Yummy Mommy
De fato, a academia não ficava longe. Dirigiram umas ruas para baixo, e Presley foi a seguindo, observando que o problema de invasão de linhas de Hanni era recorrente. Riu um pouquinho, como podia? Dirigir tão mal assim? Mas foi a seguindo de perto, na velocidade de Hanni, no tempinho dela. E de repente, ela entrou em um estacionamento. Era um prédio bonito, feito de uma fachada toda transparente. Aparentemente, era um café e livraria no primeiro andar e academia no segundo. Hanni estacionou, Presley estacionou ao lado dela e quando desceu, ela estava pegando algo no banco de trás do carro.
— Que lugar bonito.
— É um centro de cultura brasileira.
— Mesmo?
— Mesmo. Bem bonito, não é? Tem a livraria aqui embaixo, o café, tem um pequeno teatro e aulas no andar de cima. Tem aulas de dança, de música, de atuação e de jiu-jitsu. Eu sou brasileira.
— Você o quê?!
Hanni riu; era sempre o mesmo susto.
— Eu sou brasileira. É uma história bem longa, mas resumidamente — Ela fechou a porta do carro, tinha pegado um pacote de roupas lacrado, provavelmente retirado de alguma lavanderia — Eu nasci em São Paulo, meu irmão e eu, mas meus pais, que são coreanos, receberam uma proposta de trabalho na Coreia e voltaram. Eu tinha uns dois anos, mais ou menos. Nós voltamos e ficamos em Seul até os meus oito anos. Depois, São Paulo novamente, mas para morar no interior, desta vez, para morar na praia, perto do Rio de Janeiro. Meu pai é engenheiro de obras urbanistas; estavam refazendo uma grande rodovia e ele foi chamado para isso. Então, eu sou brasileira, mas também coreana, essa é a minha etnia, mas não a minha nacionalidade. Ah, olha quem está aqui!
Presley olhou, e duas criaturinhas de repente saíram correndo do café em direção a Hanni. Eram dois exemplares claramente maori-koreanos. Ah, tinha um nome para isso. Eram korean kiwis, kokis ou kowis. Presley tinha sido chamada assim a vida inteira, mas aqueles dois pedacinhos de gente tinham a pele beijada pelo sol e os olhinhos coreanos, tal como Hanni também tinha. Aquela cor de praia na pele era exótica, atraente, uma coisa. Ela se abaixou para abraçar os dois, seus dois kowis, a coisa mais linda.
— Mas vocês já estão aqui!
— Mamãe estava atrasada, ela deixou a gente e foi embora — A garotinha respondeu com o sorriso mais lindo possível.
— Ela foi embora?! — Presley levou um susto, e Hanni riu.
— Ela faz faculdade, às vezes precisa chegar antes e deixa eles aqui me esperando.
— E eles não saem?!
— Não saem, eles me esperam lá dentro, só saem quando me veem. Aqui... — Hanni olhou para Aika, que olhava para as crianças um pouco desconfiada, agarrada na perna da mãe. Que pernas! Apenas um comentário da sua mente, mas que coxas, Presley era toda curvilínea — Aika, venha aqui — Disse, olhando para Aika que foi, deu dois passinhos e chegou até Hanni, que a segurou com carinho — Mave e Pipe, essa aqui é a Aika, ela vai treinar com a gente hoje.
E Pipe começou a saltitar.
— Outra menina, outra menina! Ela tem um quimono? Eu posso emprestar se ela não tiver! — Seguia pulando sem parar, de um pé para o outro.
— Ela não tem, eu peguei um seu para ela mesmo, tudo bem?
— Tudo bem, tudo bem!
— Ótimo! Pipe, ela só escuta se você falar de frente para ela, ok?
— Uh! — Ela pareceu surpresa — Ok, eu falo com ela de frente.
— E ela vai falar com vocês sem dizer nada.
— Oww...! — Os dois fizeram.
— Ela é tipo mágica — Foi a resposta de Mave. Presley e Hanni riram demais.
As crianças eram dela? Será que...?
— Tipo isso. Presley, você pode dizer para ela que eles vão levá-la lá para dentro? Esse gatinho aqui é o Mave, e essa princesa é a Pipe. Eles são meus sobrinhos.
Sobrinhos, fazia mais sentido.
— Gêmeos?
— Gêmeos, de cinco anos.
— Espera, eles vão levar a Aika para dentro...?
— Vão abrir a sala e ajudá-la a vestir o quimono enquanto nós subimos.
— Mas eles...?
— São crianças, eles conseguem se entender. Tranquilo para você?
Presley pensou um pouco e sinalizou para Aika. Era ela quem precisava dizer se estava tudo bem. Aika não era uma criança tímida, mas era mais quietinha em primeiros contatos. No entanto, quando Presley sinalizou tudo, ela apenas passou para o lado de Pipe, que segurou a mãozinha dela.
— Eu ajudo a Aika, moça — Moça foi para Presley e em português.
— Oh, muito obrigada! É muito gentil da sua parte — Presley sorriu para ela.
— Eu quero que ela venha treinar comigo de novo — Outro sorriso lindo e ela voltou a saltitar — Quantos anos ela tem?
E foi Aika quem respondeu, três, quase quatro.
— Quase quatro?
— Isso, quase quatro — Presley confirmou.
— Ela é mágica mesmo, eu consegui entender! O quimono, Manu.
— O quimono, bem aqui, eu peguei hoje na lavanderia e aqui, a chave da sala — Entregou para a pequena também — Eu subo em quinze minutos, ok?
— Tudo bem! Vamos, Mave, leva a sacola, você é o menino.
E foram os três para dentro, e Presley estava... sorrindo demais.
— Ela é mandona!
— É uma líder, nem parece que foi feita pelo lerdo do meu irmão. Aceita um café? Temos uns quinze minutos até os alunos começarem a chegar.
Presley a olhava. Apertou os lábios inconscientemente.
— Um café, ok.
Entraram na cafeteria, Hanni perguntou se podia surpreender Presley com o pedido; era o melhor café da casa, gostaria que ela provasse. Podia, claro que podia. Então ela pediu os cafés, uns biscoitinhos, e Presley estava realmente, REALMENTE, curiosa sobre ela.
— Pipe e Mave, são nomes diferentes.
— Então, Pipeline e Mavericks — Hanni abriu um sorriso — Alguma chance de você já ter ouvido esses nomes...?
— Hum... — Provou do seu café e era uma delícia, de fato — Uau!
— É gostoso, né?
— E esses biscoitinhos...? — Enfiou outros dois na boca, eram deliciosos.
— São doces brasileiros. Esses aqui são biscoitos de maisena, esses são de castanha-do-Pará e esses chamam Monteiro Lopes — Disse os nomes todos em português, e Presley pareceu surpresa — O quê? Eu disse que sou brasileira!
— É que a sua cara é tão coreana.
— Está sendo xenofóbica! — Hanni estava rindo.
— Eu sei, me desculpa. Como esse povo aqui é comigo, mas enfim. Pipeline e Mavericks são ondas...?
— São ondas. As mais bonitas que nós já surfamos juntos, Marcelo e eu. Sabina é a minha cunhada, brasileira também.
— Você é surfista também?
— Sou. E o surfe foi um dos motivos para a gente ter decidido pela Nova Zelândia para morar. Eu já morei em muitos lugares, Presley, a trabalho. Meu irmão é surfista profissional e também morou em muitos lugares. Mas aí a Sabina engravidou, eles precisavam decidir por um lugar. Nossos pais hoje moram em Seul novamente. Auckland é linda, é um bom lugar para se morar. Então, estamos aqui há cinco anos, e as crianças nasceram aqui.
— Hum, e o que você faz além de surfar, dar aulas de jiu-jitsu e ser voluntária no hospital...?
— Então, eu sou modelo — Ela disse, quase com vergonha.
— Mas por que sua voz ficou tão baixa...? — Presley estava sorrindo, aquele sorriso lindo, luminoso demais. E Hanni sorriu também, ficando levemente vermelha.
— É que tenho um pouco de vergonha de dizer que minha profissão é ser modelo. Eu queria ser outra coisa, mas de alguma maneira...
Era modelo então, hum, fazia sentido. Se Presley tivesse aquele rosto, também seria.
— Você chegou hoje ao hospital toda arrumada porque estava trabalhando...?
— Sim, sim — Checou algo no celular rapidamente e mostrou para Presley — Aqui, a Taz-mania já vestida.
Presley abriu outro sorriso; sua garotinha estava de quimono e parecia estar se divertindo com os outros dois. Hanni estava mostrando por uma câmera de segurança.
— Eu tinha acabado de sair de uma sessão de fotos para uma campanha. Já estava atrasada, nem me troquei. Cheguei e fui abordada pela mãe de uma das crianças na entrada. As mães adoram falar sobre os próprios filhos, eu só ouço. Então fiquei mais atrasada ainda.
— As mães adoram você — Disse, com um sorriso diferente nos lábios, e Hanni notou, claro que notou — Eles realmente parecem estar se entendendo.
— Crianças se entendem. Eu fui uma criança silenciosa quando voltei para o Brasil, com oito anos. Falava coreano, inglês e não entendia nada de português, as crianças ao meu redor não me entendiam e é... claustrofóbico. Prende a gente dentro da própria cabeça. Levei uns três anos para ficar fluente, mas minha mãe nos encorajava a não desistir de falar, de tentar fazer com que os outros nos entendessem de uma maneira ou de outra. Dizia ser muito importante o que dizemos, importante demais nos expressar, e isso inclui dizer as coisas de outras formas que não sejam na linguagem regular. Eu não tenho como saber como a Aika se sente, mas quando você me disse que ela é surda, eu lembrei disso, desse ano complicado para mim, onde eu ouvia, mas não entendia nada. Eu posso perguntar como...?
— Claro que sim! Bem, Aika nasceu como os outros bebês, ouvindo cem por cento, cheia de energia. Em poucos dias, estávamos em casa as duas, o parto foi simples, a recuperação também. Mas quando ela tinha seis meses, ficou doente de repente, muito doente, tão doente que quando chegamos com ela ao hospital, meu bebê foi direto para a UTI infantil, sem um diagnóstico, só se sabia que era grave. E ficou grave em 24 horas, juro para você. Ela estava bem, e de repente, não estava mais. O diagnóstico veio depois, um tipo de meningite infantil severa. Foram meses na UTI, eu morei naquele hospital, Hanni — Baixou os olhos, ficando triste só de lembrar.
— Ei, eu sinto muito — Hanni tocou a mão dela rapidamente — Não queria te deixar triste — Sua mão sentiu a aliança no dedo de Presley.
— Não, tudo bem, isso sempre acontece quando falo a respeito. Esse assunto sempre será sensível. Ficamos meses na UTI e quando ela finalmente conseguiu se recuperar, a busca por sequelas começou. E foi encontrada dias depois. Aika estava surda, completamente surda. E vem aquela onda de coisas: o não saber como tudo será, como ela irá crescer, como vai se desenvolver. Muda tudo, sabe? Toda a dinâmica, toda a rotina. Ter um bebê já é desafiador, um bebê com deficiência auditiva então... Não vem com manual. Tudo isso já faz um tempo, mas ao mesmo, parece bem recente ainda, eu não sei te explicar. Só recentemente comecei a voltar para algum lugar conhecido. Voltei a trabalhar só faz um mês.
— Você trabalha onde?
Abriu um sorriso.
— Lembra que te chamei de carma?
— Você negou!
— Neguei, mas chamei mesmo. É que assim, eu nasci em Seul, cresci lá, cheguei aqui com uns dez, onze anos. Eu sempre detestei a Coreia, sempre quis apagar aquele país da minha existência, mas como você pode notar, não tem como fazer isso com a etnia na nossa cara. Eu tentei de qualquer forma, mas, de alguma maneira, tudo ao meu redor sempre me traz a Coreia de volta. Tudo bem, há um monte de coreanos aqui, descendentes e tudo mais, mas os neozelandeses são a ampla maioria. E pelo meu caminho...
— Você sempre cruza com os kowis.
— Sempre! Eu achei que seus sobrinhos fossem kowis.
— Não, mas a mãe é brasileira, meio preta, meio indígena. Daí a mistura deu nas criaturinhas com cara de maori. Você se casou com um kowi?
— Casei. Leo é neto de coreanos, mas não tem a etnia tão forte mais. Ele é mais neozelandês do que coreano, mas de alguma maneira, a Aika saiu...
— Uma cópia de você. Até o sorriso.
Presley a olhou; ela tinha notado o seu sorriso, ok.
— É, é uma cópia mesmo. Mas de alguma maneira, ela... se parece com você também, Hanni.
— Parece! Parece mesmo, não é?
— Parece. Então, na minha tentativa de me afastar ao máximo da cultura coreana, de alguma forma, eu estou trabalhando na embaixada sul-coreana como tradutora.
E isso causou uma crise de riso em Hanni, impossível de ser parada.
— Presley, você é uma hipócrita!
— Eu sei, eu sei, mas foi o emprego que encontrei, enfim — Estava sorrindo, mordeu outro biscoito — Seus alunos? — Presley viu um pessoal subindo, com quimonos e afins.
— Meus alunos. Você não quer fazer a aula também?
— Não, não, eu sou péssima em todo e qualquer esporte. Eu prefiro só observar.
— Tudo bem, vamos lá.
Foram. Subiram as escadas até a sala, um aquário com um tatame no meio, uma turma muito mista, cuja faixa etária deveria variar entre três e quarenta e três anos. Hanni foi se trocar e disse para Presley tirar os sapatos e se sentar num cantinho do tatame, não tinha problema. Recebeu um olharzinho de sua filha, que apenas acenou de longe; ela estava se divertindo mesmo com os novos amigos e estava a coisa mais linda do mundo naquele quimono azul, A chamou, queria tirar uma foto dela; ela veio, sinalizando e sinalizando, contando dos amigos novos, do que tinham brincado, empolgada, feliz demais. Então, Hanni surgiu de volta.
De quimono preto, tranças boxeadoras nos cabelos, a faixa roxa na cintura, ela era... diferente do que se espera da etnia. Era toda muscularmente trabalhada, tinha pernas firmes, abdômen firme. Dava para saber só de olhar, tal como os braços eram firmes também. E conforme ela foi aquecendo um pouco, foi dando para ver melhor as tais definições musculares suaves que ela tinha, mostrando-se nas roupas justas que Hanni estava usando por baixo do quimono. Era modelo, mas era atleta, e a pure skin beijada pelo sol... Ela parecia mesmo uma polinésia de ilha. Bronzeada, com cabelos de mar, salgada na pele.
Ela aqueceu rapidinho, então foi até Aika e Pipe, falou com as duas, mexendo nos cabelos de ambas, fazendo tranças boxeadoras nas duas em segundos. Manteve sua mão pegada na de Aika e pediu para que os alunos se perfilassem. Tinha umas vinte pessoas, aula cheia. Falou com Aika de novo, a puxou de lado, pegou algo em sua bolsa. Era uma mini faixa branca. Amarrou na cintura dela, a instruiu, e sua pequenina correu para o final da fila.
— Oss! — Ela cumprimentou a turma com uma saudação em inclinação e foi cumprimentada de volta — Hoje temos uma possível futura nova aluna, talvez a tão sonhada parceira de treino da Pipe, não é, Pipe?
— Sim, mestre! — Ela saltitava de alegria, muito animada.
— O nome da pequena no final da fila é Aika, e aquela é a mãe dela, Presley. Sejam muito bem-vindas!
— Oss! — A turma respondeu.
— Ok, vamos lá, aquecimento!
Aquecimento e nenhuma menção a Aika ser surda, o que Presley julgou... Adorável. Sua filha era tantas coisas; não achava justo ser sempre introduzida como "Aika, a surda". O aquecimento foi muito divertido. Primeiro, foram feitos alongamentos de ioga, algo que Aika fez sem grandes dificuldades, apenas seguindo o que Pipe fazia. Depois, vieram alguns movimentos que Presley julgou serem mais técnicos e, por último, parecia uma grande brincadeira. Como cair, alguns rolamentos, uma disputa com todos os alunos envolvidos. Tinha uns dois homens mais velhos e algumas garotas mais novas, adolescentes, provavelmente de quatorze, quinze anos, então tinham alguns garotos e garotas de onze, doze anos, e alguns adultos na casa dos vinte, trinta, homens e mulheres. E funcionava, de alguma forma, aquele aquecimento funcionava perfeitamente para todos eles.
E depois do aquecimento, veio a técnica do dia. Hanni pediu para que todos se sentassem ao redor dela e escolheu uma aluna para exemplificar. A mais bonita. A mais graduada. Hanni se defenderia mais tarde, mas naquele momento, Presley apenas sorriu. Tinha quase toda certeza do mundo que Hanni se relacionava com mulheres. Não, ninguém havia dito nada, mas foi como uma informação imediata enviada, tipo por AirDrop ou algo assim, Presley sentiu. Antes de qualquer coisa, antes de vê-la interagindo com as mães, só... sentiu.
E como ela tinha um drive para receber tal informação?
Simples, na faculdade, Presley tinha se interessado por Aliana. Como acabou casada com o irmão dela, sem que nada tivesse de fato acontecido entre elas, sempre seria um mistério.
Não podia dizer que tinha se apaixonado por ela, porque não tinha, mas Aliana por algum motivo, em alguma festa que elas foram juntas, sem razões claras, depois de algumas bebidas, tinha beijado Presley. Não podia nem dizer que havia sido um beijo, havia sido um selinho, na verdade, mas aquele mínimo toque despertou algo dentro da cabeça de Presley. Várias perguntas surgiram, encontrou algumas coisinhas anteriores, fios de interesse talvez, que a deixaram pensativa por algum tempo. Então, Presley e os rapazes, Presley e Leo em outra festa, e esse selinho foi se tornando apenas um selinho mesmo, que ela enviou para parte de trás do seu cérebro e esqueceu lá. Voltando para a aula, Hanni estava explicando e explicando algo que chamava de São Paulo Pass, e oh, aquilo exigia contato. Presley estava vendo algo no celular, mas até deixou de lado ao ver Hanni entre as pernas da tal garota que fechava a posição atrás dos quadris dela, mantendo os pés juntos, e piorava.
— Vejam que a minha mão esquerda vai bem aqui, quase na axila dela, e a minha outra mão vai fazer a pegada no bíceps direito, bem assim — Ela ia falando e ia fazendo — Então, eu vou tirar o meu quadril do chão e vou cair para dentro dela, minha cabeça bem aqui, estão vendo? Não está nela, está no chão mesmo, do lado do pescoço dela... — E a moça fez uma cara de dor — Tay, tudo bem?
— Sim, mestre, tudo bem.
— Qualquer coisa, você bate. Daí, com o quadril já no alto, eu vou andar pra frente, para dentro dela e agora, sim, eu ganhei a esgrima dela bem aqui — A pegada da garota no quimono de Hanni tinha se desfeito — E meu peso vai todo em cima da perna dela, a guarda já enfraqueceu e com um pouquinho mais de paciência... Mão na canela, bem aqui e é só soltar — Ela moveu o quadril e a guarda só abriu — Pronto, guarda quebrada.
Guarda quebrada e um monte de contato, ok. Ela demonstrou a posição mais algumas vezes, depois formou duplas para reproduzirem o exercício e veio para perto de Aika novamente.
— Aika, vamos fazer os movimentos base, tudo bem? — Falou com ela em coreano; ela disse que tudo bem, mas Presley se preocupou um pouquinho, tanto que Manu sentiu o olhar dela queimando na sua nuca, olhou para ela — Pres, tudo bem?
— Você precisa que eu traduza algo ou...?
— Pode deixar, acho que consigo.
E de alguma maneira, ela realmente conseguiu. Trouxe Mave para Aika jogar de um lado a outro, enquanto ela aprendia os movimentos básicos: fechar a guarda, abrir a guarda, impulsionar, pesar no adversário, montar, e ela fez tudo muito, mas muito precisamente. E não, Hanni mal estava falando verbalmente com ela; estava demonstrando, tocando, indicando onde os movimentos deveriam ir, deixando que Aika sentisse a pressão de cada movimento, pouquíssimas palavras, mais ação do que qualquer coisa.
Então, veio o momento dos combates.
Hanni mandou todo mundo beber água, e a palavra "combate" tinha assustado aquela mãe.
— Presley, é tranquilo.
— É que ela começou hoje.
— E vai usar o que ela aprendeu no rola.
— Rola?
— Palavra brasileira, é... que todo mundo rola de rolar, sabe?
— Ah!
— Ela vai se sair muito bem, quer apostar?
Presley olhava bem para ela. As tranças boxeadoras, aquele sorriso que nunca se fechava.
— O que você quer apostar?
— Se ela arrasar aqui, você me deixa escolher o emoji que vai do lado do meu nome na sua agenda.
E Presley riu demais. Estavam num cantinho da sala, Hanni sorrindo, recostada na parede, Presley de braços cruzados na frente dela.
— Feito.
— Feito, ótimo. Vamos lá, pessoal? Rolas de quatro minutos, eu vou casar as duplas.
Ela foi casando as duplas, então Aika ficou por último, saltitando e ansiosa, não cabendo em si de ansiedade.
— June, você vem aqui — Hanni pegou uma das pré-adolescentes e colocou na frente de Aika — Esta é a Aika, fale de frente para ela quando necessário, tudo bem?
— Oss, mestre!
— Puxa ela para guarda, vamos ver se ela consegue sair — Daí se virou para Aika e em coreano: — Faça o que você aprendeu.
"Sim, sim!" Mais saltinhos, pronto, eram duas saltadoras, que maravilha! E Presley estava a ponto de infartar ao ver uma pré-adolescente contra a sua filhinha. Elas se cumprimentaram, com um tapinha de mão e um soquinho, a garota puxou Aika para guarda, e Presley correu para filmar. Sua filha não decepcionava. Ela fez tudo certinho e muito rapidamente: mão no quimono, se colocou de pé, abertura de guarda, voou para o lado da garota, pesando contra ela tão rápido que a menina teve uma crise de risos, pesou, os dedinhos dos pés cravados no tatame, o gesto técnico de mudança de guarda e lá se foi, montada perfeita. Hanni estava se divertindo demais com o sorriso surpreso de Presley. Se olharam e o olhar de Hanni dizia: eu disse para você.
Depois da adolescente, na próxima rodada, Aika rolou com Pipe, uma gracinha, mas coisa séria também. As duas levaram tudo muito a sério. Depois foi a vez de Mave, e o rosto de Presley estava doendo de tanto sorrir. O sorriso de sua filha, o quanto ela parecia feliz. Por último, ela pôde ver Hanni rolando com um dos homens, com o dobro do peso dela, provavelmente, que foi derrotado umas... três vezes em quatro minutos? Ela derrotou sua aluna mais graduada também, três vezes em cinco minutos, e Presley desconfiava que só não era pior porque ela os deixava se moverem, deixava tentarem algo, indicava o que deveria ser feito na posição aqui e ali. Então, final de aula. Alunos perfilados, cumprimentos, e eles foram saindo um a um, até ficarem apenas as duas e as três crianças no tatame outra vez. Hanni estava suada, meio descabelada e feliz. Estava na cara dela o quanto ela amava aquele lugar.
— Eu não disse para você? Ela aprendeu tudo o que mostrei muito rápido. Isso tudo aqui é sobre síntese de compreensão do movimento, sobre memória muscular. Aika é ótima nisso.
— Eu fiquei surpresa! Com a rapidez que ela fez tudo.
— Ela é disciplinada, é boa em focar em rotinas.
Outro sorriso de Presley.
— Aika disciplinada. Eu acho que nunca ouvi essas duas palavras na mesma frase — Disse, abrindo um sorriso, e Hanni ficou só...
Olhando para ela. Yummy mommy, como podia?
— Tira a jaqueta, vem aqui — Hanni a puxou pelo pé.
— Hanni!
— Vem aqui, ela vai querer treinar com você. Vou te ensinar o que ela aprendeu hoje para você não apanhar da sua filha de três anos.
Acabou indo sob pouquíssimos protestos.
Presley tirou a jaqueta e foi para o tatame com ela, e Hanni foi só se deitando para trás e imediatamente, a prendeu na sua guarda.
— Oww! — Presley sentiu os pés dela se cruzando pela sua cintura e o tranco lhe puxando para muito, mas muito dentro dela.
— Não parece que é tão firme, não é?
Não parecia, mas nem tinha sido isso. Presley começou a sentir seu rosto esquentar, esperava que não ficasse aparente.
— Quando você está nesta posição, significa que está impossibilitada de atacar, quando eu te prendo assim — Ajustou o cadeado de seus pés ainda mais, trazendo o corpo de Presley ainda mais para dentro e, ao mesmo tempo, ela esticava seu próprio corpo para trás — Tenta me bater.
— Hanni...
— Tenta, vamos.
Tentou alcançá-la, movendo os braços, mas nada, ela estava mesmo fora de alcance, por mais que tentasse, não conseguia.
— Isso funciona com qualquer pessoa?
— Qualquer pessoa. E se você está nesta posição, tem que sair daí para poder atacar.
Ela ensinou a abrir a tal da guarda. Presley de cabelos soltos, os fios claros se movendo de um lado a outro, a camiseta branca, a calça jeans, e Hanni ainda de quimono, sem faixa, o que deixava a parte de cima aberta e por onde Presley conseguia ver um pedacinho do abdômen dela escapando da rash guard. Abdômen forte. Dava para ver e dava para sentir. De vez em quando seus dedos a pegavam ali, e Presley podia sentir. Hanni explicou todo o gesto técnico, pegada, levantada, abertura de guarda, passagem simples, 100 quilos (Presley riu, mas era o golpe da pressão, e quando sentiu em si, entendeu por que chamava 100 quilos), troca de base, montada e pronto, estava... montada em Hanni. Em cima daquele abdômen forte.
— Own! Você é boa nisso também, está vendo?
— Eu vou fingir que você não me derruba daqui em dois segundos.
— Se chama "upa."
— Upa...?
Não deu tempo de processar. Upa aplicado e o tal do upa nada mais era do que um... golpe de quadril? O quadril levantava, o corpo girava, tirando a pessoa que estava por cima, a fazendo rolar de lado e acabar embaixo de quem passava.
Em segundos, Presley estava embaixo dela, com o corpo de Hanni entre as suas pernas que só... se fecharam. Pés cruzados, ninguém se movia.
— Oww! Você aprendeu a fechar o cadeado bem rapidinho — Ela tinha pressão, pernas firmes.
— Isso é bom?
— Isso é ótimo! Você tem futuro aqui se quiser — Hanni achava que ela ficaria linda num quimono azul, apenas um pensamento.
— O que você disse?
Ah, não tinha só pensado.
— Que você vai ficar bonita de azul, usando um quimono igual ao da Aika, está vendo?
— Eu... não vou comprar um quimono agora, Hanni.
— Não precisa, eu te empresto um meu. Então, lembra que eu posso escolher o meu emoji, você foi derrotada.
— Eu estou lembrando disso — Seguia com ela encaixada no seu corpo, os pés cruzados e uma pressão que...
Ok, seu rosto tinha esquentado de vez. E determinadas partes suas estavam... reagindo.
— Hanni, eu tenho que ir. Acho que perdi a hora aqui.
— Ah, ali, meu irmão e a minha cunhada chegando. Eu vou te apresentar rapidinho.
Apresentou rapidinho, uma linda cunhada muito brasileira, bem calorosa, e um irmão que era a cara de Hanni, um gato como ela. Claro que as crianças tinham saído, aquelas duas coisinhas lindas, uma mistura impressionante. Então, fecharam a sala. Presley ainda desceu na cafeteria, comprou biscoitos para o café da manhã, e Hanni foi levá-la no carro. Antes disso, abriu seu carro novamente e pegou outro pacote fechado da lavanderia.
— Aqui está o seu quimono. Te vejo na quarta?
Presley olhava para ela. Queria voltar. Queria vê-la de novo.
— Quarta. Mesmo horário?
— Mesmo horário.
— Eu trago o quimono da Pipe.
— Agora é da pequena aqui, o tsunami — Pegou Aika no colo outra vez — Pipe tem dez desses, Aika pode ficar com esse aqui. Me dá seu celular.
— Como?!
— Vou colocar o meu emoji, vamos.
Presley riu de novo. Pegou o celular, destravou, achou o contato dela e entregou para Hanni.
Ela escreveu algo e, em seguida, travou de volta.
— Só é para ver em casa, nada de celular enquanto dirige com a hurricane aqui. Aika, seja boazinha no caminho para casa.
E ela sinalizou com os dedos de volta.
— Presley?
Presley sorriu.
— Ela está perguntando quando vão se ver de novo.
E isso causou um acesso de beijos de Hanni em cima de sua filha. Beijos, beijos, beijos, abraço apertado e apertado, um monte de cheiros, e Aika estava rindo sem parar.
— Você vai causar uma síncope na minha filha desse jeito, me devolve a criança.
— Diz para ela que a gente se vê na quarta, vamos — Pediu, esmagando o rostinho de Aika contra o dela. Presley sinalizou, e Aika bateu palminhas, feliz demais.
Então, Hanni passou Aika para os braços de Presley.
— Dirija com cuidado — E suavemente, se inclinou e deixou um beijo na bochecha de Presley.
O beijo queimou. E o rosto de Presley ficou vermelho para valer.
— Você... também — Praticamente, fugiu para dentro do seu carro. Claro que Hanni notou o rosto vermelho, obviamente notou a fuga e abriu um sorriso ao notar tudo isso. Ficou um tempinho a mais, respirou fundo e só então voltou para a frente do prédio, onde seu irmão estava.
E a primeira coisa que ele perguntou foi:
— O que você está fazendo, Manu?
— O quê?
— Deu para ver a aliança dela a quilômetros de distância! — Ele disse, rindo.
— Para! Ela tem muito mais qualidades do que defeitos — Respondeu sorrindo.
— Manu...
Ela ficou mais séria, vendo o Volvo saindo do estacionamento.
— Ela está estressada. O bebê é um furacão, precisa de atenção especial. Acho que Presley não tem muito apoio em casa, como quase sempre acontece, tudo sobra para a mulher. Eu senti que ela precisava respirar um pouco. E eu adorei a Taz-mania — Disse, fazendo ele rir outra vez.
— Pipe também adorou. Só... tenha cuidado.
— Eu sou uma mulher séria agora, esqueceu?
— Ah! É tão fora de mão que eu até esqueço mesmo.
— Imbecil!
— Idiota!
Hanni o abraçou.
— Eu te amo.
— Eu também, irmãzinha — Beijou a testa dela — Eu também. Eu só quero que você seja feliz, você sabe disso, não sabe?
Evidentemente, Presley não esperou chegar em casa para checar o tal contato.
Abriu o carro, sentindo seu rosto queimando, seu corpo queimando, colocou Aika na cadeirinha muito rapidamente e entrou na direção, fechando as portas, respirando fundo. Que ridículo! Seu coração querendo escapar do peito por causa de um beijo amistoso no rosto. Hanni deveria estar a achando a mulher mais infantil da face da Terra. Fazia algum tempo que Presley não envergonhava a si mesma daquela forma. Pegou seu celular, checou o contato e, tinha ficado assim:
Park Manu 🥵.
Hanni sabia. Sabia sim.
E Presley teve uma crise de riso. Do meio de estar a ponto de arder em chamas de tanta vergonha, começou a rir porque...
— Que descarada! Ainda por cima, é Park também, mais karma impossível.
Espera, será que isso queria dizer alguma coisa? Será que Hanni estava... flertando?
— Não seja idiota, você é casada, ela sabe disso — Olhou para frente, e Hanni estava tirando o quimono, a parte de cima, enquanto conversava com o seu irmão. O rosto sem nenhuma maquiagem e linda, LINDA, em caixa alta mesmo — Ela não olharia para você. Olharia?
O que você deseja, está do outro lado da fronteira do medo.
Notas da Editora: Ana Reis
Pessoal, como estamos?
A Hanni definitivamente não presta! hahahahaha
Yummy mommy? Presley está ferrada! 😅
Beijos! Voltamos 28/09.
Ansiosa pelo próx 🥹❤️
Amando…
Apaixonada pela Hanni ♡
Meninas, bolão para a Presley perceber que tem alguém dando em cima dela, estime aqui em capítulos quanto vcs acham que vai levar 🤣🤣🤣
Que lindas!!!!que história incrivel que esta se construíndo... tratar logo minha ansiedade até o dia 28...😍