Acróstico
Presley dirigiu para fora da academia e, em seguida, dirigiu por mais duas ruas e encontrou o estacionamento de uma farmácia para parar. Precisava se acalmar, precisava respirar fundo e entender por que estava tendo todas aquelas reações por coisas tão... simples. Um beijo no rosto, de uma amiga, chegava mesmo a ser ridículo. Olhou pelo retrovisor, e Aika estava sinalizando.
— Tudo bem, filha, é só... uma dor de cabeça — Sinalizou de modo que ela pudesse ver no retrovisor.
"Posso ficar com essa roupa?" Era o quimono; ela estava de camiseta e com a calça do quimono ainda.
— É seu. Hanni deu para você.
"Quando, quarta?" Sorriso de Presley. Uma construção de frase altamente dentro do idioma coreano. Como nunca havia notado isso? Que devia ser mais simples para Aika?
— Amanhã e, então, o dia seguinte é quarta — Presley apertou os lábios, respirando fundo. O beijo seguia queimando em seu rosto e não era a única coisa que sentia queimando. A proximidade com Hanni naquele tatame tinha a deixado... sentindo demais. E sabia que não tinha a ver com o jiu-jitsu, nada disso estava acontecendo com nenhuma pessoa naquele tatame. Era algo exclusivo de Presley, ela estava com tesão? Era isso? O contato com Hanni havia causado...?
“Fome, mamãe.” Aika sinalizou, tirando Presley dos seus pensamentos.
— Ah, sim, filha... — Mexeu na sacola que havia comprado na cafeteria, abriu um pacotinho de biscoitos e deu para ela — Aqui.
Ia matar a fome dela até chegarem.
Outra longa respiração; melhor ir para casa mesmo.
Dirigiu para casa. Auckland era linda também à noite, com os prédios todos acesos e o movimento nas ruas. Pegou a Harbour Bridge com muitos pensamentos cruzando a sua mente em diversas direções. Presley sempre havia sido fascinada por poemas acrósticos. Era fascinada por design, e o que adorava em poemas acrósticos era a capacidade de poder lê-los em direções diferentes e encontrar outras mensagens.
O dia repassava na sua mente: a fuga de Aika, o primeiro contato com Hanni, cada pequeno contato depois deste, a mão dela em seu cotovelo em algum momento, na sua mão, em outro, os dedos dela correndo por cima dos seus, o toque no seu calcanhar, seu corpo dentro do dela naquele tatame, os braços firmes, as mãos firmes, aquele abdômen. Tão muscular e, ao mesmo tempo, tão suave, tão feminino, duas linhas verticais marcadinhas, uma coisa! Precisava parar de pensar.
Por Deus, precisava.
Chegou em casa, e o cheiro forte de fumaça interrompeu todos os seus pensamentos. Uma pequena parte sua teve esperanças de que talvez Leo tivesse chegado mais cedo, limpado parte da bagunça, mas obviamente, nem havia sinal dele em casa. Então correu, colocou Aika no banho e fez sua filha jurar que seria boazinha, que não destruiria nada, porque Presley tinha muita coisa para resolver. Ela jurou, então a deixou no banho e correu para a cozinha, abrindo cada entrada de ar possível, limpando enquanto cuidava do jantar; era isso que havia queimado. Presley tentou adiantar o jantar antes de sair, mas enfim. Então correu com tudo, colocou outro jantar para fazer, conseguiu limpar a pia e terminar o banho de sua filha ao mesmo tempo.
E ela tinha se comportado. Tinha até tomado banho certinho sozinha. Então, Presley colocou uma lasanha no forno e foi tirá-la do banho, vesti-la em um de seus pijaminhas. Aika amava animações e live actions, de Guardiões da Galáxia a Pokémon. Naquela noite, ela pediu pelo pijaminha de Charmander e agarrou sua Bulbassauro de pelúcia.
“Desenho?” Aika pediu.
— Desenho, você merece desenho enquanto espera o jantar — Presley a pegou no colo, a colocou no sofá da sala, ligou a TV, achou algo que sabia que ela adorava, colocou as legendas. Era uma briga recorrente; Leo tirava as legendas da TV e não lembrava de colocar de volta. Enfim, a deixou assistindo enquanto foi terminar o que precisava na cozinha.
Tirou o tênis, enrolou a calça jeans, deu uma olhadinha para a sala; sua filha seguia sentadinha assistindo à TV. Geralmente, Aika teria lutado para não entrar no banho e, depois do banho tomado, deveria estar correndo pela casa em busca de algo para fazer, mas naquela noite ela parecia só... mais calma.
Leo finalmente chegou enquanto Presley lavava o chão da cozinha. Quase dez da noite, de terno cinza, camisa branca por dentro, os cabelos escuros curtos, topete arrumado, alto, os olhos kowis, puxados, porém bem maiores do que os olhos coreanos. Chegou e abriu um sorriso, foi para o sofá, deu um beijo em Aika, que imediatamente começou a sinalizar para ele, sinalizar e sinalizar, empolgada demais.
— O quê? O que foi, filha? — Não, ele não estava entendendo. Aika o pegou pela mão e arrastou seu pai para o quarto, onde pegou o quimono e mostrou — Oh, você...? Fez uma aula? Karatê? — Os dedinhos voaram pelo ar, soletrando jiu-jitsu — É taekwondo?
Presley apenas esperou. Dois minutos e ele estava entrando na cozinha com Aika no colo.
— Pres, o que ela está tentando me contar?
— Provavelmente que ela teve uma aula de jiu-jitsu hoje e adorou.
— Jiu-jitsu? Tipo Gordon Ryan?
— Quem é Gordon Ryan?
— Aquele cara grandão, do UFC!
— Humm, pode ser — Disse, esfregando o chão — Leo, você podia tirar esse terno e me ajudar aqui, né? Estou com fome.
— Eu também estou, mas eu realmente preciso tomar um banho primeiro. Meu dia foi muito corrido, você não faz ideia.
E assim, ele devolveu a criança para o sofá e apenas entrou para o quarto, deixando Presley... Não adiantou respirar fundo.
— Sim, meu dia foi supertranquilo. Eu sou UMA ESPOSA-TROFÉU, conhece esse conceito? — Gritou, para ele ouvir — Eu só não tenho o dinheiro que uma esposa-troféu geralmente tem!
— Pres, por favor! Você quer discutir agora mesmo? — Ele retrucou do quarto.
— Não, eu só quero terminar de limpar essa cozinha e jantar em paz, na verdade — Bufou. O que Hanni estaria fazendo agora? Provavelmente saindo com a tal de Taylor, a aluna graduada. Ela tinha ficado esperando por ela, havia descido da academia, mas Presley a encontrou na cafeteria. É o que pessoas jovens geralmente fazem para finalizar suas noites. Presley amava sua filha mais do que tudo, mas às vezes pensava no que perdera por aquele caminho.
Eram jovens, sabiam que eram jovens. Presley e Leo eram o casal mais jovem daquela vizinhança em idade, mas pouco se diferenciavam dos outros em termos de ações. Leo nunca foi exatamente o tipo de Presley; ele era o tipo de cara que ia de terno para a faculdade, sempre tão alinhado, tão aplicado, bonito? Sim, sempre havia sido. Aliana e Leo eram populares na faculdade justamente por isso, o gene da beleza. Presley tinha se atraído pela beleza, porque beleza sempre a atraíra, mas não fazia ideia de que beleza podia se tornar tão... tediosa com o passar do tempo. Eles costumavam se divertir juntos; lembrava-se de que costumavam. Mas as coisas haviam mudado drasticamente desde o nascimento de Aika.
Presley sempre gostou de sair, era uma garota festeira. Onde tinha uma festa, ela costumava estar, mas de repente, as coisas mudaram tão rápido que ela nem viu exatamente passar. Veio a gravidez. Veio o casamento. Vieram outras coisas para se ocupar. Leo tinha se formado recentemente, mas havia conseguido uma grande oportunidade na IBM. Ele era engenheiro de software, especialista em projetos. Ela sequer tinha se formado ainda e não formaria. Leo full time na tal oportunidade. O financiamento da casa veio logo em seguida. A casa foi comprada, o imóvel precisava estar pronto para quando o bebê chegasse, e este se tornou o trabalho de Presley. Cada detalhe daquela casa tinha sido pensado e executado por ela, e ela gostou mesmo de fazer isso, o que a fez se sentir estranha, lembrava-se. Lembrava que, em algum momento, pensou estar parecida com a sua mãe, pensando apenas em casa, casamento e bebês, mas achou que seria momentâneo.
Então, Aika nasceu, e foi maravilhoso. E aí, ela ficou doente, e houve apenas desespero e dor. E ausência. Leo seguia focado na carreira, cavando oportunidades, e Presley entendia; eles precisavam de dinheiro para a casa, os carros, e agora, para Aika. Ter um bebê que precisava de atenção médica constante não era nada barato, então assumiu essa posição também. Ela cuidava de Aika, e Leo provinha. Ela o via tentando, chegando no hospital tarde da noite para ficar ao lado de Presley uma noite e outra. Via que ele tentava se multiplicar ao máximo possível, mas ainda assim, era pouco. Ainda assim, parecia insuficiente. E definitivamente, algo se quebrou quando descobriram que Aika estava surda. Algo quebrou no homem com quem Presley tinha se casado. Ele tinha planos, claro que tinha planos; todo pai tem, e nenhum deles incluía uma surdez inesperada. Isso quebrou nele. E isso quebrou Presley também, porque mudou nela drasticamente, o jeito que olhava para o seu marido.
Leo deprimiu por meses. Tornou-se quase um zumbi. Ia trabalhar, voltava e chorava. Tinha crises de pânico e tinha medo. Presley também tinha tudo isso, mas sabia que precisava ser forte por sua filha. Foi difícil convencer Leo de que ele precisava de ajuda. Mas quando finalmente conseguiu, com o tempo, Presley começou a perceber algum efeito. Ele havia reagido, porém, aparentemente, não sabia mais como ser pai de Aika. Com o passar do tempo, isso foi ficando mais distante ainda, conforme a pequena crescia e se provava desafiadora, mais medo Leo parecia ter.
Ele tentou aprender a língua de sinais quando Aika começou a aprender, durante o seu primeiro ano. Mas não tinha tempo e nem muito jeito para isso. Com pouquíssima insistência, ele acabou deixando de lado, e uma parte de Presley realmente desconfiava que Leo ter se tornado um workaholic de último nível tinha a ver com ele não querer estar em casa, porque não sabia como lidar com a filha.
Sabia que Leo amava Aika com tudo o que ele tinha. Mas seu marido nunca aprendeu que o amor também exige esforço.
Pronto, cozinha limpa. Presley foi tomar banho no banheiro de Aika, deu uma olhadinha nela; ela estava muito comportada e quase pegando no sono, abraçada na Bubu, a senhorita Bulbassauro. Então, voltou para a cozinha, fez um copinho de leite para sua menina, leite com um pouquinho de cacau, colocou no copinho e deu para ela. Finalmente, foi para o banho. Quando saiu, Aika estava dormindo no sofá, e Leo estava comendo ao lado dela, com os olhos fixos na TV, legendas desligadas. Presley foi para a cozinha, fez seu prato e sentou-se à mesa.
Silêncio.
Quebrado por ela.
— Não vai perguntar como Aika teve uma aula diferente hoje?
— Ah, sim! Como isso aconteceu? — Olhos na TV.
— Conheci uma pessoa hoje — Que salvou o nome dela com um emoji sugestivo no seu celular, decidiu deixar lá só para ver quanto tempo Leo levaria para notar — Ela dá aulas de jiu-jitsu num centro de cultura brasileira. Aika adorou, você tinha que ver, Leo! — E só de pensar nisso, seu humor mudou — Como a aula é amistosa, o jeito que ela tratou a Aika, sabe? Sem dar ênfase para a surdez. Eu fiz alguns vídeos, vou te mostrar — Pegou seu prato, seu celular e caminhou para o sofá.
— Pres, a gente já falou tanto sobre isso — Ele disse, outra garfada na comida, os olhos ainda na TV.
— Sobre atividades extras para a Aika? — Sentou-se no sofá também.
Ele finalmente olhou para Presley.
— Sobre a sua falta de aceitação sobre a condição da nossa filha. Ela não é como as outras crianças, Pres. Você a levou para essa aula hoje, mas como será? Você está trabalhando, não tem como acompanhar a Aika em algo assim.
Presley olhava para ele, sem acreditar.
— Ela consegue fazer essa aula por ela mesma, Leo, inclusive, ela fez hoje!
— Ah, a professora sabe NZSL? — É a língua de sinais neozelandesa.
— Não, ela apenas se interessou pela criança — Presley soltou o prato na mesinha de centro e levantou-se, pegando Aika no colo imediatamente.
— Pres, ei, vem aqui, a gente só está conversando!
— Não, não estamos mais — Levou Aika para o quarto, a colocou na cama e a cobriu; ela estava dormindo profundamente.
— Presley, eu só me preocupo com as expectativas que você coloca nas coisas.
— Não precisa se preocupar com isso — Voltou para a sala, pegou o prato e o celular.
— Você sabe que a Aika não é como todo mundo. Quanto mais cedo você entender isso, melhor será para ela. Não foi fácil para mim, mas entendo isso agora.
— Aika apenas não escuta como todo mundo, Leo. E está frustrada dentro desta casa, da mesma maneira que eu estou frustrada aqui dentro!
— Você voltou a trabalhar! Não era isso que queria? Eu achei que você estivesse feliz com isso.
Presley riu.
— Sabe qual é o problema aqui? Você trata nós duas como incapazes. "Ah, Aika está entediada, comprei um brinquedo para ela," e deixa a garota brincando sozinha. "Ah, minha esposa está entediada, vou deixá-la procurar um emprego de meio-período, deve resolver," então deixa tudo comigo, para que eu me vire sozinha com o resto. Aquele hospital inteiro acha que sou mãe solteira, já que você nunca foi em nenhuma consulta com ela!
— Por que será? Será que é porque estou trabalhando para pagar as consultas?
Presley o olhou diretamente nos olhos.
— É melhor se preparar para pagar um divórcio muito em breve também! — E foi embora, entrando no quarto de Aika outra vez.
— Presley! O que você está dizendo?! — Saiu atrás dela, mas quando tentou abrir a porta, estava trancada — Presley, por que você está falando disso?!
— Por nada, por absolutamente nada. Nós não temos problemas, não é? Esse casamento não está indo ladeira abaixo.
— Pres, não diga isso de novo. O que eu faria sem você e a minha filha?!
— Provavelmente, trabalharia.
Silêncio.
— Pres?
— Vai dormir, Leo, eu dormirei aqui hoje.
— Me deixa ver o vídeo. Do jiu-jitsu.
Mais silêncio. Presley enviou o vídeo para ele. E o ouviu rindo e vibrando imediatamente.
— Mas como? Olha a minha garotinha!
Presley sorriu.
— Você viu só?
— Pres, ela foi para cima de uma garota maior do que ela!
— Tem outros, vou te mandar mais.
Mandou mais vídeos, então, quando se deitou pertinho de sua filha, recebeu uma solicitação para seguir no Instagram.
yourhanni.
Abriu um sorriso. Clicou no perfil dela e, mais sorrisos. A bio dizia assim:
Hanni Manu Park
Diesel ambassador. Billabong model. Jiu-jitsu athlete.
Life is short. Let’s sing.
A vida é curta. Vamos cantar. Dois milhões de seguidores, era isso mesmo? Era isso mesmo. Presley deu uma olhadinha no perfil dela antes de aceitar o pedido para seguir, antes de permitir que Hanni visse o seu perfil de 400 seguidores, onde basicamente, Presley só postava fotos de comidas e Aika.
O perfil de Hanni era repleto de variedades: vídeos dela surfando, outros nas aulas de jiu-jitsu, Hanni em restaurantes, em viagens ao exterior, praticando diversos esportes radicais, desde escalada até wakeboard, esporte que Presley sequer ouvira falar antes. E claro, Hanni modelando para grandes marcas, como Diesel, Tom Ford, Balmain, Givenchy, Gucci, Fendi e Moschino.
Não resistiu, entrou nos stories e ela havia acabado de postar algo, estava num restaurante japonês, jantando com muitas pessoas, a graduada por perto, claro. Presley nem sabia qual havia sido a última vez que postou um story. Voltou aos vídeos dela surfando novamente, com aquelas roupas de surfista, os cabelos molhados, as pernas firmes; Hanni realmente sabia o que estava fazendo. Retornou a olhar os stories, deu uma olhadinha no ensaio que ela havia feito mais cedo, e achou vídeos dela cantando e tocando, numa praia, num palco menor, num palco bem maior, em uma varandinha; outro sorriso. Era como se fossem pessoas diferentes. Hanni era muitas pessoas e isso era atraente demais.
— Vamos lá, Presley, essa mulher nunca olharia para você — Falou consigo mesma e seu WhatsApp deu sinal.
Park Manu 🥵.
“Eu estou te vendo, sei que está olhando os meus stories...”
Presley riu demais. Sério? Era sério.
“Eu estou me perguntando como você, tão famosinha, encontrou o meu perfil doméstico escondido no fundo do Instagram dos desconhecidos profissionais.”
Ela enviou uma imagem, uma foto de Nana, a pediatra de Aika, do outro lado da mesa.
"Eu chantageei essa senhora, e ela me passou o seu Instagram. E eu não sou famosa."
"Dois milhões de seguidores!"
"Mas as pessoas não me param na rua para pedir autógrafo, graças a Deus! Famosa só no Instagram, o que ajuda a pagar as contas."
"Você sequestrou a minha pediatra!"
"Sequestrei mesmo. Essa mulher não sai de casa por nada. Ela veio com raiva, mas veio. Quero essa sua foto de perfil..."
Outro sorriso de Presley.
“Que foto?”
"Essa do perfil do Instagram. Você está morena, está sorrindo, os olhos quase fechados por causa do sorriso. Você tem um dos sorrisos mais lindos que já vi."
Presley sentiu seu rosto esquentando outra vez.
"Você tem dentes perfeitos." Presley havia notado. Eles eram perfeitos mesmo; até achou que não fossem dela, que fossem daqueles dentes produzidos que dentistas fazem. Mas eram dela mesmo. Como sabia? Aika enfiou a mão nos dentes de Hanni e bateu neles. Eram reais.
"Eu sei, mas o seu sorriso é diferente; me dá vontade de sorrir de volta. Pode mandar pra mim?"
"O quê?"
"A foto, a do perfil, eu quero ver melhor."
Presley pensou um pouco. Era uma foto tirada no último evento em que esteve, uma festa na empresa de Leo, há um ano. A foto foi tirada por um fotógrafo; por isso, deveria ter ficado tão boa, já que estava supersimples nesse dia: vestidinho, jaqueta de couro, cabelos soltos e maquiagem básica. Mas o fotógrafo começou a segui-la, insistindo por uma foto, e insistiu tanto que conseguiu. A foto mostrava Presley sorrindo amplamente, com dentes perfeitinhos e mais arredondados, o cabelo escuro emoldurando seu rosto, e os olhos quase dois risquinhos; mal dava para ver suas íris. Sabia que era uma foto bonita, profissional e com a iluminação correta, por isso a usava em quase todos os lugares que exigiam uma foto de perfil.
Mandou a foto.
"Você é muito convencida, meu Deus!" Presley escreveu para ela.
"Eu peço uma foto sua e a convencida sou eu?" Emoji de risos.
"Sim! Dizendo que sabe que seus dentes são perfeitos."
"Mas eles são! Porém, as pessoas nem acham que são meus; os seus, sim, são lindos e parecem seus. Não vai aceitar a minha solicitação de seguir?"
Respiração profunda de Presley.
"Vai seguir a minha vida sem graça. Ninguém nunca elogiou meus dentes."
"Mas o sorriso sim, eu sei."
"O sorriso sim."
"Tive que ser inovadora no elogio. Cadê o furacão Katrina?"
"Dormindo feito um anjo, acho que sua aula funcionou." Em seguida, aceitou a solicitação dela e a seguiu de volta.
"Quer dizer que a Pipe vai mesmo ter uma parceira de treino finalmente?"
"Terá! Quarta-feira, ela não vai me deixar esquecer."
Estava escrevendo outra mensagem quando seu celular tocou.
Era Hanni.
— Hum, você é uma pessoa que liga — Podia ouvir a conversa agitada na mesa, assuntos cruzados, risadas, um clima agradável.
— Às vezes, a gente precisa ouvir a voz das pessoas.
— E qual é a ocasião agora?
— Conhecer a sua voz por ligação. Eu só... — Manu saiu da mesa, afastando-se do barulho. Presley pôde perceber — Eu só quero saber se está tudo bem. Se eu te deixei desconfortável com alguma coisa. Se deixei, eu juro que não foi a minha intenção.
Centésimo sorriso de Presley no dia.
— Você fez justamente o oposto. Eu me senti muito confortável com você. Você... mudou a minha tarde. Eu estava precisando respirar um pouco, e eu sei que você notou isso. Você é boa com mães mesmo — Disse, sabendo que ela ia rir.
— Eu só quero que você saiba que, se você quiser, você fez uma amiga hoje.
Por qual raio de motivos “amiga” incomodou?
— Eu quero — Presley respondeu, pós-incômodo estranho — Mas você sabe que somos diferentes pra caramba! Temo matar você de tédio em algumas semanas.
— Ah, a vida de uma mãe de furacão nunca é tediosa! Me liga, está bem? Para o que você precisar, me quiser, qualquer coisa.
— Eu... ligo.
— Promete?
— Prometo. Hanni?
— O quê?
— Me manda um print do meu contato na sua agenda e VOCÊ NÃO PODE ALTERAR NADA ANTES.
Ela riu alto demais!
— Sem problemas, espera — Tirou o print — Tirei agora, para você ver que não fui desonesta.
Elas conversaram um pouco mais e desligaram. E Presley recebeu seu print em seguida:
Presley 🥵.
— Canalha! — Disse e sentiu suas bochechas ficarem ainda mais vermelhas.
Do que tudo aquilo se tratava?
No restaurante, Hanni tinha desligado, então foi até o banheiro para se checar no espelho. Seu rosto estava vermelho; era só isso que queria comprovar. Respirou um pouco, molhou o rosto e soltou as tranças boxeadoras. Em seguida, saiu do banheiro e foi até uma varandinha. O restaurante era todo feito com varandinhas. Encostou-se ali, vestindo calça legging e uma camiseta. Era comecinho de inverno em Auckland, mas ainda estava quente. Hanni estava toda de preto, e foi olhar o perfil de Presley.
presleynotpriscilla.
Sorriu, tinha achado doce desde quando Nana passou, e sim, era verdade, tinha saído da academia e ido sequestrar Nana em casa, porque queria o Instagram de Presley, queria mais informações sobre ela, queria continuar sua fixação nela, porque estava fixada, e Hanni tinha TDAH do tipo impulsivo, focado, que quando se interessava por algo, não conseguia ser freado. Queria ser amiga de Presley. E não queria espantá-la passando a mensagem errada. Presley era casada, e Hanni tinha realmente gostado da companhia dela, adorou as horas que tiveram juntas e AMOU Aika. O ponto fraco de Hanni sempre seriam crianças; amava os seus sobrinhos, amava crianças de modo geral. Por isso, se desdobrava para estar presente no hospital todas as segundas e sextas, se desdobrava para ter aquelas horas com eles, porque havia sido naquele lugar que Hanni se sentiu menos vazia pela primeira vez em muito tempo.
Tinha entrado naquele hospital pela primeira vez durante uma crise aguda de ansiedade. Só precisava de um lugar para parar, e quando encontrou, só precisava entrar, se esconder um pouco, enquanto se acalmava por dentro. E acabou caminhando até a brinquedoteca. Não tinha essa lembrança de ter caminhado da recepção à brinquedoteca; só sabia que tinha chegado lá de alguma forma, de alguma maneira. Passou duas horas naquele lugar, brincando com pequenos desconhecidos, e quando terminou, procurou alguém com quem falar. Era musicista, podia fazer algo com isso? Podia. Instagram. O Instagram aberto na sua frente. E as primeiras fotos do perfil de Presley a fizeram sorrir. Eram fotos e vídeos de Aika, intercalados por fotos da natureza ou fotos urbanas, mais fotos de Aika, e fotos de pratos elaborados, todos na mesma mesa. Ela deveria gostar de cozinhar; devia ser isso. Seguiu rolando para baixo, até encontrar alguma foto de Presley, poucas, mas tinha algumas. Outras versões daquela foto que adorou, algumas mais de longe, deixando ver o vestidinho, a jaqueta de couro, os saltos altos. Eram fotos profissionais; Hanni conseguia ver, e as profissionais eram tão bonitas como as fotos que vieram depois.
Aparentemente, existia um gap ali. As fotos que Hanni viu eram dos últimos dois anos, então tinha um espaço no tempo e surgiam fotos de Aika muito bebezinha, a coisa mais linda. Mais para baixo, uma foto de casal, Presley ainda no hospital, Aika nos braços, o marido ao lado dela.
— Hum, bonitinho.
Bonitinho, mas estranho; ele estava de terno na maternidade. Ok, então existia outro espaço de tempo e outra Presley. Uma Presley em festas, em viagens, em acampamentos; uma Presley correndo em buggies off-road, jogando videogames; uma estudante de design que gostava de desenhar e estava em um projeto de dança, dança e design, como comunicar design através dos movimentos da dança. Hanni não sabia muito bem quanto tempo passou assistindo vídeos de Presley dançando. As pernas firmes vinham daí, o corpo curvilíneo, com toda certeza. Mas quando saiu dos vídeos, notou as fotos de casal. Presley e Leo. O nome dele era Leo. Um casal jovem, bonito, promissor. Notou que passou por cima das fotos do casamento e de outras fotos de família; sua mente costumava ser seletiva assim. Inclusive, tinha uma foto recente, um repost: Presley, Leo e Aika em um restaurante, e a postagem tinha sido dele. "Seis anos de namoro. Não parece um casamento, é um namoro mesmo."
— Mentiroso!
— O quê? — Taylor havia acabado de entrar na varanda.
Manu se recompôs rapidamente.
— Nada, é que algumas coisas são engraçadas.
— Eu só vim ver se você está bem, percebi que não voltou para a mesa.
— Eu precisei fazer uma ligação e acabei me distraindo no Instagram.
— Tudo bem. Vamos voltar?
— Vamos. Vai indo lá que eu já te alcanço.
Taylor voltou para dentro, e Hanni deu uma olhadinha em mais um post de Presley. Era um vídeo no qual ela conversava com Aika e mostrava um poema.
"Esse é um poema acróstico, filha, e poemas acrósticos podem ser lidos em qualquer direção. É como um caça-tesouro. Você lê na direção correta, então pode ler de trás para frente, de cima para baixo ou de baixo para cima, e em qualquer direção pode encontrar algo diferente." Ela falava em vídeo e sinalizava para Aika ao mesmo tempo. "Você quer fazer um poema assim? Quer? Vamos lá!"
"Preserve the highest honour of poems dear,
Oh poor acrostic-writer: by design,
Each line of verse that you will lay down here
My name discover, line by singing line…"
"Preserve a alta honra dos poemas, minha querida, oh, pobre autor de acrósticos: por design, cada verso que você deitará aqui, meu nome em descoberta, linha por linha cantada..."
Então, leu em algumas direções diferentes e encontrou: "alto verso acróstico descoberto"; encontrou: "querido design da linha de baixo"; leu: "preserve os versos acrósticos a cada linha".
— Algumas histórias se escrevem assim, fora de ordem.
— Manu, você é esquisita pra caramba, sabia?! — De repente, outra pessoa estava na sua frente.
— Claro que não sou, Alexia!
— Claro que é! — A pegou pela mão — Vamos voltar para a mesa. Acabei de chegar e não te vi. Fiquei preocupada.
— Eu me distraí com algumas coisas.
— Eu daria metade do meu cachê de hoje pelos seus pensamentos.
— Só metade?
— Você não vale tanto assim, Park Manu.
Riu. Ela tinha um pouquinho de razão.
De baixo para cima, de trás para frente, ou na diagonal, como um jogo de palavras-cruzadas: o que significava aquele encontro que havia tido e por que ele não saía da sua cabeça?
Manu voltou para a mesa, mas sua mente foi para outro lugar.
Notas da Editora: Ana Reis
Olá! Tudo bem?
Hanni atirando e Presley querendo levar bala. hahaha
Aguardemos cenas do próximo capítulo! 🔥
Beijos! Voltamos 03/10.
E se você ainda não adquiriu Estilazo, não perca a oportunidade. Afinal, é uma história inédita de nosso site, escrita em 25 dias, com 21 capítulos, 350 páginas. E ainda se você adquirir na Pré-Venda, leva um kit virtual com conteúdos também inéditos. 🤩
Nossa como vc consegue tantas histórias interessantes Tessa?! Talento que chama…parabéns! Ja to gostando muito!
Ai ai...Sempre iniciamos com a vontade ser uma boa amizade..kkkk Mas que coisa linda essa Aika, apaixonada!😍 E que dia 03/10 chegue mais rápido.😘
Ah, gente… Aika, fofinha, tomando banho sozinha, certinho? 🥰 lindeza demais!!!
Sinceramente? A única coisa q n estou gostando é ter q esperar pelos cap, fora isso estou me apaixonando pela história 😍🫠
Hanni atiradora de elite e Pres de peito aberto sem colete ❤️ Aika 🥰
O moço de terno só tá atrapalhando msm