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FIRST LOOK - Ristretto

Atualizado: 21 de mar.


capa Ristretto
Ristretto


First Look - Ambição


“Sobreviver é uma experiência individual, todos nascemos para ser sozinhos; o amor é uma quimera que todo mundo persegue tentando fechar buracos causados por outros experimentos emocionais. É por isso que esses buracos nunca se preenchem. É apenas uma ambição.


Mas se todo mundo nasce para ser sozinho, por que aquele bendito sorriso tem tanto efeito sobre mim? Foi o sorriso. Quando vi aquele sorriso, eu só sabia que estava encrencada. Em outro cenário, você poderia só classificar a minha obsessão por aquele sorriso lindo como uma paixonite, mas do jeito que as coisas se mostram agora, acho que preciso admitir que meu apego pode ser facilmente classificado como uma ambição. Ou cobiça. Eu cobiço. Não só aquele sorriso, cobiço a garota inteira. Ela é a minha ambição. Qual é a pena para cobiçadores? Ou para quem ambiciona o que não está disponível?”


Escrito com caneta hidrográfica cor de rosa, em uma das colunas dos 62 quilômetros de pórticos de Bologna.

 

Rome tinha certeza de que sua vida seria muito melhor se não tivesse Valen como sua colega de quarto.


Certeza mais do que absoluta, tanta certeza que nem cabia dentro de si de tão certo que era, tanto que, durante o caos no qual acordaram naquela manhã, acabou gritando isso a plenos pulmões:


— TENHO CERTEZA DE QUE A MINHA VIDA SERIA MUITO MELHOR SEM VOCÊ AQUI! — Disse, enquanto tentava encontrar seu resumo no meio das pilhas de roupas que sua adorável colega de quarto vivia espalhando pelo ambiente inteiro. Estava quase atrasada, havia acordado fora de hora, culpa dela também, que tinha feito questão de chegar de madrugada, despertando Rome do seu sono absolutamente fora de hora.


E agora, simplesmente, não encontrava suas anotações. Tinha se vestido às pressas: calça preta, blusa de lã preta com algumas listras brancas, deixando ver uma nesga do seu abdômen quando se movia, jaqueta jeans. Tinha acabado de encontrar uma de suas jaquetas soterradas dentre aquelas roupas todas que não eram suas, pois suas roupas viviam DENTRO DO GUARDA-ROUPA, simples assim. Ok, vestiu a jaqueta, mexeu em seus cabelos escuros, que mal havia conseguido tempo para secar. Seus tênis! Achou seus tênis embaixo da cama dela. Ela surgiu, saída do banho, descalça, jeans clássico, top branco, nada mais. Os cabelos longos molhados pingando no chão do quarto.


— Ok, qual é a emergência aqui, bella irritata? — Era um dos apelidos que ela havia dado a Romana, algo como "bela irritadinha".

— Eu não consigo encontrar o meu resumo e a culpa é sua! É dessa bagunça na qual você vive e me obriga a viver junto!

— Ah, por isso você estava aqui gritando algo como...

A minha vida seria muito melhor sem você aqui, sim!

— Pois tenho certeza de que a sua vida seria muito melhor se você me desse uns beijinhos ao invés de viver nessa sua pilha diária aí.

— Você quer deixar de ser idiota só um pouquinho e me ajudar aqui? Isso é importante!

— Óbvio que é importante! Tudo o que vem da acadêmica de medicina mais aplicada de toda Bologna é importante.

— Você... para, ok?! Só... — Rome tentou se acalmar, fechou os olhos por um instante, respirou fundo e abriu os olhos novamente. E lá estava ela, a implicante com quem dividia o quarto há um mês, de quem não sabia nada, sequer o nome. E que ficava super atraente naquele tipo de jeans, que tinha uma cintura superdelicada, um abdômen que...

— O que foi?

— Coloca uma camiseta, você não mora sozinha aqui! — Pegou sua bolsa lateral, seu celular e foi caminhando para a saída do quarto.

— Romana, ei! Eu vou te ajudar a procurar. Como é o negócio que você está procurando?

— Eu não tenho mais tempo, se ficar aqui procurando, vou perder o café e...

— Se a senhorita perfeita não consegue cumprir um requisito da sua organizadíssima rotina diária, o dia inteiro estará destruído, eu sei.

— Não tem como falar com você, não sei por que ainda insisto! — E apenas saiu, batendo a porta com força.


Ainda a ouviu chamando o seu nome, mas deixou pra lá. Não adiantava, não sabia por que ainda insistia em tentar algum tipo de comunicação decente com Valen. As coisas eram como eram, precisava aceitar que era assim e foi nisso que ficou pensando durante todo o caminho até o refeitório.


Romana fazia Medicina em Bologna, a cidade mais tradicional da Itália no que tocava a vida universitária. A primeira universidade do mundo foi fundada em Bologna, a capital da histórica região de Emília-Romanha, no norte do país. Suas principais características rendiam apelidos interessantes para a cidade. Bologna era "la rossa", ou seja, a vermelha, pelos tons avermelhados de seus prédios, era "la grassa", a gorda, pelo tanto que se comia bem ali, e era "la dotta", a inteligente, pelo alto valor que dava à ciência e à educação. Quando Rome começou a pensar em fazer faculdade fora, pensou na Itália. Era brasileira, mas tinha descendência italiana e viu na oportunidade uma chance única de se aperfeiçoar no idioma e de estar em um centro educacional tão tradicional. Se tudo desse certo, se formaria numa ótima universidade e poderia viver na Europa, escapando das diferenças sociais que sempre a marcaram tanto no Brasil.


Não tinha muito dinheiro, nunca teve. Sua família juntou durante muito tempo o valor necessário para sua passagem aérea e para pagar um lugar onde ela pudesse ficar, e com seu esforço próprio, conseguiu uma bolsa de estudos, que era o que, em parte, a mantinha. Porém, estar em Bologna acabou se mostrando muito mais desafiador do que tinha em mente. Mas ter conhecido sua namorada logo nas primeiras semanas de faculdade simplesmente mudou tudo.


E sua mente se acalmou apenas de pensar nela, era isso, o efeito de Karina nunca havia mudado. Romana se sentia mais segura, mais capaz com ela por perto, e talvez, se não fosse por ela, sequer teria chegado ao seu terceiro ano. Ficar longe de sua família tinha sido muito mais difícil do que havia imaginado. Já não era uma adolescente quando se mudou, estava com vinte anos, mas sentiu falta de tudo, se sentiu pressionada por tudo. Tinha uma bolsa integral, precisava fazer valer todo o esforço, não só seu, mas de sua família também. E numa noite, quando estava prestes a desistir, pois o idioma era difícil, as pessoas eram difíceis, ainda não havia conseguido uma colega de quarto para dividir as despesas, não estava conseguindo entender as matérias e seu italiano estava se mostrando precário, numa noite assim, onde estava sentada sozinha chorando em uma das áreas de convivência do campus, Karina apareceu.


Toda de preto, linda, os cabelos presos em duas tranças longas, um sorriso terno, um rosto lindo em formato de coração. E foi compreensiva, foi dócil, perguntou se podia ajudar de alguma forma, se podiam pegar um café na recepção e conversar um pouco. Então foi o que fizeram: foram para a recepção, pegaram um café na máquina automática, horroroso, o que fez as duas rirem e a conversa apenas... encaixou. Seu coração simplesmente se acalmou. O local onde morava era um alojamento para estudantes, mas também funcionava como um hotel regular para turistas. Quando perguntou para Karina qual curso ela fazia, aquela garota respondeu que era Engenharia, mas em outra faculdade, o que fez Rome pensar que ela estava ali como hóspede.


Levou mais uns três encontros até Karina explicar que, na verdade, morava em outro campus, apesar de os pais terem residência numa cidade vizinha que ficava a uns vinte minutos da faculdade em que ela cursava. Explicou também que a namorada atual morava naquele campus, motivo pelo qual tinham se encontrado naquela noite. Disse que o namoro já estava quase terminado quando se conheceram e que, naquele momento, já estava encerrado. E, sendo assim, perguntou se podiam sair num encontro de verdade.


Romana aceitou e, daquele encontro em diante, se tornaram indivisíveis. Karina a ajudou a estudar naquele primeiro ano, a assistiu de maneira gigantesca com o idioma; em seis meses, Rome estava quase fluente e ia para as suas aulas com o único objetivo de honrar sua bolsa, muito mais tranquila, se sentindo muito melhor. Nesse mesmo período, começou a fazer amizades. Existiam muitos estrangeiros no campus, com quem se dava melhor, pois os italianos eram um desafio à parte. Mas com os estrangeiros, dividia jornadas parecidas, era mais simples de se entrosar. Porém, apesar do jeito direto até demais dos italianos, namorava uma italiana e sua melhor amiga também era italiana e estava a esperando no refeitório para o café da manhã, tal como todos os dias.


— Ei, você! Achei que fosse se atrasar — Disse sua amiga, já na fila para o café. O buffet era livre, mas tinha fila para pegar o café, que era preparado individualmente por uma barista. Os italianos cuidavam realmente com afinco do seu café.

— Eu quase me atrasei — Deixou um beijo no rosto dela — Vou pegar uma mesa pra gente, você pega café pra mim?

— Pego. O de sempre?

— Um ristretto, isso.


Encontrou uma mesa para elas quase que por milagre. O motivo de sempre ir para o refeitório no mesmo horário era que conseguia pegar uma mesa para comer devidamente antes de ir para a aula, mas nem valia a pena tentar explicar isso para sua colega de quarto. Marcou uma mesa e voltou para o buffet, pegou pão italiano, geleia de morango, duas fatias de melão, o que comia sempre. Sentou-se com sua bandeja e ficou pensando nisso, por motivo nenhum.


E então, Sierra chegou.


— Prontinho, um americano pra mim e um ristretto pra você. Trouxe ovos com bacon também, porque...

— Todos os dias como a mesma coisa — Disse, ainda olhando fixamente para sua bandeja.

— É, meio que... sim — Sierra se sentou do lado oposto, para que ficasse de frente para ela. Haviam conseguido uma mesa do lado de fora, o sol estava suave, esquentando aquela manhã fria — Está tudo bem?

— Sim, é só...

— Brigou com a Valen de novo?

— O de sempre, igual... ao meu café da manhã — Começou a comer — Eu sei que ela sequer deve ter ouvido, mas ontem comuniquei a ela que tinha uma apresentação importante hoje. Mas ainda assim, ela chegou tarde, praticamente de madrugada, acho que revirou o quarto em busca de alguma coisa. Eu acordei, dormi de novo e perdi a hora, perdi minhas anotações no meio da bagunça dela, ENFIM. Quase me atrasei e vou ter que apresentar sem o meu roteiro.

— Rome, você deveria... tentar de novo. Abrir o diálogo com ela.

— Como, Sierra? É impossível, simplesmente impossível. Essa garota está dormindo do meu lado todas as noites e eu não sei nem o nome dela ainda. Ela é rude, mal-educada, deve ser italiana.

— Ei!

— Mas é verdade — Complementou sorrindo — Ela deve ser uma italiana aqui do norte, sei lá. Valen é arrogante, irritante, não sabe conversar sério em nenhum momento, se diverte com a minha cara o tempo todo. Fora que, a bagunça é inacreditável e acho que ela faz isso, em parte, só pra me irritar mesmo. Eu só... queria que as coisas fossem mais fáceis.

Sierra olhou bem para sua amiga. Tinha algo de distinto nela.

— Tudo bem com a Karina?

— Tudo bem, tudo... igual — Disse, respirando fundo.


Silêncio por um instante. Romana parecia genuinamente cansada ou chateada com alguma coisa.


— Rome, o SMit de vocês é de quase noventa por cento. É um percentual muito alto para que vocês não tenham nadinha em comum.

— Pois acho que o teste falhou desta vez.

— É impossível, o teste nunca falhou antes, é baseado em ciência de dados, filtra toda a carga social do MBTI e...


Romana apenas a olhou.


— Foi feito por um bando de estudantes de psicologia e banco de dados.

— Ei! Eu faço parte deste bando aí!

— Eu sei, é só... — Rome respirou muito fundo — Ontem, quando disse pra ela que teria essa apresentação importante, eu a convidei para um encontro duplo na sexta. Acho que parte deste comportamento difícil da Valen é porque ela e a Karina se desentenderam e pensei em reabrir a possibilidade de diálogo. Perguntei se ela está saindo com alguém, disse que ela podia levar algum carinha. Sabe o que ela fez? Riu na minha cara.

— Rome, ela deve ter rido porque NÃO TEM como aquela gostosa ser hétero, por favor! — Sierra se divertia muito com a cegueira momentânea de sua amiga. Ela namorava há muito tempo, e gente que namora há muito tempo acaba sofrendo de cegueira momentânea em alguns momentos. Era uma tese pessoal.

— Como não tem, Sierra? Quando ela chegou, só era esquisita, mas depois que apresentei a Karina, ela se tornou INSUPORTÁVEL. Perturbando a minha vida todos os dias. Se isso não é homofobia, me diz o que é?!

— Pode ser tesão.

— Você e essa sua teoria.

— Rome, dia sim e dia não, essa garota te pede um beijo, qual é?! — Respondeu, rindo demais.

— É para me provocar, você não percebe?

— Eu não consigo visualizar uma garota hétero trabalhando na construção civil, e isso é o que você acha que ela faz.

— Não seja... “homo-normativa”.

— Isso nem existe!

— Que seja! Ela chegou tarde ontem, e chegou imunda.

— Talvez ela estivesse trabalhando, não em baladinha por aí. É tão sexy, não é?

— O que é sexy?

— Quando ela chega coberta de poeira sem a gente fazer IDEIA do que ela faz — Comentou Sierra, cheia de sorrisos. Sua amiga achava Valen uma GOSTOSA e isso Rome não tinha como negar. Era insuportável? Sim, mas era gostosa também — Sabe o que é injusto? Eu ter recebido uma colega de quarto CRENTE enquanto você recebeu essa gostosa de quem não para de reclamar.

— Eu queria que você passasse só 24 horas com ela para entender do que estou falando!


Tomaram café enquanto Rome reorganizava sua apresentação mentalmente, anotando algumas coisas no celular. Era para uma bolsa de iniciação científica, precisava ir bem, tinha se preparado para isso, então era só limpar sua mente e...


Suas anotações foram colocadas em cima da mesa.


— Aqui, seu resumo.


Ergueu os olhos e lá estava ela, IMPECÁVEL. Os cabelos devidamente secos, longos, castanhos, brilhando de tão hidratados, tênis nos pés, camiseta branca, jaqueta de couro preta por cima, óculos super escuros, bolsa lateral e, cheirosa. Podia voltar pra casa suja e coberta de pó, algo que geralmente acontecia, mas sempre que saía, saía impecável, estilosa e cheirosa.


— Você... achou.

— Sim, encontrei depois que você saiu derrubando a porta do nosso quarto. Eu já disse, você não perderia nada se anotasse as coisas no celular — Valen disse, escrevendo alguma coisa num bloco de post-it e então se abaixou pertinho de Sierra — Tudo bem com você? — Perguntou, ADORÁVEL, cheia de sorrisos. Ela tinha um sorriso lindo, anf.

— Tudo! E você? — Sierra respondeu, tão cheia de sorrisos quanto.

— Tudo bem. Me conta, qual a sua bebida preferida?

— A minha... — Rome revirou os olhos, Sierra estava se derretendo bem na sua frente — É que eu não bebo muito.

— Não tem problema. Você gosta de café?

— Adoro café!

— Então, a gente pode ir qualquer dia, não pode, numa cafeteria? O que você acha?


Sierra viraria uma poça de gelato italiano muito em breve.


— Eu gosto muito dessa ideia.

— Eu também gosto muito dessa ideia — Valen disse, sem desviar os olhos dos dela. E então, grudou o post-it em cima da mesa, era um número de celular — Me manda mensagem? A gente vai conversando.

— Mando! Claro que... mando sim.

— Está bem — Ela se colocou de pé e grudou outro post-it em cima das anotações de Rome — Pede para a sua namorada me ligar também, se ela me pedir desculpas, a gente pode conversar — E não esperou resposta, apenas foi embora.

— Você não tinha o número dela? — Sierra perguntou.

— Se eu não sei nem o nome dela, imagina ter o número! Sierra, você não vai sair com ela, vai?

— HÁH! Quero ver você conseguir me convencer a não sair com ela, Rome — Disse, rindo demais, já salvando o número no seu celular.

— Como é possível você ser tão boa garota e tão vagabunda ao mesmo tempo? Essa conta não fecha de jeito nenhum!

— Trabalhei muito para deixar de ser apenas boa garota e me tornar vagabunda, para agora eu dizer não a uma gostosa me chamando para um encontro, sinceramente.


Terminaram o café da manhã e cada uma foi para o seu respectivo campus. Era uma caminhada de mais ou menos quinze minutos, e quando Rome chegou na sala e foi revisar suas anotações...


Havia um segundo post-it grudado na última página:


“Você não precisa de nada para fazer uma ótima apresentação, nem dessas anotações.”


Pensou um pouco sobre isso. Era uma forma de Valen lhe desejar boa sorte? Não sabia, mas essa frase, com toda certeza, havia sido a coisa mais delicada que já tinha recebido de sua colega de quarto desde então. Era engraçado, Valen dizia coisas que faziam Rome pensar. Dizia muita bobagem, mas dizia algumas coisas que a pegavam de vez em quando. Ah, tinha mais uma frase:


“Aceito o encontro duplo, marca e me avisa. Sua amiga é uma graça, vou levá-la comigo.”


Como ela tinha CERTEZA de que Sierra aceitaria? Era uma convencida mesmo! E era tudo o que Rome precisava: sair com Valen e assistir Sierra se derretendo por ela durante um encontro inteiro. Bem, se isso fosse melhorar a convivência entre elas, valia o esforço. Salvou o número dela no celular e mandou uma mensagem.


“Pode escolher o lugar, vamos sair na sexta.”


Valen havia acabado de entrar em seu ateliê quando recebeu aquela mensagem e abriu um sorriso de imediato.


Aquilo seria, no mínimo, interessante.


 

Campus Bologna, um mês atrás.


Romana havia sido informada que, finalmente, teria uma nova colega de quarto.


Então, tentou se adiantar em suas aulas extras; não queria deixá-la esperando. Fazia quase seis meses que seu quarto estava vago, e isso era difícil porque significava que tinha que pagar por duas. Receber uma colega de quarto no campus era sempre uma surpresa. A administração cuidava de tudo, era necessário preencher formulários, e os dados eram cruzados para que a experiência de dividir um quarto pudesse ser agradável.


Se chamava SMit, sigla para “Social Match Indicator Test”. Era um teste de compatibilidade social que funcionava como um Tinder universitário, mas voltado para a convivência. O sistema cruzava dados partindo do MBTI de cada pessoa, sigla para “Myers-Briggs Type Indicator”, focando no social e descobria compatibilidades de convívio. Era um sistema criado pelos estudantes de Banco de Dados e do curso de Psicologia, e era altamente eficaz, o que era ótimo para o campus, pois, desde a implantação do teste, os pedidos para mudança de quartos reduziram drasticamente. Sua primeira colega de quarto havia sido uma ótima experiência; a segunda também. Então, estava ansiosa, mas tranquila; com toda certeza, teria outra pessoa com ótimo match para dividir o seu espaço.


Chegou, checou a recepção, mas estava vazia. Sua colega deveria estar atrasada. Pegou o elevador, décimo andar, e quando foi se aproximando do seu quarto...


A porta estava entreaberta.


E quando Romana entrou, havia uma garota na sua cama.


As camas individuais eram de correr, com a cabeceira apoiada sobre uma plataforma, de forma que dava para movê-las com mais facilidade, juntar, afastar mais; era uma comodidade. Como estava morando sozinha, então estava usando as camas grudadas uma na outra, formando uma cama de casal. Havia afastado pela manhã, mas o serviço de quarto talvez tivesse juntado as camas novamente, porque era assim que estavam arrumadas durante aqueles seis meses sem ninguém.


— Oi! Tudo bem? — Tentou ultrapassar o esquisito de ter uma estranha na sua cama. Ela estava literalmente do seu lado da cama, com meias e sapatos atirados pelo quarto, TV ligada, e jogada na cama, devorando... um dos chocolates de Romana — Meu nome é Romana Greco. Imagino que você seja a minha nova colega de quarto.


— Romana Greco? Aristocrático, não é? — Foi a primeira coisa que ela disse, olhos grudados na TV, sem sequer olhar para Romana direito.


Que resposta esquisita. Mas Rome seguiu em frente.


— Bem, é... um pouco — Fazia parte da camada social com nome burguês que não tinha nada no Brasil, apenas nome, mas ENFIM — Qual é o seu nome?

— Pode me chamar de Valen.

— Valen?

— Aham, Valen — Mordeu os últimos quadradinhos que restavam do seu chocolate de caramelo salgado.

— Valen de Valeria, de Valentina...?


Ela finalmente a olhou.


— Só Valen pra você. Me explica aqui, babe, nós vamos dormir juntinhas assim mesmo? — Ela perguntou, sorriso no rosto, descartando a embalagem vazia do chocolate no lixo ao lado da cama.

— Claro que não! É que eu estava sozinha aqui por uns seis meses, separei as camas de manhã, mas acho que o serviço de quarto juntou novamente. Falando nisso, a sua é a outra.

— Hum, acho que gostei mais dessa aqui.


Romana estava ouvindo direito? Colocou a bolsa na cadeira da escrivaninha e cruzou os braços.


— Eu durmo nessa cama faz quase três anos.

— Mais um motivo para você mudar de cama. Variar mantém a vida em movimento, bella mia. Então, eu fico com essa aqui, tudo bem?


Romana a olhava fixamente nos olhos.


— Levanta.

— Como...?

— Levanta, vamos.


Valen se levantou. E Romana empurrou as camas, as separando. Levou uma até o limite da parede e trouxe a outra até o limite oposto.


— Pode ficar com a cama, mas este lado do quarto é meu, ok? Eu fico com a escrivaninha, você fica com a TV, parece justo?


Ela pensou um pouco e tirou a camiseta, ficando apenas de calça e top, passando muito pertinho de Romana.


— Parece justo sim — Disse, entrando no banheiro.

— Você não vai mesmo me dizer o seu nome?

Ma il mio mistero è chiuso in me... — Ela começou a cantarolar, era uma das óperas mais famosas do mundo, Nessun Dorma — Il nome mio nessun saprà!


O meu mistério está fechado em mim, o meu nome ninguém saberá...


— É sério isso?

No, no, sulla tua bocca lo dirò... Quando la luce splenderà!


Não, não, apenas na sua boca, eu o direi... Quando a luz resplandecer!


Ela tomou banho cantando Nessun Dorma e, quando Rome foi tomar o seu próprio banho, encontrou o banheiro molhado e a sua toalha também. Rosnou sozinha. Ela tinha usado a sua toalha, era isso mesmo? Era isso mesmo, mas ok! Durante o seu banho, tentou se acalmar. Haviam começado com o pé esquerdo, mas ainda podiam se entender. O SMit tinha dito que elas eram compatíveis. Rome nunca tinha ouvido falar que o teste tivesse falhado alguma vez. Havia tido uma impressão ruim, mas não devia ser tão grave também.


Porém, os próximos dias mostraram que, talvez, o premiadíssimo e confiabilíssimo teste de compatibilidade do Bologna Campus tivesse falhado pela primeira vez.


Era simplesmente impossível se comunicar com ela. E não, ninguém podia dizer que Rome não tentou, porque ela tentou, tentou mesmo, de verdade. Tentou puxar assunto diversas vezes, mas, nos poucos momentos que Valen estava no quarto, ela ficava grudada no celular, falando com outras pessoas, jogando, ou estava lendo e lhe respondia tudo de maneira monossilábica. Ok, talvez ela fosse mais introspectiva mesmo, não devia ser algo ruim também. Porém, a coisa começou a escalar quando Rome percebeu que ela era seu oposto total no que tocava a organização.


Não é que ela fosse desorganizada, não era isso de jeito nenhum, ela era MUITOS NÍVEIS ACIMA DE DESORGANIZADA. Chegou com duas malas enormes, cheias de roupas, que jamais entraram do lado dela do armário. As roupas saíam da mala e nunca mais voltavam, nem para a mala, nem iam para o armário. Para o cesto de roupas sujas? Jamais! As roupas simplesmente ficavam, fosse pelo chão, por cima dos móveis, dependuradas no banheiro. Rome vivia chutando peças invasoras do seu lado do quarto. Já tinham discutido por causa disso. Ela não queria organizar nada? Tudo bem, mas que ficasse do lado dela do quarto, coisa que Valen não respeitava de jeito nenhum.


Falando em não respeitar nada, a folgada costumava comer os lanches que Rome tentava manter no quarto. Tinha uma rotina de estudos que, às vezes, ia até mais tarde e era sempre útil ter cápsulas de café, pãezinhos, frutas e seu chocolate preferido para quando sentisse fome. Pois então, seus chocolates de caramelo salgado e suas cápsulas de ristretto estavam sistematicamente DESAPARECENDO desde que Valen chegou. Achava que ela comia quando voltava para o quarto, coisa que raramente acontecia antes da meia-noite, horário em que Rome já gostaria de estar dormindo. Isso sem falar nos dias em que ela voltava mais cedo, mas coberta de sujeira.


Sim, tentou descobrir o motivo dela chegar: um, com a roupa suja de algo que parecia barro; dois, chegar coberta de pó dos pés à cabeça; ou três, chegar coberta de tinta. E para todas essas alternativas, ela deixava rastros de entrada que pareciam se multiplicar por todos os lados. Rome começou a achar que Valen realmente trabalhava na construção civil quando se tocaram pela primeira vez.


Romana havia subido na cadeira de escritório para tentar alcançar algo que estava no alto do armário e, quando se desequilibrou um pouquinho, sentiu mãos firmes nas suas pernas. Mãos firmes, cheias de calos e com pequenos esparadrapos em alguns pontos. E quentes. Ela tinha mãos quentes, Rome pôde notar também.


Havia encontrado. Então ela lhe ajudou a descer da cadeira. Só de calça moletom e sutiã, o que deixou Rome imediatamente vermelha.


— Tudo bem?

— Tudo, é... Eu vou estudar na sala de leitura — Saiu do quarto com o coração todo nervoso por algum motivo.


E era definitivo: ela não tinha o menor problema de desfilar seminua pelo quarto.


Saía do chuveiro só de toalha, os cabelos pingando para todos os lados, ou se trocava na frente de Rome, sem cerimônias. Quando saía para as aulas ou para o trabalho, ela estava sempre de calça, mas quando saía para baladinhas, Valen surgia em minissaias tão minis que provavelmente não serviriam em nenhuma pessoa adulta diferente dela. Quando Rome achava que já tinha visto a menor minissaia do mundo, ela surgia com outra, e sua colega de quarto tinha umas pernas lindas, era toda cheia de curvas. Não que olhasse, só era algo que... não dava para não ver. Fora que, às vezes, acordava de manhã e percebia que ela estava dormindo por cima dos lençóis, apenas de lingerie, e era...


Perturbador. Mas, por outro lado, era como mulheres héteros costumavam agir perto de outras mulheres; o problema devia estar em Rome mesmo. Naquela noite (já era a terceira semana de convivência), quando voltou para o quarto, tomou um banho e começou a se arrumar. Entrou em silêncio. Valen estava na cama lendo alguma coisa no iPad e Rome podia JURAR que sentia os olhos dela em si o tempo todo. Qual era o problema dela? E quando estava terminando de se aprontar, alguém bateu na porta.


Era Karina. Sempre linda, sempre sorridente, cruzou os braços pela cintura de Rome e trocaram um beijo longo, todo apegado.


— Sabe de uma coisa? É falta de educação sua nunca me chamar para fazer nada — Valen disse de repente.

— Como...?

— Você me ouviu — Ela havia saído da cama e vindo até a porta — Quem é você? — Perguntou diretamente para Karina.


Karina a encarou. Romana havia dito que sua colega de quarto era estranha, só não achou que fosse tanto.


— Karina, namorada da Rome. Tudo bem com você?

— Imagino que sim. Uma certinha igual a ela não beijaria qualquer uma que batesse na porta.

— Garota! Quer deixar de ser desnecessária? O que deu em você? — Rome reagiu.

— Nada, só achei que era proibido que não-hóspedes subissem até os quartos.


Karina cruzou os braços e abriu um sorriso.


— E é. Mas não é da conta de ninguém também. Se cada um cuida só das suas coisas, o resto flui.


Olhos nos olhos.


— Entendi. Aonde vocês vão?

— Comer alguma coisa na Piazza Maggiore — Karina respondeu — Quer ir com a gente?

— Não, eu gosto de sair com gente divertida.


Rome revirou os olhos e puxou Karina para irem embora.


Até aí, tudo bem. Aparentemente, Valen era apenas chata. Mas foi nessa noite que Rome começou a se sentir meio que perseguida por ela.


Elas encontraram Valen mais tarde, cercada de desconhecidos, no mesmo restaurante que haviam escolhido para jantar, e ela parecia outra pessoa. Estava sorrindo, falante, numa conversa que não terminava nunca na mesa ao lado. Terminou de jantar com Karina e foram pegar uma sobremesa na praça, que comeram juntas, observando a vida noturna intensa de Bologna. E voltaram mais cedo, tipo dez da noite. Em todas as outras noites, Valen havia chegado depois das duas da manhã, então teriam um tempinho só para elas antes que sua colega de quarto voltasse.


Encontraram o quarto vazio, tal como esperado, e os beijos foram ficando mais quentes ainda no elevador. Chegaram ao quarto com Karina a empurrando contra a porta, segurando-a firmemente. Ela beijava gostoso demais, pegava mais gostoso ainda. Sua namorada era atleta do time de basquete, mais alta, uma delícia, e com a nova colega de quarto de Rome, elas estavam sem irem pra cama havia mais de duas semanas. Finalmente, abriu a porta.


— Vamos ter que ser rápidas, ok? — Romana a alertou.


Ela disse que sim, mas não foi o que aconteceu.


Karina gostava de fazer de uma determinada maneira. Para ela, o tempo era importante. Sua namorada não era do tipo que chegava arrancando roupas, com pressa, acelerada. Ela gostava de degustar cada pedacinho de pele descoberto, gostava de tirar peça a peça, de colocar a boca em cada centímetro do corpo de Romana. Amava provocar, deixar a excitação no máximo antes de partir para o sexo em si. Isso era um problema? Não costumava ser, mas ultimamente, Rome andava meio... impaciente.


— Meu amor, ela pode voltar. Você não quer só...? — Era baixar a boca e chupá-la de vez.

— Hum... não. Eu sei como você gosta — Karina respondeu sorrindo e seguiu com as carícias, tocando o corpo inteiro de Rome, menos onde ela precisava com urgência.


Fizeram do jeito dela e Rome finalmente gozou praticamente uma hora após terem começado, mas gozou gostoso, gozou intenso, gozou ficando louca de tesão pela sua garota e querendo, em DESESPERO, senti-la nos seus dedos, na sua boca, mas...


— Não, você fica quietinha aqui que eu ainda não terminei.


Rome bufou. Era o que ela geralmente dizia antes de recomeçar outra sessão de longuíssimas preliminares, e enquanto estava no meio da cruzada em busca do seu segundo orgasmo...


A porta se abriu.


E a cena que ela provavelmente viu da porta de entrada foi: Karina e Rome completamente nuas, com Rome em cima de Karina, porque tinha finalmente conseguido virá-la na cama e estava descendo pelo corpo dela, de joelhos e com a bunda inclinada... para a porta.


Que visão!


— Mas... que indelicado vocês duas! Custava terem me convidado?


Rome não lembrava de outro momento em sua vida em que tivesse sentido tanta vergonha, tanto constrangimento. Ela simplesmente entrou, como se nada de mais estivesse acontecendo, acendeu a luz e foi para a copa que tinham no quarto, abrindo a caixa de cápsulas de café que não lhe pertencia, enquanto Romana ainda tentava se ajustar, procurando suas roupas, se cobrindo, cobrindo sua namorada, tudo isso junto.


— Será que você pode nos dar um minuto?! — Foi a única coisa que conseguiu dizer.


Valen havia acabado de colocar um café para fazer.


— Deixa eu pensar... Não! — Valen disse, se recostando no balcão.

— Ah, você vai nos dar licença sim, que esse quarto não é só seu! — Foi Karina quem respondeu, enquanto tentava se vestir.

— Sabe de uma coisa? O quarto não é só meu, mas não é seu de jeito nenhum, então quem vai sair é você, boneca de Olinda!

— Você me chamou de quê?!

— Sua namoradinha explica pra você depois. Você quer um café? Antes de eu te colocar daqui pra fora.

— Mas você é uma grande babaca mesmo!


Foi assim que Rome terminou sua noite tendo que separar uma quase briga apenas de lingerie. E foi complexo, porque Karina não queria sair, mas Valen estava certa, ela não podia estar no quarto e, se ela decidisse fazer uma queixa, nem queria pensar. As multas eram altíssimas para esse tipo de queixa. Então, teve que acalmar Karina, convencê-la de que era melhor elas saírem enquanto, tranquilamente, Valen tomava um dos seus ristrettos caros. Saiu com Karina, a acalmou e, quando voltou para o quarto, sua colega já estava dormindo.


O que havia acontecido...?


Detalhe: não era nem meia-noite.


E era definitivo: Romana estava tendo picos de ansiedade outra vez e, sendo assim, decidiu acordar mais cedo e voltar para o Pilates.


O Pilates sempre a salvava nos seus momentos de nervosismo e estava incluso no valor da mensalidade do campus. Então, acordou cedo, se vestiu: calça legging, tênis nos pés, top e um agasalho por cima. Voltou para sua aula, foi uma delícia, relaxou tanto que sequer quis conversar com Valen sobre a noite passada. Ela era assim mesmo, não adiantava lutar contra, e quanto mais se desentendia com ela, mais feliz ela parecia estar, então, era melhor apenas ignorar. Além disso, Valen tinha lhe visto de um ângulo que nem a própria Romana se conhecia, tinha esse constrangimento também, por isso fosse melhor mesmo só não tocar mais no assunto.


O único problema é que, para sua surpresa, no seu segundo dia de volta ao Pilates...


— Ok, o que você está fazendo aqui? — Tinha chegado mais cedo e, dez minutos depois, sua colega de quarto passou pelas portas da academia.

— Pilates. Essa é a aula de Pilates, não?

— E desde quando você acorda cedo para fazer Pilates?

— Bem, essa é a minha primeira aula.

— Você sabia que faço aula aqui!

— Como eu ia saber, Romana? Eu cheguei, você estava comendo a sua namorada praticamente na minha cama e sequer me pediu desculpas até agora, imagina me dizer onde você faz Pilates!

— Você não me engana em nada, garota!

— Rome, você sabe... o Nicolau Copérnico?


Romana piscou repetidamente, olhando para Valen, tentando entender o sentido.


— O que tem Copérnico?

— Copérnico, o astrônomo que descobriu que o SOL NÃO GIRA EM TORNO DE VOCÊ — E apenas passou por Romana e foi alongar.


Daí pra frente, foi só pra trás. O que era uma convivência esquisita passou a ser uma convivência intragável. Ela era entrona, folgada, não tinha horários, não tinha o mínimo necessário de senso de sociedade. E para sua surpresa, dois dias depois, Rome recebeu um aviso da administração do campus a respeito de pessoas estranhas nos quartos. Era apenas um aviso, inicialmente, não veio com nenhuma punição, mas isso significava que...


Um, teria ainda menos intimidade com Karina e, dois, Valen havia feito a denúncia?


De alguma maneira, focou apenas no segundo ponto e foi uma briga COLOSSAL, GIGANTESCA, do tamanho do Coliseu. Ela negou, fez a ofendida, quem olhasse de fora até acreditaria nela, de tão verossímil que pareceu. Quase a própria Romana acreditou, mas se não havia sido ela, teria sido quem? Claro que havia sido ela.


E naquele dia específico, estava frio, muito frio. Nem era para estar tão frio assim, sendo que já era primavera, mas estava frio, a ponto de Rome ter quase certeza de que os cabelos de Valen estavam meio congelados naquela noite. Além do pó que estava nele, que estava por ela inteira. E como de costume, ela jogou pó pelo quarto todo e, de alguma maneira, a briga terminou com Valen indo para o banho e Rome ligando o aspirador portátil para tirar toda aquela sujeira.


Checou o celular e notou que havia, inclusive, uma ameaça de neve. Era raro nevar em Bologna, e durante a primavera então, devia ser mais difícil ainda. De qualquer maneira, separou uma roupa mais quente para dormir e, quando Valen saiu do banho, foi tomar o seu próprio banho. Mas quando retornou...


Ela estava deitada de bruços, sob a coberta, e Rome tinha certeza de que ela estava chorando.


— Valen...?

— Só me deixa em paz, sério, por favor!


Ela estava chorando mesmo. Bem, Rome se trocou, checou se as portas da varanda estavam bem fechadas, tudo ok, então apagou a luz e foi para sua cama. Ainda tinha uma matéria para revisar e tentou se concentrar apenas nisso, mas percebeu ser meio impossível. Valen não havia saído das cobertas e, além do choro inesperado, percebeu que ela estava tremendo.


— Ok, me fala o que você tem.

— Romana, por favor, sério mesmo.

— Não — Sentou-se na cama dela — Eu não vou sair daqui até você me dizer o que está errado com você. Você está sentindo alguma coisa? Você está... tremendo.

— Eu não tenho nada, só está... frio.

— Sei que está frio e sei que o aquecedor não funciona muito bem, por isso tenho aquela coberta maior que já tirei do armário. Valen? Fala comigo, vamos.


Silêncio. E então, ela começou a falar.


— É que... tenho trabalhado muito e você tem razão, eu não me organizo, sou uma idiota. Daí tomei banho e notei que, de alguma maneira, todas as minhas roupas estão sujas.

— Você sujou aquelas duas malas inteiras?

— Acho que sim.

— E está usando o que para dormir?

— O de sempre!

— Lingerie?

— O de sempre, Rome!

— É por isso que você dorme de lingerie...

— Achou que era só para te seduzir, por acaso?!


Talvez isso já tivesse lhe ocorrido.


— Ok — Foi até o seu armário e pegou o conjunto de moletom mais quente que tinha e trouxe para ela — Veste, vamos.

— Vai... me emprestar algo seu?

— Eu não vou te deixar morrer congelada do meu lado só porque você é babaca comigo — Jogou uma coberta limpa para ela também.


Fez um latte para Valen em seguida, para ver se ela esquentava de vez, e voltou para a sua cama e os seus estudos. Então, aquela sensação de sempre.


— Sabia que sempre consigo sentir quando você está me olhando?


Silêncio novamente. E então, Valen disse:


— Eu olho. Você é bonita pra caramba! Como posso olhar para qualquer outra coisa que seja, quando você está bem na minha frente?


 

Notas da Editora: Tessa Reis


Olá, assinantes do nosso TR Clube! Tudo bem com vocês?


Temos novidades no ar! O segundo livro do nosso selo Tessa + Cafés está prontíssimo e entrará em pré-venda na Amazon em breve. Mas, como combinado, vocês do clube sempre leem antes. Agora que já foram devidamente apresentados a Rome e Valen, me contem: o que acharam da dinâmica das nossas protagonistas? E façam suas apostas: com o que será que a Valen trabalha? 👀


Grande beijo! Nos vemos em breve!


Tessa 😉



6 Comments


Greice
Greice
Oct 10, 2024

Enemies to lovers, adoroooo.

Chuto em escultora.

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ana.gouveia.vet
Oct 04, 2024

Artista plástica ou escultora

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Rodrigo Mesquita
Rodrigo Mesquita
Oct 03, 2024

Confesso que tô na dúvida sobre o que a Valen trabalha, mas acho que deve ser alguma artista plástica, talvez escultora... Agora, vou dizer, viu, ela é especialista em provocar! Se ela tá de olho na Rome, parece que tá usando a tática do "quem desdenha quer comprar" 🤣🤣

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Adriana Evangelista
Adriana Evangelista
Oct 03, 2024

olha, ri muito com a Valen! E coitada da Rome, vai sofrer na mão dela...🙂

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oliveira_bianca92
Oct 03, 2024

Com certeza Valen é uma ceramista!! Ansiosa demais

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