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FIRST LOOK - INQUEBRANTABLE




First Look - Still Looking For Love

conteúdo #19




El Gótic, Barcelona – janeiro de 2023.


Pré-Australia Open


Aniko estava de cara no chão na calçada do seu prédio.


Era sério aquilo? Sério que tinha caído daquela forma sozinha e em público? E era impressionante como este detalhe de estar sozinha e em público, podia tanto ser positivo, porque se tinha caído na rua, era melhor estar sozinha mesmo, mas também era negativo, uma vez que tinha caído sozinha e aparentemente não havia ninguém, ABSOLUTAMENTE NINGUÉM que pudesse lhe ajudar, porque assim, do jeito que bateu no chão, do jeito que seu corpo inteiro doeu, algo lhe dizia que ela não conseguiria exatamente levantar-se sozinha.


Zoa morreria de rir se a visse. Brie a mataria por ter sido teimosa. Amava suas irmãs.


Respirou muito fundo, sentindo todo o peso de sua Babolat nas costas, o conjunto de moletom branco da Nike que vestia não estava mais branco, os longos cabelos soltos, o boné que tinha voado para longe, “Aniko Arenas” gravado na mochila e nos tênis brancos, as muletas que tinham caído longe do seu alcance e a dor no seu joelho era... Inimaginável. Teria rompido de novo?


Então, quando entendeu que tinha mesmo caído e começou a perceber tudo o que estava doendo e o quanto aquela posição estava machucando, ouviu um toque-toque acelerando contra os paralelepípedos na sua direção e uma ardência intensa em seu rosto. Tentou se mover de novo, de um jeito, de outro, mas só foi possível quando sentiu o peso enorme de sua mochila aliviando suas costas.


Mantén la calma, déjame ayudarte, todo bién, todo bién.


Sim, não estava mais tão sozinha, não era mais a única garota no mundo. E após ouvir aquela voz feminina ecoando em sua cabeça (que estava lhe desferindo machadadas intensas de dor em latejadas violentas), Aniko foi sentindo o peso da mochila cedendo. Respirou muito fundo, sentindo seus pulmões aliviando de uma determinada maneira, ela tirou a sua mochila e gentilmente, ajudou Aniko a se sentar muito devagar. Estava sentindo tanta, mas tanta vergonha que nem o rosto conseguiu erguer. Aceitou a ajuda da dona dos saltos, mas se manteve de cabeça e olhar baixo, como quem não deseja ser vista. O branco de sua roupa agora tinha pontos sujos de terra e, de gotículas de sangue.


— Eu me desequilibrei e estou com o joelho operado, acho que...

— Você fala português.


Só então, Aniko ergueu os olhos.


E seu coração quase parou no peito.


— Eu... Eu sou brasileira.


Ela abriu um sorriso, olhando Aniko bem nos olhos, um sorriso diferente, bonito, difícil de ser decifrado.


— Não é coreana, nem chinesa? — Decifrado. Era um sorriso de surpresa.


Aniko acabou sorrindo também, apesar de sentir como se seu corpo inteiro estivesse prestes a colapsar. Sentia sua pressão sanguínea tão forte que parecia que, a qualquer momento, alguma veia iria romper do nada e a embaraçar ainda mais diante dela.


— Mãe brasileira, mas que é filha de chineses, e meu pai é espanhol.

— Eu sou luso-brasileira — Ela explicou, muito gentilmente, abaixada junto de Aniko — Eu não fazia ideia de que... Bem, deixa eu te ajudar aqui. Você machucou algo mais? Seu rosto está bem machucado.

— Meu rosto...?

— Sim, você ralou bastante — Ela delicadamente deslizou os dedos pela mandíbula de Aniko que... Ok, postura, postura — Tudo bem, está tudo bem, fica calma, aparentemente não é nada grave. Você mora aqui, não é? Eu te vejo pela minha janela.


Aniko não conseguia tirar seus olhos de cima dela, simplesmente... Não conseguia.


— Moro, moro deste lado.

— Tudo bem, eu te levo até o seu apartamento, vou te ajudar a levantar.


Aniko seguia não conseguindo parar de olhar para ela. A moça a ajudou a se levantar e mesmo ela usando saltos altos, Aniko seguia mais alta do que ela. Ela era mais baixa mesmo. Estava de saia xadrez preta e branca, a blusa era gola alta, branca, tal como o casaco que ela levava pendurado nos braços. Barcelona já era bem mais quente que Paris em janeiro. Agora, olhando-a mais de perto, Nik conseguiu filtrar as feições indianas, um tanto mouras, estava vendo demais? Os cabelos presos num coque alto e algo por ela que era simplesmente, bonito demais.


Era a moça de sua janela. E ela lhe via da janela dela também.


Ela juntou suas muletas, pegou sua mala, achou a chave que tinha caído das mãos de Aniko e estava no chão.


— Se apoia em mim, vamos entrar.


Ela abriu o portão antigo e pesado, e apoiada nela, Aniko passou pelo corredor de pedras que dava acesso para a vila onde ficava seu apartamento. Uma vila antiga, com oito apartamentos diferentes, tinha uma área comum, com um pequeno jardim florescendo aqui e ali, paredes de pedra, chão de pedra, então, ficava muito moderno. Era o tipo de prédio europeu antigo, charmoso e que apesar de parte modernizado, ainda guardava muita história. Pegaram o elevador, Aniko morava no segundo andar, sabia que ela estava conversando consigo, tinha plena consciência de que ela estava falando, mas não estava conseguindo compreender. Respondia tudo no automático porquê, um, estava sentindo muita dor mesmo e dois, estava totalmente chocada por estar tão perto dela, a sua crush de meses, para a qual olhava igual a uma idiota diariamente pela sua janela. Esperava que ela não visse. Os olhares bobos que Aniko direcionava escondida em sua cortina. Chegaram na porta do seu apartamento, ela colocou a chave na porta e, parou. Olhou para Nik, sorriu.


— Você nem sabe o meu nome.

— Eu deveria ter perguntado, né? Mas eu sou tímida.


Ela sorriu mais.


— Nenhum tímido assume que é tímido.


Aniko parou pensando a respeito.


— Então o que eu seria?


Outro sorriso enorme dela. Aqueles olhos amendoados brilhavam quando ela sorria, um sorrisão amplo, bonito, sabia que era bonito, já tinha visto de longe, mas de perto...


Caótica! Menina, eu vi você de longe, estava saindo e vi você descendo, o táxi partindo, daí vi você com mochila, muletas e mala de puxar, o que podia dar errado, não é? — Destrancou a porta, a escoltando para dentro.

— Eu tinha certeza de que conseguia fazer sozinha, certeza... Awf! — Gemeu mais alto de dor porque, agora, tinha doído diferente, tinha doído pra caramba.

— Espera, espera... — Tirou as muletas dela, largou a mala, a mochila e veio para frente de Aniko — Sobe aqui.

— Não! — Respondeu sorrindo — Eu devo conseguir andar até o sofá.

— Eu quero levar você para o quarto, vamos, sobe aqui, eu sou muito forte.

— Ah, você é?

— Sou! Tenho uma força interior inacreditável, sobe aqui para você ver.


E Aniko só... Subiu. Subiu de macaquinho nas costas de uma estranha que, de fato, a segurou muito bem, sem sequer balançar.


— Você é leve, chinesinha.

— Eu sou atleta, não devo ser tão leve assim.

— Vou colocar a mão bem aqui, tá? Só para te segurar sem machucar — Delicadamente, esticou o joelho machucado dela e a segurou pela coxa naquele lado. Tal como Brie, Aniko também tinha a habilidade de ouvir Zoa na sua cabeça: “Nenhuma garota hétero precisaria dizer isso, Aniko, atenção, presta atenção, menina!” — Meu nome é Vienna.

— Vienna, como...?

— A capital da Áustria, sim. Eu nasci na Áustria, em Vienna, sem querer... — E ia levando Aniko para o quarto, sem nenhuma dificuldade, ela parecia forte mesmo. O apartamento era simples, sala e cozinha conjugados, com um quarto no final do único corredor, eram todos iguais, Vienna morava em um idêntico.

— Sem querer? Como assim sem querer?

— Quase que nasci no avião — Respondeu sorrindo — Vim de seis meses e pouquinho, minha mãe estava voltando para Portugal depois de uma reunião de trabalho na Hungria, ela trabalhava para a ONU, sabe? Daí ela começou a sentir dor, houve um pouso de emergência, minha mãe não fazia ideia de onde tinha pousado, do que estava acontecendo, nem de que nome ela me daria, sempre muito ocupada para pensar neste tipo de detalhe. Eu posso abrir aqui?

— Pode, claro que pode.


Ela abriu a porta do quarto.


— Daí, como eu tinha nascido em Vienna, de surpresa, ela só decidiu resolver logo esta parte burocrática de dar nome a um bebê — Se posicionou e delicadamente, deixou Aniko escorregar para a cama, então, virou-se para ela novamente, se abaixando na sua frente — Vienna Álvares Guimarães, schön zu treffen — Estendeu a mão para um cumprimento e, Aniko pegou a mão dela, o contraste de cores, o trigo e mel da pele de Aniko, o mascavo-doce da pele de Vienna.

— Aniko Hu Arenas, prazer em te conhecer.

— Encantada, senhorita do caos. Agora, eu posso tirar esses tênis personalizados e tal?

— Não seria estranho?

— Seria, a gente mal se conhece, mas você mal pode se mover também, então... — Começou a soltar os cadarços de Aniko com muito cuidado — Por que você tem tanta coisa personalizada?

— É que eu sou atleta.

— Uma atleta tão boa assim? O que você faz? — Tirou o primeiro sapato e foi para o próximo.

— Eu sou tenista, jogo tênis profissionalmente.

— Hum, que interessante.

— Interessante?

— Aham, eu sou fisiologista — Tirou o outro tênis dela.

— Fisiologista é médico?


Ela sorriu novamente.


— É médico sim. Eu sou médica-pesquisadora, trabalho na Universitat de Barcelona, conduzo uma pesquisa sobre o desenvolvimento físico em atletas de ponta e como isso pode reverter negativamente no pós-carreira para a saúde deles. Atletas não são exatamente saudáveis, você deve saber disso, o esporte de alto rendimento cobra muito do corpo. Escuta, eu posso olhar o seu joelho se você não se importar, está sentindo dor, não está?


Aniko afirmou, estava doendo demais.


— Então vou subir a sua calça, está bem? E tentar ver se posso fazer algo.


Nik respirou muito fundo, assim que os dedos dela tocaram o seu tornozelo e começaram a subir o moletom. Os dedos delicados, o toque na pele sensível, tentou se manter, não reagir, a calça que estava usando era bem larga, Aniko seguia com imobilizadores no joelho que, deveriam estar fora do lugar.


— Uau! Você tem um pedaço de armadura aqui — Era um pedaço de armadura mesmo, era um imobilizador articulado, com quatro travas, duas na coxa, duas na perna, com articulação de pressão e tudo.

— Saiu do lugar?

— Eu vou ter que tirar e colocar de volta, ajustar de novo, foi uma bela pancada, mas não tem sinal de agressividade na lesão — Foi abrindo as travas do imobilizador — Está doendo porque foi uma queda mesmo, seu corpo está estressado, mandando sinais de dor para a área mais sensível no momento. Você tem gelo?

— Eu acho que tenho.

— Vou lá ver, fica quietinha aí.


Ela foi na cozinha e quando retornou, tinha uma bolsa de gelo, colocou um travesseiro embaixo de seu joelho e a bolsa sobre a lesão.


— Você tem um kit de primeiros socorros?

— No banheiro, tenho sim.


Ela foi até o banheiro e retornou com o kit. Então, sentou-se na cama, muito perto de Aniko, que sentiu seu coração disparando totalmente agora. Como podia? Ficar tão nervosa assim? Sua boca estava seca, seu coração tão disparado que temia que ela percebesse. Ela chegou muito perto e começou a limpar o seu rosto, tinha aparentemente ralado o queixo e a mandíbula, ela estava lhe explicando isso enquanto limpava tudo e...


— Eu... Eu sinto muito — Aniko disse de uma vez. Ela parou, olhou nos olhos dela, continuou limpando.

— Sente muito...?

— Pela sua cachorrinha. Eu... Não fazia ideia de que ela estava doente.


Ela fez uma cara mais triste.


— Você tem apelido? — Perguntou, sem fazer muito sentido, mas Aniko sorriu ao ouvir a pergunta.

— Nik, pode me chamar assim.

— Nik, ok. Então, Nik, pelo que entendi, você tinha algo importante na manhã seguinte àquela noite, não tinha?

— Tinha... Wimbledon.

— Ah, só Wimbledon! — Outro sorriso dela — Entendi que você precisava dormir, não fiquei chateada, nem nada. Eu só fiquei... Triste mesmo. Eu moro sozinha aqui e tinha a Pudim há mais de seis anos. Ela deveria ficar comigo ao menos mais um tempo, mas de alguma maneira, ficou muito doente e eu não pude salvá-la. Quando eu a trouxe do veterinário, já sabia que ela não sobreviveria muito e aquela noite foi só... Muito difícil. Me dói lembrar até hoje, mas eu não fiquei chateada com você.

— É que... Eu te enviei chocolates depois.


Outro sorriso dela.


— Ok, talvez eu tenha ficado um pouquinho chateada com a pirralha do apartamento da frente — Ela seguia limpando seu machucado no rosto e Nik deu uma suspirada, tinha ardido.

— Pirralha?! Quantos anos você acha que eu tenho?

— É mais nova do que eu, com toda certeza!

— Quantos anos você tem?


Ela lhe olhou, fez uma careta fofa.


— Quase trinta.


Aniko fez uma cara de surpresa, não dava trinta para ela de jeito nenhum.


— Eu sou médica, Nik, não tinha como eu ser novinha assim como você.

— E quantos anos você acha que eu tenho?


Ela lhe olhou nos olhos, sorriu.


— Uns dezessete.

— É claro que não!

— Não é uns doze anos mais nova do que eu?

— Não, só sete, eu tenho vinte e três.

— Completou no final do ano.

— Como você sabe?!

— Eu vi que você deu uma festinha, você e mais duas meninas.

— Minhas irmãs.


Ela a olhou surpresa.


— Uma preta e uma loira?

— É, é que, minha família tem uma configuração diferente.

— Entendi. Escuta, deita um pouquinho, eu vou colocar um ponto falso no seu queixo, ou vai ficar cicatriz.

— Sério?

— Seríssimo. Você machucou para valer. Mas, Doutora Vienna cuidará disso para você! Pode relaxar.


Sorrisos. Ela era leve, era divertida, era o oposto do que Nik tinha em mente que ela poderia ser. Parecia sempre tão séria, tão estudiosa, toda disciplinada, estava sempre lendo alguma coisa, tocando piano, ouvindo música clássica. Aniko deitou e ela arrumou o ponto no seu queixo, fez delicadamente, certinho para não ficar nenhuma cicatriz e enquanto ela fazia isso, o celular de Nik começou a tocar. Não tocava silencioso, tocava com música, era Brie ou Zoa, porque a música que estava tocando era apenas delas, e...


We are the lovesick girls… — Vienna cantarolou baixinho, nós somos as garotas doentes de amor... — Parte coreana entra agora — Disse sorrindo

— É, a parte coreana. Como que você…?


Ela seguiu cantarolando quando a parte coreana passou:


But we were born… to be alone… But we were born to be alone… Mas nós nascemos para ficar sozinhas, mas nós nascemos para ficar sozinhas… Então, olhando nos olhos de Aniko, ela completou: — But why we still looking for love...?


Mas por que nós continuamos buscando por amor?


Olhos nos olhos. Os olhos puxados de Aniko dentro dos olhos amendoados de sua vizinha quase desconhecida. Vienna. Agora ela tinha nome. Era Vienna.


— É uma das minhas irmãs ligando.

— É tipo a música de vocês?

— É tipo isso. Nós não costumávamos acreditar no amor, mas agora elas me traíram.


Outro sorriso de Vienna, já finalizando o ponto falso delicadamente.


— Elas estão namorando?

— Zoa está noiva. Brie perdidamente apaixonada.

— E você?

— Eu? — Sorriso de Aniko, os olhos seguiam a olhando muito de perto — Talvez eu tenha mesmo nascido para ficar sozinha.

But you still looking for love… — Ela cantarolou baixinho outra vez, sem tirar os olhos daqueles lindos olhos orientais.


E houve uma ponte. Entre um olhar e outro. Estavam fazendo pontes de olhares enquanto conversavam assim tão de perto o tempo todo.


— Por que você acha?

— Ninguém que não esteja procurando por amor, vai dizer que não está procurando por amor, senhorita caótica.


Seguiam muito perto uma da outra.


— Como você sabe essa música?

— Como eu sei? Você me faz ouvir k-pop, eu querendo ou não, por isso que achei mesmo que você era asiática raiz, chinesa, coreana, japonesa, sei lá. Vou fazer uns testes e ajustar seu imobilizador, ok?


Aniko concordou. Ela fez alguns testes, de reflexo, de dor, movimento. Vienna tinha mãos suaves, que tocavam delicadamente e com muito respeito. Ela parecia respeitosa pra caramba e aparentemente, tudo estava em ordem, estava doendo pela queda, mas não parecia ter nada agravado. Então, após examinar, ela foi ajustar o imobilizador, era um pouquinho doloroso sempre, mas de alguma maneira... Não doeu. Ela fez e não doeu.


— Por que não doeu?

— Dói quando você ajusta?

— Aham.

— Você precisa entender a cinesiologia da sua perna, entender os músculos, os ligamentos, como tudo isso se movimenta conjuntamente, daí você alinha tudo na mesma direção e só então ajusta, não vai doer, não é para doer. Escuta, eu tenho uma reunião importante na universidade e estou quase atrasada, mas para demonstrar de uma vez por todas que eu não te acho mais uma pirralha e que aceitei suas condolências pela Pudim, eu queria voltar aqui mais tarde, se você permitir. Daí eu te checo, trago algo para você comer. Hoje você vai sentir muita dor, tem remédios para dor?


Aniko afirmou, tinha sim.


— Ótimo. Preciso que fique de repouso quase absoluto e neste caso... — Pensou um pouco — Você come pho bo?

— Eu sou asiática, Vienna.


Ela deu risada.


— Eu tenho pho bo pronto em casa, posso deixar um pouco aqui para você almoçar e quando eu retornar, trago alguma coisa para você jantar. Aceita?


But we were born to be alone... But we were born… to be alone… Yeah, we were born to be alone, but why we still looking for love?


— Claro! Claro que aceito. Fique com a chave.

— Mesmo?

— Eu não vou a lugar nenhum, fique com a chave.


Vienna manteve a chave consigo. Daí ela saiu e retornou uns vinte minutos depois, com lanches, chocolate quente numa garrafinha, pegou água e um belo pote de pho bo que parecia delicioso. Trouxe as muletas para perto da cama.


— Use com moderação e só se for indispensável — Entregou um parzinho de hashis na mão dela.

— Os hashis...?

— E as muletas. Eu volto no final da tarde, seja boazinha — Piscou para ela e quando ia se afastando...

— Vienna!

— Oi! O quê?


Aniko olhou bem para ela. Apertou os lábios por um instante, sem sequer perceber.


— Só... Obrigada. Por ter parado todo este tempo para me ajudar.


Ela lhe olhou de uma maneira... Muito bonita. E daí, ficou sarcástica de repente.


Twice é melhor do que Blackpink — Disse e sorriu, sabendo que Aniko ia se irritar.

— Fora da minha casa! Fora da minha casa agora!

— Eu sabia que você não ia conseguir lidar com esta verdade — E foi saindo do quarto, rindo demais.

— Vienna! Retira o que você disse — Aniko estava sorrindo demais também. Como ela se atrevia?

— Eu volto! Final da tarde. Trago café. Se comporte! — E assim, Aniko ouviu a porta da frente fechar e...


Só abriu um sorriso enorme, olhos brilhando, rosto ficando vermelho quase que automaticamente. Se virou na cama, se esticando até sua mochila, pegando seu celular, tinha que falar com suas irmãs imediatamente. O que tinha acontecido ali? O que simplesmente...? Sorriu novamente e mais uma vez, aparentemente, tinha encontrado todo seu estoque de sorrisos perdido em algum lugar e talvez, Vienna estivesse mesmo certa, Aniko podia não acreditar no amor, mas seguia o buscando de qualquer maneira. Podia ser? Será que ela voltaria mesmo? Olhou para o seu joelho imobilizado.


— Eu sabia que em algum momento, você serviria para alguma coisa! — Olhou o celular, tinha sido Brie quem havia ligado, ela já teria embarcado? Ligou para ela imediatamente, sua irmã atendeu no segundo toque.

— Aniko! Por que você não atendeu antes? Eu já estava ficando preocupada!

— Brie, Brie, eu conheci a minha vizinha e, ela é uma mulher de natureza demoníaca. Ela entrou na minha casa, entrou no meu quarto, me colocou na cama, limpou o meu sangue e falou mal de Blackpink na minha cara.

— Ela falou mal de Blackpink e você não fez nada?! Espera, ela entrou na sua casa? Você não deixa nem a gente entrar na sua casa direito! E como assim limpou o seu sangue? Por que você está sangrando, Nik? Mon dieu! Ela é de fato, de natureza demoníaca.

— Eu disse para você! E eu não vejo a hora de ela voltar aqui — Respondeu sorrindo, porque não conseguia parar de sorrir — O nome dela é Vienna, é luso-brasileira, mas nascida na Áustria, por isso o nome. Ela me deixou comida também, tinha pho bo em casa.

— Você ama pho bo.

— Então...


Silêncio.


— Nik, espera... — Brie ligou por vídeo e assim que Nik atendeu — Meu Deus do céu, Aniko Arenas!

— Eu caí.

— Caiu onde, meu pai?

— Quando estava entrando — O sorriso amplo, brilhante — Foi bom, assim eu pude conhecê-la. Ela se chama Vienna, é médica-fisiologista, eu disse para você, ela parecia inteligente.

— De natureza demoníaca e inteligente, que combo!

— Você achou uma romena assim.

— Achei. Vampira. Qual seria a espécie da médica aí?

Loba. Banshee. Não sei ainda, só sei que... Foi bom. O encontro, ela ficou de voltar aqui.

— Para ver como você está. Nik, que insanidade!

— Eu sei! Ainda estou meio impactada com tudo o que aconteceu.


Silêncio novamente.


— Nik?

— Oi!

— Lembre-se: é loucura odiar todas as rosas porque uma te picou.

— Eu nem resisti, Brie. Não deu tempo de resistir a nada.


Daí, Ajla entrou no vídeo, estavam na fila de embarque.


— Nik, você sabe o que Vienna significa?

— Não faço ideia.

— Significa “forest stream”, algo como “córrego na floresta”, algo naturalmente em curso, algo em... fluidez. Só deixe fluir, sem medo.

— Mesmo se não significar o que eu desejo?

— Você não saberá de nada antes de descobrir. Deixe fluir, ok?


Deixar fluir. Achava que conseguia fazer isso sim.

 

Notas da Editora: Ana Reis


Curtiram a espiadinha? 😉



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