One Page II - Brenda Rippi
- Riesa Editora
- 28 de jul. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: há 5 dias

A Luz Por Entre as Rachaduras
“A primeira vez que beijei uma garota, eu soube quem eu era. Pode parecer uma bobagem, eu era só uma menina beijando uma colega de escola, mas aquele beijo... Aquele beijo teve gosto de liberdade, descoberta e poder. Eu me senti poderosa como nunca e é necessário entender que, a minha relação com poder naquela época era toda baseada na minha irmã. Em quem Isa já era, mesmo tão nova, que já era coisa suficiente. Era bailarina, vencedora de muitos concursos, colecionava medalhas na dança, na matemática, em português, no futebol, não tinha nada que Isa fizesse que ela não saísse vitoriosa, mente de atleta, focada, sem pressão. Enquanto eu... era só uma grande bagunça!
Toda errada, vida errada, andando com as pessoas erradas, sem um foco, sem um objetivo, e desde sempre atrás de uma cortina rochosa, não deixava ninguém se aproximar, nada me interessava muito, ou prendia a minha atenção por muito tempo, até eu beijar aquela garota. Tudo mudou dentro da minha cabeça depois daquele beijo. Um tsunami de possibilidades me invadiu a mente, então era isso, o futuro me parecia todo obscuro porque eu nunca conseguia imaginar como seria a minha vida adulta e depois daquele beijo, lá estava, minha vida adulta se pintando e nela, sempre havia alguma mulher incrível ao meu lado. Então, eu já sabia bem para onde ir, já conseguia imaginar as coisas, aquela primeira garota durou tempo suficiente para me fazer crescer dentro do necessário, a me conhecer melhor, entender do que eu era capaz. Nós separamos um tempo depois, como a maioria dos namoros adolescentes, não conseguimos resistir às muitas oportunidades surgindo o tempo todo e adolescentes querem pegar tudo de uma vez, ao mesmo tempo, em quantidade porque ainda não há ferramentas suficientes para se aferir qualidade. E surgiram garotas, muitas delas, houve um tempo em que eu ficava com três, quatro por semana, mudando de festa, de grupo, sempre indo em busca de uma pessoa nova, uma emoção nova. Hoje entendo serem emoções novas o que eu tanto perseguia, indo de menina em menina.
Outra explosão mental veio quando entendi que elas... gostavam de mim. Não era necessário um grande esforço para ficar com uma garota ou outra, quando eu não ia até elas, elas vinham até mim e eu sentia, mais uma vez, o poder nessa experiência toda. Eu ficava, era bom para mim e modéstia parte, era incrível para a maioria delas (não tem como ser modesta sobre isso no final das contas, eu tenho tickets para outros planetas e tal). Entendi isso logo também. Sexo é um quebra-cabeça e algumas pessoas sabem como encaixar as peças com mais facilidade, outras não, precisam de mais estudo. Eu costumava resolver um cubo mágico em quarenta segundos; e as minhas garotas eu resolvia em três minutos quando necessário, em uma hora quando era divertido, em duas horas quando era irresistível. Acho que era por isso que voltavam, que insistiam, e a minha mente sempre me subjugando, percebem? Pelo que mais elas voltariam se não fosse pela minha habilidade com cubos mágicos?
Tive muitas garotas, mas quando a minha irmã ficou doente, nenhuma delas fazia muito sentido. Bem, quase nenhuma, havia uma garota onde a cama sempre era mais que boa para mim, era ótima, era gostosa, uma garota que me fazia querer voltar mais, habilidade com cubos mágicos era incrível e, a habilidade de me fazer rir também. Manu, venezuelana, linda com aquele DNA maravilhoso, ótimo senso de humor, inteligente, refinada demais, bem-sucedida desde muito cedo, como Isa. Ela ficou comigo por muito tempo enquanto minha irmã estava partindo e teria ficado mais se eu tivesse permitido, mas eu não permiti. Não permiti antes, não permiti depois que a Isa partiu e, por um ano inteiro, eu simplesmente não tive ninguém. Fiquei sozinha, fugia das garotas que se aproximavam de mim, eu não tinha interesse algum, em coisa alguma. Meus planos eram apenas dormir sob um teto, em segurança, comer no dia seguinte, virou a minha operação de vida, meu piloto automático por um longo tempo.
Novamente, esta realidade foi alterada por uma garota especial. Uma fisgada na noite e fui trazida de volta para a vida. Era uma garota malaia, sorridente, espiritualizada, que ficou tempo suficiente para me tirar da solidão que eu mesma tinha me imposto. Voltei a ser a Brenda em busca de emoção durante as noites em Bali. Conheci muita gente, muitas mulheres incríveis e Bali é como um grande stopover, as pessoas passam geralmente por lá, por uma semana, no máximo duas, e voltam de onde vieram. Isso funcionava pra mim, mas não me tirava do escuro. Eu brilhava por umas horas e logo voltava para mim, para a dor, a cortina de pedra, a caverna escura, isolada de tudo.
Estava em uma caverna no alto de Kilimanjaro, quando uma escaladora de montanhas sexy pra caramba invadiu o meu espaço.
Desconfiei após a nossa primeira noite que ela podia resolver um cubo mágico em vinte segundos.
Lá se foi, minha vida sendo transformada mais uma vez por uma mulher, a coisa mais linda, gostosa, excepcional, talentosa, artista. Isa me alertou tantas vezes que eu acabaria com uma artista que eu nem sei. Foi assim que Chloe Krahenbühl invadiu a minha caverna, escancarou portas, quebrou a minha armadura de rocha e uma fresta de luz começou a passar e segue assim diariamente. Uma e outra rachadura, sempre num lugar novo, às vezes pequena e às vezes gigantesca, ela me fez descer aquela montanha alta onde eu tinha me escondido, me trouxe para o sol, para as coisas lindas que este mundo ainda tem. Casei com uma deusa, que me deu uma deusa-bebê de presente e, sim, novamente, minha vida foi totalmente transformada por uma garota.
Ziv. O meu amor. A minha luz de fada, o raio de sol dos nossos dias...”
— Você tem certeza de que quer fazer isso? — Chloe lhe perguntou, sentada entre suas pernas, com um cubo mágico em mãos.
— Fiz em quarenta e três segundos — Brenda se vangloriou e Chloe sorriu.
— É que sou muito, muito boa nisso mesmo.
— Muito boa?
Ela gargalhou.
— Está bem, quer embaralhar mais ou acha que está suficiente?
— Suficiente. Pronto, vou colocar o cronometro no celular, três, dois, um e, vai!
Ela foi, com dedos furiosos e olhos atentos, girando e girando o cubo, achando, fazendo, desfazendo, ajustando, com rapidez, estratégia. O som do cubo girando, encaixando, os olhos de Brenda no cronômetro e nela. Estavam casadas todo aquele tempo e nunca havia colocado um cubo mágico nas mãos daquela nerd artista.
— Três, dois e... — Ela girou, girou e girou apenas mais uma vez, pronto — Um — Ela terminou e Brenda teve uma crise de riso — Quê? Quanto tempo foi?!
— Vinte e nove segundos.
— Sério?! — Ela riu alto demais, se virando para cima de Brenda, estando no corpo dela o tempo todo — E olha que eu não toco em um desses há uns dez anos!
— Eu desconfiava que você era boa nisso.
— Ah, desconfiava? Por quê?
— Você é muito boa de cama — Confessou, fazendo Chloe agarrá-la e beijá-la sem conseguir parar de rir.
— O que uma coisa tem a ver com a outra, Brenda Rippi?
— Mulheres são cubos mágicos, você tem que descobrir como encaixar as camadas...
Agora, Chloe a olhava sem acreditar.
— É por isso que elas caem em cima de você com enorme facilidade.
— Porque sou uma nerd que resolve cubos mágicos, é, eu acho que é isso.
Tinha dias que Chloe não conseguia acreditar na esposa que tinha. E amava que ela assim fosse, linda, leve, tão cheia de luz. Era sua garota na luz, era isso, era tudo.

Notas da Autora: Tessa Reis
Brenda Rippi nunca vem sem entretenimento!
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Grande beijo! 💋
❤️
Casal apaixonante 😍 eu amoooo!
Hihihiii amando demais essas histórias aleatórias, chega bate uma saudades delas 🥺
perfeitas demais!! quando a gnt ve, ja estamos sorrindo demais para essas lindas 😍
''Vontade de não dar sentido algum às coisas, as palavras e à própria vida. Assim como é a vida na realidade ausente de sentido. '' Hilda De Almeida Prado Hilst, Escritora.