nas outras com esses pequenos presentes dentro dos capítulos! Já pode iniciar o bolão de quem é a admiradora secreta? Porque eu já tenho o meu voto… 🌞