Cena Extra 1: High School Days
Aula de Educação Física, Escola de Ensino Médio no Bronx, anos atrás.
Existiam dias em que Brooklyn queria, simplesmente, desistir das aulas de Educação Física e ir chorar no banho.
Não entendia por que uma bailarina conceituada como ela precisava mesmo praticar outro esporte na sua escola, mas eles eram assim, não reconheciam atividades externas e naquele ano, Brooklyn decidiu por tentar algo novo e nisso, tinha ido parar no time de futebol do colégio. Até aí, tudo bem, achou que poderia fingir que estava jogando a maior parte do tempo, só não contava de ter que aturar no mesmo time, a insuportável de sua vizinha. A equipe de futebol era interclasses e, sendo assim, para sua surpresa, deu de cara com Gianni Prada logo no primeiro treino.
Ok, ela era insuportável, mas não fazia nada de muito grave, na verdade, tanto que nunca era caso de Diretoria e, sendo que não era caso, Brooklyn só podia reclamar da implicância dela consigo e das brincadeiras idiotas porque, assim, ela podia mesmo ser muito idiota. Extremamente idiota. Se você pensar na pessoa mais idiota que você conhece, pode colocar Gianni acima dela. Mas ser idiota nem sempre é uma infração, menos ainda uma infração grave, então, não encontrara uma forma de abandonar o futebol, baseada apenas no quanto sua colega de time era uma idiota.
— Brooklyn! Estou te vendo, não está correndo em campo, vamos, o jogo é sério aqui! — A treinadora gritou da lateral do campo.
Era verdade, não estava correndo, de alguma maneira, na sua mente de quem mal havia assistido a umas três partidas de futebol a vida inteira, imaginou que nada acontecesse na zaga e, quando perguntada onde jogava, havia dito que queria ser lateral. Mas ser lateral era UM INFERNO. Principalmente, quando, na verdade, a maior parte do tempo tinha que jogar contra o time titular que tinha uma tal de Gianni jogando pelo lado esquerdo.
— Agora, vai, vai, vai!
Lá vinha ela de novo e, Brooklyn foi. Mãos para trás, a cercando, e a babaca já chegava rindo, era como se o mundo fosse uma grande piada para ela. Como Brooklyn detestava aquele sorriso besta que ela mantinha o tempo inteiro.
— Sem bote, pequena Einstein?
AHHHH, como detestava aquele apelido idiota que ela tinha lhe dado!
— Cala a boca e joga, não é difícil!
— Mas, é menos emocionante se você não tenta nada — ela estava com o pé em cima da bola, puxando de um lado a outro e Brooklyn só sabia o que viria. Vivia levando dribles da idiota, que sempre outro idiota filmava e viralizava pelos grupos do colégio.
— Eu não vou me mover.
— Hum, não é uma decisão inteligente para quem tem meio metro, pequena Aristóteles.
— Aristóteles não era matemático, sua estúpida!
— Tenho que saber de tudo, também! — E ela simplesmente jogou a bola por cima de Brooklyn, subindo com o calcanhar, pegando do outro lado, daí entrou na área e marcou um gol. Mais um gol, na verdade.
Pelas suas contas, estava 4x0. E terminou 6x1.
Pronto, tortura encerrada. Brooklyn foi saindo de campo, o uniforme vermelho quase intocável. A não ser, por uma mancha em seu short, pois, na tentativa de evitar o último gol, entrara de carrinho em Gianni, que apenas a encobriu outra vez e terminou rindo, dizendo que Brooklyn era péssima motorista e tal carrinho estava desenfreado. Mas ok, só era uma péssima semana e aquela havia sido uma péssima prática. Saiu caminhando, amassando a própria nuca, estava toda dolorida dos seus ensaios de ballet e, como tudo que está ruim sempre pode piorar, só deu para ver. Deu para ver, pela sua visão periférica, que seu assediador estava se aproximando.
Sim, sabia muito bem que este era o nome do que ele fazia, com as conversas desagradáveis e desrespeitosas, com os toques que ela não permita, com as aproximações que ela já havia dito que não queria, muito claramente. Não se sentia segura com ele. E partilhava várias aulas com ele. Já havia ido à Diretoria, mas o caso foi tido apenas como “coisa de garoto”, ele estava apaixonado e não deveria saber lidar com isso muito bem. Pedira, também, ajuda do seu irmão, ele havia dito que ia resolver, mas nada, nunca resolvia. E quando acelerou o passo para se afastar do tal garoto...
Levou uma jatada de água bem no meio da cara.
Olhou para frente e era Gianni Prada, com duas armas d’água. Ela estava correndo pelo campo e molhando todas as garotas, algumas ficavam irritadas, mas nem era de verdade e a maioria só estava se divertindo com a guerra de água inesperada. Mas Brooklyn...
— Ei, ei! Você quer manter a calma?!
E sim, a atacante grandalhona, artilheira da escola, saiu correndo em desespero porque a mini bailarina havia decidido correr atrás dela. E parecia furiosa.
Brooklyn não sabia explicar o motivo de ter saído correndo atrás dela. Sim, estava irritada, mas não era apenas por isso a sua explosão. Fazia quase um ano que estavam dividindo aquele time e as perturbações que sempre existiram agora haviam dobrado, uma vez que Brooklyn e Gianni se encontravam muito mais vezes do que antes. Outro detalhe, era Halloween e amava o Halloween, porém, tudo estava trabalhando naquele ano para que não pudesse curtir a sua festa preferida de maneira tranquila. E tinha o garoto. Que não parava de perturbar. No final das contas, depois, se daria conta de que, talvez só tivesse corrido atrás dela pelo campo para ir para longe dele; mas não conseguia explicar o motivo para que, no meio da corrida, tivesse só decidido...
Dar outro carrinho nela.
Mas desta vez acertou em cheio.
Brooklyn deslizou pela grama e, de alguma maneira, derrubou Gianni direto numa enorme poça de lama. E foi uma baita queda.
— Ah, não — Estava pronta para se desculpar pelo seu excesso quando...
Ela se virou na lama e atirou em Brooklyn de novo, agora com uma segunda arma que disparou...
Glitter.
— A arma de água é para as chatas, a de glitter é apenas para as divertidas! — Ela disse, rindo demais — Você finalmente acertou um carrinho, pequena Einstein!
Brooklyn se colocou de pé, tentando se livrar de metade do glitter, mas não daria certo, estava pela sua cara, pelo seu cabelo e iria se espalhar pelo seu corpo inteiro, apenas sabia.
— Você é muito idiota mesmo!
Não disse mais nada, apenas marchou para o vestiário, ainda tinha aula de ballet para ir, não podia chegar lá toda brilhando. Quem tem uma arma com glitter? Só uma idiota como aquela mesmo. Ouviu que ela seguiu rindo, seguindo na festa das pistolas de água pelo campo, mesmo coberta de lama. Bem, ao menos, ela não faria uma queixa. E poderia, Brooklyn tinha mesmo se excedido, mas enfim, não andava exatamente no comando dos seus nervos ultimamente.
Entrou no vestiário e tomou um banho longo, achou que seria mais dificultoso tirar o glitter, mas saiu tudo com água e sabão. Pronto, saiu, abriu sua bolsa do ballet, colocou sua lingerie, calça moletom e quando estava quase terminando, ouviu alguém entrando. Ótimo, era Gianni.
— O glitter saiu fácil, não é? Penso nas pessoas com quem decido brincar, pequena... Alan Turing.
— Hum, esse é um matemático ao menos.
— Se você soubesse como me irrita eu estar falando com você e você ficar de costas para mim...
Estava de costas para ela. Bem, havia colocado uma blusa de botões e um agasalho por cima, mas ainda não tinha fechado. E Gianni seguiu falando e falando, e reclamando e zoando, falando da sua falta de humor, dizendo que tinha certeza de que para os nerds do clube de matemática ela deveria sorrir, mas para o time de futebol era...
— A mesma cara de “eu odeio estar aqui”, sendo que ninguém te convidou para vir, você veio porque quis e...
— Você quer calar a boca, por favor?!
— Não, porque sou a capitã da equipe e não sou obrigada a ficar olhando para sua cara de constipação sempre que...!
Gianni se calou. Brooklyn tinha dado dois passos em direção a ela e simplesmente, aberto as blusas que usava, mostrando os seios num sutiã justinho, preto, uma coisa e aquele par de seios...
Como que podia aquela nerd...?
— Nossa, ficou calada de repente — E enfim, um sorriso de Brooklyn — Como pode ser tão vagabunda...
Gianni não ficou apta a dizer mais coisa nenhuma. Aliás, não se sentiu apta a falar durante o seu banho e nem durante o seu caminho para casa, como que...? Aqueles seios lindos, aquele abdômen e aquela atitude. Como que ela tinha só...? Foi tão inesperado que Gianni não se sentiu à vontade para perturbá-la por uma semana toda. A via passando e suas piadas, de repente, haviam desaparecido. Cruzava com ela no vestiário e ficava nervosa, no futebol? Tinha, inclusive, pisado na bola e caído no próximo jogo-treino que tiveram bem na frente dela.
— Ela desconfigurou você! Isso nunca vai deixar de ser engraçado... — Laís estava rindo sem conseguir parar depois que Gianni contou sobre... o vestiário.
— Ela só me pegou desprevenida.
— E é uma gostosa e você é vagabunda mesmo.
— Espera, você já tinha notado que...?
— Ela é uma gostosa? Claro que sim, ela fica uma delícia... Ali, olha! Naquele tipo de look — Brooklyn havia chegado no pátio, provavelmente, saída de uma das aulas de ballet. Estava de collant branco, minissaia cor de rosa, meia-calça, tênis nos pés, a tiara no cabelo era algo totalmente desnecessário, ela ficava ainda mais boa menina e um absurdo de bonita — Os look do ballet são... uma delícia, você nunca notou? — Ela checou o relógio — Ok, eu tenho que ir! — Deixou um beijo no rosto de sua irmã e correu, ou se atrasaria.
Gianni ficou. Abriu sua mochila, buscou sua garrafinha de água e nem saberia dizer exatamente como havia sido, ou o que tinha sentido, mas sabia o que tinha visto. Viu Brooklyn checando algo no celular e viu um garoto a pegando pelo braço, a viu tentando se desvencilhar dele e não conseguindo, ele era maior, era mais forte, a viu tentando empurrá-lo e ele a segurando, pretendendo...
Ele não pretenderia mais nada.
Gianni a arrancou das mãos dele, foi um único soco e ele estava no chão.
Daí, foi joelho nas costas dele e um único aviso:
— Quebro os seus dentes se chegar perto dela de novo.
Meia-hora depois, Brooklyn estava na porta da Diretoria, esperando Gianni sair. Estava nervosa, chorosa, assustada, não sabia muito bem o que ia acontecer, nem com ela e nem com Gianni, mas sabia que não era justo qualquer punição mais grave para ela. Falara primeiro, explicado para a Diretora mais uma vez que estava sendo assediada e que Gianni fora a única naquele colégio a... defendê-la. Ainda não acreditava que ela tinha mesmo feito aquilo e não entendia por que ela fizera, mas fizera e Brooklyn só...
Ela saiu da Diretoria e, Brooklyn a abraçou.
Apenas a abraçou, sem pensar em nada, foi um impulso, foi... algo que veio de dentro, de algum lugar que ela desconhecia.
— Obrigada, muito obrigada.
— Não... não por isso — Gianni a abraçou de volta, meio sem jeito, não estava esperando nem encontrá-la do lado de fora, menos ainda, um abraço.
— É que... ele tem...
— Tentando te beijar à força?
— Isso e...
— Não vai ficar assim, não vai acontecer nunca mais. E se você se sentir ameaçada, pode me procurar sempre.
Brooklyn a apertou mais forte, estava tão sensível com aquilo tudo.
— Obrigada... por isso também.
Gianni a olhou nos olhos depois do abraço e, ela era bonita mesmo.
— Me fala, você quer ir para casa?
— Eu... estava indo para o ballet, na verdade. Vim buscar uma lição, mas preciso retornar.
— Posso te acompanhar até o metrô?
Brooklyn olhava para ela, os lábios se apertando. Sim, ela podia. E assim, em algo que se repetiu algumas vezes, Gianni Prada acompanhou Brooklyn Romeo até o metrô, ainda que estivessem indo quase caladas. Era complexo falar, porém era... simples estarem juntas. Brooklyn jamais imaginou, durante aqueles dias em que Gianni gentilmente a acompanhava, que, na verdade, estava caminhando ao lado da sua futura esposa e, da mulher da sua vida.
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NOTAS DA AUTORA:
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Grande beijo!
Tessa
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